Vanda Miranda abre o coração à VIP
«Sempre fui um ser muito precoce e independente»

Nacional

É uma cara bem conhecida do público, mas sabe-se muito pouco sobre a sua vida. Em exclusivo à VIP, Vanda Miranda fala sobre a polémica transição de estação de rádio, sobre os filhos, as frustrações, as rotinas difíceis de gerir e desvenda, ainda, os sonhos que espera conseguir cumprir

Dom, 05/05/2019 - 9:18

Com a gargalhada sempre pronta a surgir, Vanda Miranda veio ao encontro da VIP disposta a abrir o coração. Numa conversa recheada de confissões, a animadora da M80 permitiu-se contar os pormenores mais desconhecidos de uma vida marcada pela independência. A mesma que a empurrou para fora da casa dos pais aos 17 anos e que fez com que engravidasse aos 22, ainda que nada disto estivesse nos planos. 

Hoje, os filhos, Sofia, de 24 anos, e Tiago, de 10, são o grande orgulho, mas também o maior desafio. Pouco dada à exposição pública de emoções, assume-se uma pessoa tímida e com uma auto-estima que já precisava de um impulso… 

Revista VIP – O público sabe quem é a Vanda Miranda, mas não conhece muito sobre a sua vida. Afinal, quem é que está, verdadeiramente, por trás desse sorriso?
Vanda Miranda – Não sou muito boa para falar de mim. Não é uma coisa que faça assim com muita facilidade. Uma pessoa, hoje em dia, também com as redes sociais, acaba por revelar muito da vida privada, embora ache que nós já fazemos muito isso na rádio. Porque, quando se faz programa da manhã – e eu já faço há 12 anos – mesmo que não queiramos, acabamos por falar muito da nossa vida.

Essa espontaneidade revela-a?
É tão espontâneo… Eu acho que as pessoas sabem que tenho dois filhos, que gosto de cozinhar, que gosto de bricolage, ultimamente tenho-me dedicado muito a isso, porque é um hobbie. Fi-lo de uma forma, não digo profissional, mas com tutoriais, com coisas no meu blogue.

Como é que surgiu a ideia de alimentar um blogue?
Eu sempre gostei muito de decoração. Quando era miúda, lembro-me que alterava constantemente a decoração do meu quarto. Felizmente, os meus pais eram porreiros nisso e pactuavam. Saí de casa dos meus pais cedo, tinha uns 19 ou 20 anos, portanto, como comecei logo a fazer as minhas casas, isso levou-me a puxar essa veia da decoração. Curiosamente, eu não era nada boa em trabalhos manuais na escola. Comecei por aquelas coisas mais fáceis: lixar e pintar móveis, encontrar coisas na rua, que a minha filha diz sempre: ‘ai que vergonha, estás sempre a parar o carro e a levar coisas velhas para casa’. (risos). Comecei por aí e também um bocadinho para mostrar que é mentira que nós mulheres não saibamos trabalhar com um berbequim, com uma lixadora ou uma aparafusadora. Adoro jardinagem e adoro mesmo sujar as mãos. 

Mas a verdade é que a sua ocupação profissional é bem diferente. Por que escolheu a rádio?
A rádio surgiu há muito tempo… Eu tinha 17 anos. Estava no liceu e estava na área de jornalismo, mas nunca tinha pensado na vida ser jornalista. Aliás, o jornalismo resumiu-se ali a um ou dois anos a ler notícias, porque depois acabei por passar àquilo a que nós chamamos a animação, que é ser animadora de rádio de um programa. Eu nunca planeei a minha vida profissional. As coisas foram acontecendo muito naturalmente. 

E manteve-se até hoje.

Fui recebendo convites e passando de uma rádio para outra. As coisas foram crescendo e eu própria às vezes penso assim: ‘como é que isto se deu?’ Ainda há pouco tempo eu dizia e é a mais pura verdade: nunca pensei ir, para a rádio porque quero ser conhecida ou famosa. O que me aconteceu foi um descobrir. Descobri que afinal, se calhar, tinha jeito para fazer aquilo. E ainda não fiz mais nada, profissionalmente. 

Nunca teve vontade de substituir a Rádio pela Televisão?
Nunca pensei nisso muito a sério. Há uns quinze, cheguei a apresentar um programa de música na TVI, que dava ao sábado de manhã. Lembro-me que gostei imenso da experiência, porque tinha muito a ver comigo. E foi muito gira essa experiência, mas nunca andei atrás, nunca foi um sonho que eu perseguisse. E no fundo, no fundo, eu sou uma pessoa tímida, mas não se nota. As pessoas dizem-me ‘falas para milhares de pessoas’, mas nós guardamos sempre para nós os traços mais vincados da nossa personalidade. A rádio dá-me a oportunidade de comunicar para muita gente, mas estou ali escondida.  E eu gosto que as pessoas se aproximem de mim, apesar de tudo, a minha timidez não me torna antissocial. Eu gosto de conversar, eu gosto que as pessoas me abordem, não me chateia nada. 

