Simone de Oliveira recorda Varela Silva:
«No dia em que o Varela morreu, dormi na cama onde dormíamos»

Nacional

Simone de Oliveira esteve esta terça-feira à conversa com Cristina Ferreira no programa das manhãs da SIC. A cantora falou sobre Varela Silva, o grande amor da sua vida, e da mãe, de quem sente muita falta.

Ter, 22/10/2019 - 12:40

Simone de Oliveira foi uma das convidadas de Cristina Ferreira no programa das manhãs da SIC desta terça-feira, dia 22 de outubro. Simone canta e encanta há 62 anos. Aos 81 anos, a cantora é adorada por milhares de portugueses e decidiu abrir o coração à apresentadora da SIC para falar de alguns desgostos, dos sucessos e alguns dissabores da vida. 

No início da conversa, Simone recordou os tempos difíceis que viveu com o primeiro marido, de quem foi vítima de violência doméstica. «Eu fui uma pessoa até aos 19 anos e outra desde que sai de casa. A pessoa que eu fui mataram-na», revela. 

Simone de Oliveira casou-se com 19 anos e foi vítima de agressões por parte do marido, com quem viveu durante apenas três meses. Decidiu fugir de casa e virar costas ao homem de quem sempre duvidou.  A cantora e atriz revela que após esta fase difícil, levou muito tempo a respeitar novamente quem a rodeava. «Levei muito tempo a ter novamente respeito pelas pessoas. As pessoas para mim não valiam nada.»

«Tenho uma mágoa terrível de a minha mãe não me voltar a ver cantar»

Simone tinha 33 anos quando perdeu a mãe. Foi das grandes amarguras da sua vida. «Tenho uma mágoa terrível, uma pena enorme, de a minha mãe não me voltar a ver a cantar. Ela morre quando eu tinha 33 anos e sempre que canto uma coisa mais complicada penso: ‘Ela gostaria de ter visto’.»

É à mãe, Maria do Carmo, que a artista ainda hoje recorre nas suas orações. Simone confessa que não reza, mas agradece sempre à progenitora. 

«[As saudades matam-se] olhando para a fotografia e, às vezes, em situações mais [complicadas] diz-se: ‘Mãe, obrigada mãe’», conta. 

«Quando estava para vir ao teu programa e caí em casa, sai da casa de banho e caí, não parti a anca não parti nada. Quando me consegui sentar na sala, pensei: ‘Obrigada, mãe’.»

É com carinho que Simone de Oliveira recorda o nome que a mãe lhe chamava quando ainda era uma menina calma e sossegada: «Ponga songa». A alcunha que mudou aos 19 anos. 

«Embrulhei-me num cobertor e fiquei ali, à espera de nada»

Da relação com António José Coimbra Mano, Simone de Oliveira teve dois filhos: Maria Eduarda e António Pedro. Anos mais tarde, casou-se pela segunda vez com Varela Silva. O ator foi o grande amor da sua vida.  

«Gosto muito da minha vida. Não a trocava por ninguém. A vida deu-me tudo. De bom e de mau. Tive sempre à minha gente que me levou para cima», explica. 

Dos momentos mais tristes lembra-se da morte dos pais e do marido. «Eu estava a trabalhar no dia em que a minha mãe morreu e no dia em que o meu pai morreu. E depois, voltar para casa no dia em que o Varela morreu. Dormi na cama onde dormíamos. Embrulhei-me num cobertor e fiquei ali, à espera de nada…»

Varela Silva morreu há 25 anos. Simone faz questão de lhe mandar um beijinho quando fala do ator. «Faria 90 anos. ‘Olá meu velho’», diz, olhando para cima. 

É neste momento que a atriz, que ficou viúva aos 57 anos, recorda o engraçado pedido de casamento. Quando Varela lhe perguntou: «Tu casas comigo?». A resposta imediata foi: «Ó homem, por amor de Deus». 

O ator já tinha combinado com a conservatória para que o casamento fosse uma surpresa e expressou um desejo profundo em dizer o «sim, aceito» à cantora. Conseguiu convencê-la. «Então está bem, vamos lá», cedeu Simone, na altura. 

Mas havia um problema. Varela Silva não queria «casar aos 60 anos, porque chamam as pessoas à parte» para perguntar se tinham mesmo a certeza do que iam fazer. Por isso, «fomos casar ele tinha 59». 

«Já tive medo. E não foi do cancro»

Hoje, Simone de Oliveira é admirada pelo País que sempre a viu cantar e encantar. Mas entre o mar de rosas de talento, sempre existiram espinhos. «Tive para ser presa por dizer: ‘Quem faz um filho, fá-lo por gosto’. Fui insultada muitas vezes na rua», recorda.

Porém, dos 62 anos de carreira guarda os inúmeros elogios e homenagens dos fãs. 

Sobre a saúde, Simone confessa: «Já tive medo. E não foi do cancro. Tenho medo da minha cabecinha».

A cantora já perguntou à médica se podia, inclusive, ter algum problema de cabeça. Ambas tiveram a seguinte conversa: «Simone, quantas canções canta num concerto? 16 ou 17. Tem algum papel à frente? Não. Então o que é que está aqui a fazer?».

Por fim, a cantora desvenda: «Eu tenho de agradecer a este país que me deixou ser Simone». Mas não deixa de anunciar que muitos artistas mais velhos passam dificuldades.  

«Há quem tenha a nossa sorte e estar equilibrado e ter a família. Mas há gente a passar muito mal. Às vezes é meses inteiros sem haver. Eu sou remediada e sempre fui. Umas vezes mais para cima e outras mais para baixo», conclui.

Texto: Mariana de Almeida; Fotos: Impala e reprodução Instagram

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