Ano Novo
Tempo para refletir sobre o abandono emocional aos patudos

Estilo de Vida

O Dr. Nuno Paixão, Médico Veterinário do Hospital VetCentral, fala-nos sobre aquilo que devemos assegurar aos nossos animais de estimação.

Seg, 01/01/2024 - 21:00

O Ano Novo leva a uma reflexão sobre aquilo que nos rodeia: motivações, falhas, inseguranças e projetos. Ou seja, é uma excelente altura para pensarmos em nós e nos nossos, onde se inclui, claro, os animais de estimação.

O Dr. Nuno Paixão, Médico Veterinário do Hospital VetCentral falou-nos recentemente sobre as necessidades a assegurar aos nossos animais que fazem, sim, “parte da nossa família”.

“Os nossos animais dependem de nós. Até no mais básico para se viver, dependem de nós. Para comer, para beber, para terem liberdade, para serem felizes, eles dependem por completo de nós, os elementos humanos da família. Infelizmente nem todas as famílias são iguais. Uns deixam os seus cães e gatos dormir na cama, brincar por todo o lado, com mais ou menos mimo e infelizmente outras famílias, tem os seus cães presos a corrente no fundo do quintal, sem contacto com ninguém. Sim, infelizmente ainda é verdade que temos animais abandonados emocionalmente em certas casas e famílias.
Começando pelos que estão mais próximos, o que devemos melhorar na relação com o nosso animal de companhia, o que vive connosco. O mais básico dos básicos, a sua saúde, quando foi a ultima vez que o levamos ao médico veterinário assistente? As consultas de rotina e avaliação, devem ser feita pelo menos uma vez por ano, sendo ainda mais importante e frequentes em jovens e idosos. As doenças em animais, passam despercebidas pelos seus detentores e muitos casos e nas fases mais precoces. Infelizmente para muitos de nós, e felizmente para outros, os nossos animais ainda não falam. Não são capazes de verbalizar as suas dores e as suas maleitas. Assim, o acompanhamento por um profissional capacitado e competente, é fundamental para se prevenir ou detectar no início, onde os tratamentos podem ser mais efectivos.
Está a cumprir a Lei referente aos seus animais? Atenção, pois as coimas e multas podem ser significativas. A nossa legislação em Portugal, obriga a que todos os cães, gatos e furões, estejam identificados electronicamente com um “chip”, tenha a vacinação contra a raiva em dia. Se o seu cão é considerado um cão perigoso ou potenciamente perigoso, então as complicações adensam se.

O mais básico dos básicos para protegermos os nossos cães, as vacinas em dia, que previnem doenças que podem ser fatais. Hoje em dia há uma grande variedade de vacinas, que deve discutir com o seu médico veterinário assistente e determinar um plano que seja o mais adequado para o local onde vive e para o seu animal. Não se esqueça que a desparasitação também é fundamental para assegurar a saúde dos nossos animais e a nossa. Em certas situações a desparasitação poderá ser feita de 6 em 6 meses, em outras de 4 em 4 meses ou se necessário com outras frequências. A desparasitação, é um acto médico e deve ser discutida com o seu médico veterinário. Quem melhor conhece o seu animal é o seu detentor ou tutor, sem duvida, mas a melhor pessoa para o acompanhar nesta luta de protecção do seu animal, é sem duvida o seu médico veterinário assistente.
Escolha um médico veterinário assistente e um centro de atendimento médico veterinário em que confie. A confiança é fundamental para o sucesso. Cuidar da saúde dos nossos animais, implica um triângulo de confiança, de dedicação, de competência de preocupação e de conhecimento, formado pelo seu animal, pelo detentor e pelo profissional de saúde animal.
Depois, devemos pensar em que condições os nossos animais de companhia vivem. Têm conforto? Vivem no quintal isolados de outros animais? Vivem á corrente? Têm contactos sociais? Infelizmente há pessoas que abandonam emocionalmente os animais de companhia. Eles são de companhia porque são sociais, precisam de interagir, precisam de se relacionar. Não proporcionando um bom ambiente social, não interagindo de forma frequente e duradoura com eles, é abandono emocional. Falamos muito do abandono nas ruas, no mato de cães, gatos e outros animais, mas infelizmente também há abandono dentro das nossas casas. Animais que não tem asseguradas as necessidades básicas emocionais, mentais e sociais. Até podem ter boa alimentação, água, uma boa cama, mas ficam isolados sem contacto com outros animais e isso é tão devastador como o abandono físico na rua. Por isso, recomendo, pense em quanto tempo de qualidade passa com o seu animal? O que fazem juntos? Os cães fazem passeios em que há interacção? Quando alguém vai passear o seu cão, brinca e interage com ele, ou deixo o sozinho enquanto estamos ao telefone?”

Animais de estimação: a responsabilidade é nossa!

