O Dr. Alberto Lopes, Hipnoterapeuta e Neuropsicólogo das Clínicas Alberto Lopes explica-nos neste artigo o que é o síndrome do abandono.
“É ssencialmente um padrão persistente de medo de ser deixado, de não ser amado ou de ser rejeitado. Este medo não é infundado, mas sim uma repercussão direta de experiências de desapego ou perda precoce, frequentemente com figuras de ligação primárias durante a infância.
Quando uma criança se sente abandonada, seja emocional ou fisicamente, o impacto desse trauma não se dilui simplesmente com o tempo. Ao invés, ele enraíza-se no âmago do seu desenvolvimento emocional, influenciando as expectativas de relacionamentos futuros.”
Que sintomas têm as pessoas com esta síndrome?
“Pessoas com sintomas desta síndrome podem exibir uma grande ansiedade em relações onde percebem, mesmo que subjetivamente, qualquer sinal de afastamento ou desinteresse por parte dos outros. Esta ansiedade muitas vezes manifesta-se em comportamentos como a dependência excessiva, a necessidade constante de validação e, paradoxalmente, pode levar a comportamentos possessivos que inadvertidamente afastam os outros – exatamente aquilo que mais temem.”
De criança a adulto
“Quando o desenvolvimento de uma criança é condicionado por emoções reprimidas, esta pessoa pode transformar-se num adulto com uma criança zangada dentro de si, que vai contaminar o adulto. O trabalho de resgate da criança interior, deve ser efetuado, quando nos deparamos com dificuldades persistentes e que causam sofrimento significativo, contaminando a nossa vida pessoal, profissional, familiar e quando representamos risco, para nós e para os outros. O resgate da criança interior e a sua regeneração, é um processo doloroso, porque implica a reabertura das feridas antigas mal cicatrizadas, é um processo que implica atravessar a dor emocional, que se assemelha a um luto. Trata-se de decidir que o Eu adulto identifica, valida, acolhe e passa a cuidar a partir desse momento da criança interior, um compromisso que é assumido consigo próprio. Um processo iniciado na terapia e se mantém ao longo da vida.”
Soluções? A Terapia Cognitivo-Comportamental
“Na ótica da Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), na síndrome do abandono, ajuda a pessoa a reconhecer e desafiar as crenças irracionais e os medos sobre ser deixada ou rejeitada, que muitas vezes estão enraizados em experiências de infância. Foca-se sobretudo, em identificar e alterar padrões de pensamento intrusivos e comportamentos disfuncionais que contribuem para o sofrimento do paciente.
Por outro lado, a perspetiva psicodinâmica e hipnoanalíticas descreve como os padrões de relação estabelecidos na infância são internalizados como modelos internos de funcionamento. Estes modelos influenciam a autoestima, a capacidade de formar relações saudáveis e a maneira como interpretamos os comportamentos dos outros. Em essência, a criança que fomos continua a viver no adulto que somos, influenciando as nossas reações e interações.”
“O pai da psicologia analítica, Carl Gustav Jung, cujas palavras ressoam profundamente no contexto da síndrome do abandono: “Em todos os adultos espreita uma criança – uma criança eterna, algo que está sempre a ser, que nunca está completo, que solicita atenção e educação incessantes. Essa é a parte da personalidade humana que quer se desenvolver e tornar-se completa” – Carl Gustav Jung.
Seguindo o pensamento de Carl Jung sobre a presença perene da criança interior ferida em cada adulto, a aclamada psicanalista francesa Françoise Dollon também nos oferece uma perspetiva complementar e igualmente profunda: “Se a criança na infância não é tratada com amor, mas sim no medo, ela não aprende a amar, ela aprende a defender-se.” Este pensamento destaca a crucial necessidade de cura das feridas de abandono e é aqui a hipnose regressiva tem tudo a ganhar já que procura resgatar as nossas feridas internas.”
Desafio da hipnose clínica
“Assim, o nosso desafio com o uso psicoterapêutico da hipnose clínica é não apenas reconhecer e tratar as marcas do passado, mas também nos reeducar sobre como podemos amar a nós mesmos e aos outros de maneira mais completa e verdadeira.
Este é o caminho para transformar as cicatrizes do abandono em emblemas de cura e crescimento. A jornada de reintegrar a criança interna, respeitando as suas necessidades e sonhos, é fundamental para que cada um de nós possa viver uma vida plena e autêntica.
Este pensamento de entrar pelo sintoma e resgatar a origem dos nossos fantasmas internos de forma natural e completa, abre uma janela para a compreensão da nossa própria jornada emocional, mostrando como as impressões da infância permanecem connosco, solicitando cuidado e integração contínuos.”
Fotos: Freepik
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