Gosta de ser abordada na rua?
As pessoas abordam-me muito e isso é uma coisa que eu gosto muito, porque eu acho que se a pessoa se sente à vontade para nos abordar no meio da rua, no meio das nossas tarefas, é porque criou ali uma proximidade. 

Aos 47 anos…
Não! Eu tenho 20 + 27! (ri-se) Desde que eu fiz quarenta, digo: «eu tenho 40 e tal».

Como é que se sente?
As pessoas têm muito essa conversa: os 40 são os novos 30. Não são! Eu sou uma pessoa otimista, mas também não é preciso exagerarmos. A idade também traz outras coisas: menos energia… Não é necessariamente mau, mas também não me venham cá com coisas a dizer: «não, eu tenho 47, mas sinto-me com 27.» Qual quê? Às vezes, já me sinto aqui com umas dores. (ri-se) Gosto de dizer que tenho 40 e tal, que é para não pensar muito nisso. 47 já parece muito…
Assusta saber que já está perto dos 50?
Assusta. Não vou nada entrar nesse discurso politicamente correto do ‘ai não, que eu sinto-me maravilhosa. Ai, que maturidade!’ Sim, assusta um bocadinho, é verdade, é o número… 

Já sente que a força da gravidade é, de facto, implacável?
Claro que sim. Eu agora já uso cremes para as rugas. Nós temos que começar a lidar, acima de tudo, com as mudanças da nossa imagem ao espelho. Se não houvesse espelhos, nós éramos todos muito mais felizes, porque não nos estávamos a ver constantemente. Os anos vão passando. E tentar não deprimir com isso, mas é inevitável. 

Como se combate a falta de energia e a degradação da imagem? Já desenvolveu estratégias?
Eu nunca fui muito cuidadosa comigo, mas há coisas que não dispenso. Por exemplo: eu uso todas as manhãs um creme de dia, é quase como lavar os dentes. Não consigo sair de casa de cara lavada. Por falar em cara lavada… Lavar a cara com água fresca logo de manhã, porque eu, ainda por cima, acordo às 5h30 da manhã, e ajuda logo a desinchar e a tirar um bocado o ar de sono. 

É uma pessoa vaidosa?
Eu sempre gostei muito de saltos altos, eu gosto de roupa, acho é que gosto de uma forma muito moderada, não vivo para a imagem. Não ando constantemente obcecada com isso. Até me cuido mais durante a semana, porque, lá está, vou trabalhar. E, na rádio, também já tenho de me preocupar com a imagem. Mas, muitas vezes, especialmente no verão, vou muito para o campo, porque tenho o meu refúgio de fim de semana e adoro andar de calções e de ténis e de cara lavada. 

 E como é a Vanda enquanto mãe? Mantém uma postura semelhante?
Os meus filhos dizem-me, muitas vezes, que eu sou muito mais bem-disposta e animada na rádio do que em casa. E têm toda a razão, porque, para já, a rádio é o meu trabalho e eu não digo que a boa disposição seja uma coisa encenada – que não é –, até porque era impossível, durante tantos anos a fazer um programa da manhã e criar uma personagem qualquer. Agora, claro, coitados, eles levam com a Vanda ao final do dia, que já está birrenta, com sono, que já não tem paciência, que já grita com o filho ‘Vai tomar banho!’. Eles brincam muito com isso e, às vezes, um para o outro dizem: ‘Olha, vês, como a mãe é na rádio, toda sorridente? E aqui em casa está sempre…’ 

Porquê?
Este horário de trabalho é muito desgastante, não é nada fácil. Implica acordar de madrugada, implica estar mentalmente disponível logo às 7h da manhã, é uma coisa violenta e eu até sou uma pessoa madrugadora… Claro que já estou mais cansada, sem paciência, mas tento não me desligar do meu papel de mãe, só porque estou cansada.  Gosto de acreditar que sou uma mãe descontraída, mas os meus filhos são muito diferentes. Eu tenho um rapaz e uma rapariga. Para já são de sexos diferentes, logo aí uma pessoa nota.

E com uma grande diferença de idades…
Com 14 anos de diferença. Eu fui mãe da Sofia aos 22, tive o Tiago aos 37. Até é interessante: ver as diferenças, porque um é homem, outro é mulher e mesmo pelo facto de serem irmãos, não significa que tenham de ser parecidos. 