“Ao trazermos para nossa casa, qualquer animal que seja, temos a responsabilidade de garantir todas as suas necessidades, físicas, mentais, emocionais e sociais. Se tem um “peixinho dourado”, só um, num aquário redondo, garanto-lhe que está a atentar contra o bem-estar desse animal. Vivem em cardumes, por isso, um sozinho, já esta a causar sofrimento social. Necessitam de muito espaço, muitos litros e volume de água, por isso, não está a garantir as necessidades físicas de ambiente desse animal. Infelizmente muita gente tem animais na sua casa e não percebe o sofrimento que lhes causa, por ignorância, por isso mais uma vez, fale com o seu médico veterinário assistente e/ou pessoas capacitadas e melhore o seu conhecimento.

Garanta protecção, alimentação, saúde, estímulo mental e social aos seus animais, de forma adequada á espécie em questão. Compre uma boa cama, um bom caixote de areia para o seu gato, assegure que tem tudo em número suficiente. Não espere que os seus gatos fiquem felizes em partilhar caixotes de areia para as suas necessidades. O número de caixotes de areia recomendado, é um por cada gato, mais um caixote acima desse número. A água e alimentação deve ser de boa qualidade e de preferência água corrente ou que não esteja muito tempo parada.
Sei bem que pode ser desesperante, trabalharmos 10 ou 12 horas por dia e quando chegamos a casa, ainda temos que cuidar dos nossos animais, dar atenção ao cão que está eufórico a ladrar, saltar ganir, etc. Mas eles, apenas estão felizes por finalmente terem contacto social, por interagir com os outros elementos da família. Se não consegue garantir as necessidades mínimas emocionais e sociais, então tome a decisão de não deter animais em sua posse. Não podemos ser nós a razão e causa de sofrimento dos nossos animais.
A saúde física e muito importante, mas a saúde mental também é importante. Fomos nos que trouxemos os animais para as nossas casas. São seres de carne e osso, mas também têm sentimentos e emoções. Temos obrigação moral, e diria mesmo legal, de garantir o bem estar físico e mental dos nossos animais. Temos obrigação de assegurar, que tal como nós, caminhamos juntos para a felicidade. Sei bem que é difícil de definir o que é ser feliz, para nós mesmos, então saber o que faz uma animal feliz ainda é mais difícil, mas todos podemos lutar pela felicidade nossa e deles.
Como já o referi anteriormente, a prevenção das doenças é o mais importante. A detecção de doenças o mais precoce possível, permite nos ter maiores probabilidades de sucesso no tratamento e sem dúvida que nos poupa grandes despesas.
Não nos iludamos, a medicina, humana e veterinária, é cara. Os equipamentos são caros, as infra estruturas são caras, os medicamentos e produtos são caros. Vamos esperar que sejam caros, porque são de qualidade. Os profissionais de saúde, são caros. São caros, porque tem de se manter constamente actualizados, gastam rios de dinheiro em cursos, em livros, revistas da especialidade em busca constante pelo conhecimento e como salvar os nossos animais. Por isso, prepare uma conta poupança para o caso de um dos seus animais adoecer. Procure seguros de saúde para os seus animais, seja prevenido e prepare se para o pior.”

E “os que andam lá fora”?

“Para terminar, também devemos olhar para os mais desprotegidos, os que andam lá fora. Na rua, nos jardins! O que poderemos fazer por eles? Os que vivem em abrigos e associações? Como os poderemos ajudar? Neste campo, recomendo a que visitem associações de protecção animal, um abrigo de animais e doem uma hora por mês, da vossa vida e vão passear um destes animais, deem um banho, brinquem com um destes animais, permitam que eles tenham contacto social, motivação mental para vencer mais um dia. Os nossos animais de companhia, precisam de companhia. Esta relação é de dois sentidos, eles fazem-nos companhia, é verdade, mas nós também temos de garantir que eles também têm companhia. Juntem se a um grupo informal de protecção animal que haja na vossa região. Não há? Formem um, contactem o vosso município e aprendam legislação, formas de ajudar o próximo.

Por fim, questionem se o que podem fazer pelos que estão mais distantes, sejam eles animais de companhia, domésticos, de pecuária ou silvestres. Que lutam podem abraçar na sua defesa? Que podemos fazer para ajudar o nosso Lince Ibérico? O que podemos fazer para proteger as nossas Salamandras de serem atropeladas nas noites de chuva? Temos tanto a fazer pelo próximo, quer o próximo tenha duas ou quatro patas.
Sei que muitas vezes quem ajuda animais, é acusado de não ajudar humanos e por isso não gostar de pessoas. Óbvio que isso é ridículo, quem ajuda o próximo, ajuda e pronto, quem ajuda animais, está a ajudar pessoas. Ajudamos as pessoas através dos animais, quer seja de forma mais directa ou indirecta!”

Fotos: D.r.

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