Qual deles teve mais «sorte» com a mãe? Calculo que tenha sido uma mãe completamente distinta para cada um deles. 
A Sofia diz sempre que o irmão tem muito mais sorte. Ela diz constantemente: ‘Se fosse eu a fazer isso, quando tinha a idade dele, estava a ser repreendida’. E eu digo-lhe: ‘Ele vence-me pelo cansaço. Já não tenho energia…’. Ela foi uma miúda muito fácil. Eu tive muita sorte, porque com 22 anos, ainda não sabemos muito bem, às vezes, nem com mais idade, isto de ser mãe… Eu fui muito por tentativa-erro. Acho que correu bem com a Sofia, felizmente. 

E com o Tiago?
Ele é mais teimoso, é rapaz. Eu acho que os homens, logo desde pequeninos são mais exigentes connosco. 

Como é com a Vanda?
Eu sou diferente com eles, noto isso. Porque, se calhar, um precisa mais de uma coisa, outro precisa mais de outra e o que eu vou tentando perceber é que mãe é que eles precisam naquele momento. 
A Sofia ainda vive consigo?
A Sofia ainda está em casa e ela já me disse que vai ficar por lá. (risos) Se calhar faz bem… Porque se não, daqui a bocado estou a passar por aquela expressão em inglês que é o ‘emptyness’: o ninho vazio, em que dizem que as mães deprimem. Não me importo, mas isto tem tanto a ver com aquilo que se passa socialmente, que é os ordenados que não são propriamente fáceis para os miúdos saírem de casa e arranjarem casa para pagarem uma renda e arcarem com todas as despesas.  Mas, no caso da Sofia, eu até gosto de acreditar que, como não temos uma diferença de idades assim tão grande, e ela sempre gostou de fazer coisas comigo, isso também ajuda a que não sinta aquela necessidade de querer sair debaixo das asas dos pais.

Tal como aconteceu com a Vanda…
Eu senti isso, mas, curiosamente, não foi porque me sentisse de alguma forma castrada pelos meus pais. Eu acho que sempre fui um ser muito precoce e independente. Os meus pais eram porreiros. Saí de casa com 19 anos, tive a filha com 22, eu comecei a fazer rádio com 17. 

E as rebeldias dos filhos? Atormetaram-na?
Eu não passei por muitas rebeldias com a Sofia. Às vezes, até brinco com ela e digo: ‘olha, tu agora aos 20 e tal é que estás a passar pela adolescência.’ Com o rapaz, só tem 10 anos. 

Ainda tem receios?
Há coisas das quais eu tenho muito receio. O Bullying… Essas coisas preocupam-me muito e estou constantemente a tirar nabos da púcara. Às vezes, o mais eficaz não é abordar as coisas diretamente. É ir assim à volta e tentar perceber, porque, às vezes, diretamente, eles não contam. Vou tentando perceber se está tudo bem. É das coisas que mais me preocupa, por acaso, e que eu mais temo. 
Pelo facto de a mãe ser uma figura pública?
Não… Eu acho que tem a ver com… Ninguém quer que um filho sofra, não é? E quando se vê, ou em reportagem ou em entrevista certas histórias, nós percebemos que as crianças sofrem muito com aquilo.

Sei, de fonte segura, que os seus filhos não foram planeado.
Pois não. (risos) Ninguém planeia ter filhos aos 22 anos. Na geração das nossas mães ou das nossas avós isso era uma coisa mais normal. As pessoas tinham filhos muito cedo. Na minha geração não. Olhando para as minhas amigas, eu fui a primeira. Elas só tiveram filhos dez anos depois de eu ter tido a Sofia. Não, não foi planeada. Mas por acaso é engraçado, porque eu senti-me logo mãe, a partir do primeiro momento. Por acaso, fui uma mãe muito confiante. Se calhar, a ingenuidade dos 22 anos ajudou a que não fosse muito preocupada. Parece que não tinha duvidas de nada, tudo era muito natural, aconteceu muito assim.

O que é certo é que aconteceu o mesmo na segunda gravidez…
O Tiago, apesar de eu já ser mais velha, também não foi planeado. Mas eu sempre quis ter um segundo filho, isso eu tinha a certeza absoluta, que não queria ficar só com um filho. Porque eu acho que é bom termos mais alguém no mundo. Queria ter pelo menos dois filhos, porque acho a relação entre irmãos muito bonita.

Como é vivido o Dia da Mãe?
Se possível, gosto de juntar a minha mãe e os meus filhos e irmos os quatro ou almoçar fora ou lanchar. Se a minha mãe não puder estar comigo nesse dia, os meus filhos normalmente arranjam qualquer coisa, especialmente a Sofia, embora o Tiago depois diga: ‘eu também planeei isto’. Mas, normalmente, é ela e ela gosta muito de fazer surpresas. Nesse dia, pomos os homens de parte, os homens que não são os filhos, e tentamos fazer qualquer coisa só nós, sim. O Tiago faz sempre aquelas coisinhas da escola. Há sempre qualquer coisa, não passamos ao lado do Dia da Mãe. 

É um dia de grande importância para a vossa família?
Eu tenho uma relação um bocadinho como tenho com o Dia da Mulher. Por um lado, às vezes, quase que me choca termos de chamar a atenção para certas coisas com dias específicos, porque nós somos todos os dias mães. Por outro lado, também há um lado de mim que obviamente até agradece o facto de sermos um bocadinho mais mimada nesse dia. Acho que até é bonito assinalar certas datas.

Falando em experiências… O que é que lhe falta fazer?
Daqui a uns anos, se calhar dedicar-me a qualquer coisa relacionada com turismo. Adoro recuperar casas. Eu adoro casas antigas e recuperá-las. Mas é uma coisa que exige obviamente capital para o fazer… Eu estou à espera ainda que me surja um milionário na vida com quem eu case. (risos) Enquanto não o faço, tenho a minha casinha de fim de semana, ali na zona de Óbidos, para onde eu vou quase sempre, e onde vou fazendo esse meu sonho a uma escala mais pequena e quem sabe um dia, ter um bed&breakfast, uma coisa assim pequenina, mas que tenha a ver com turismo. Porque turismo também é uma forma de comunicar.

É impossível não associar a Vanda à Rádio Comercial. Como é que uma pessoa que está tão estável numa estação, de repente decide mudar?
A vida é, de facto, vivida em ciclos e nós às vezes nem nos apercebemos. E a questão de, por exemplo, voltar a fazer manhãs, que há muita gente que me pergunta isso, ‘então mas foste para a M80 e depois voltaste a fazer manhãs’. Não foi uma decisão minha, foi um convite que me fizeram e eu nem sequer estava a pensar nisso na altura. Já estava até muito satisfeita com o facto de estar a fazer uma coisa diferente, mas desafiaram-me para um projeto que seria todo idealizado por mim e isso foi uma coisa que me fez pensar.

E isso deu um novo impulso.
Deu, deu. Lembro-me que a primeira vez que me abordaram nesse sentido, eu acho que a primeira coisa que eu disse foi: ‘nem pensar! Agora que eu consigo acordar a uma hora decente?’ Mas depois comecei a pensar e pesei as coisas e cheguei à conclusão que ainda era nova para me «reformar» das manhãs, é o tal exercício de pensar se ainda tinha coisas para dar e eu achei que sim, e depois o facto de ser a anfitriã do programa. Eu tinha uma posição diferente na Rádio Comercial. Não quer dizer que não fosse boa na mesma, mas ali sou a anfitriã. E criar uma coisa de raiz foi um desafio muito bom. Eu acho que a vida precisa mesmo de, de vez em quando, nos desafiar. Portanto, não estou nada arrependida.

É sempre assim tão aventureira?
Sou uma aventureira q.b. Embora eu às vezes diga: ‘entre o prevenir e o remediar, eu prefiro remediar’, porque se estivermos sempre a prevenir, não fazemos nada. E eu estou a dizer isto e até pareço uma pessoa super corajosa, mas não. Eu tenho medo de muita coisa. 

Em que nível está a sua auto-confiança?
Eu não sou muito confiante. E se pudesse fazia uma… As mulheres da minha idade querem muito pôr silicones e botox e não-sei-quê. Eu não. Eu fazia um implante de auto-estima e um aumento de auto-confiança. Dava muito jeito. As minhas amigas dizem-me que eu não passo nada essa imagem, mas eu tenho dúvidas de tudo e mais alguma coisa. Também tenho os meus dramas, os meus fantasmas. As pessoas até dizem que eu sou de riso muito fácil e que eu não devo ter problemas.  O facto de uma pessoa rir facilmente ou ser bem-disposta, não quer de todo dizer que não tenha os seus problemas e os seus dramas.

É mulher, com filhos e com uma posição profissional que implica muito dedicação. Como é que mantém a  organização em casa?
É complicadíssimo. A arrumação, as coisas organizadas, eu já percebi que me dão tranquilidade. Eu não consigo infelizmente ter a minha vida tão organizada como gostaria. Tento dividir tarefas e educar os miúdos desde cedo… 

Podemos falar da sua vida amorosa?
Eu não falo mesmo sobre isso, porque eu acho que é mesmo a única coisa da minha vida… Porque eu falo dos meus filhos, dos meus hobbies… A minha vida amorosa é uma coisa mesmo muito minha. Há coisas que temos todo o direito de guardar para nós.

Texto: Tânia Cabral; Fotos: José Manuel Marques, Produção Zita Lopes, Cabelo e maquilhagem: All About Makeup

 

AGRADECIMENTOS: 
WoodSpace, Parque das Nações: www.woodspace.pt 
Aldo
El Corte Inglès
Parfois

 

 

 

 

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