Sem-abrigo resgatado por mulher coragem
A história emocionante de Fábio, que saiu da rua com a ajuda de Paula

Nacional

Fábio tem 28 anos e um passado extremamente difícil. Viveu na rua, passou fome e ponderou o suicídio. Foi ajudado por Paula, que, mesmo passando por dificuldades financeiras, abriu a porta de casa e trata-o como um filho

Seg, 11/02/2019 - 15:16

O Você na TV desta segunda-feira, dia 11 de fevereiro, contou a história de Fábio, um jovem que durante vários anos foi sem-abrigo em várias cidades, mas que foi resgatado das ruas de Vila Franca de Xira graças a uma mulher coragem, chamada Paula Fernandes. Fábio, natural de Abrantes, está hoje no bom caminho, graças ao amor desta mulher, que o trata como filho, mesmo admitindo passar por algumas dificuldades financeiras. 

A vida difícil de Fábio 

 

O percurso de Fábio não foi nada fácil. O pai morreu quando ele tinha sete anos. A relação com a mãe nunca foi boa. Fábio esteve institucionalizado, foi adotado, mas acabou na rua. Durante vários anos, viveu num prédio abandonado em Vila Franca de Xira, pelo qual tinha acesso depois de caminhar por um descampado com vários perigos, sobretudo à noite. No mesmo prédio devoluto viviam outros sem-abrigo, muitos com histórias do álcool e drogas.  

«Tinha medo, não há palavras. Foi duro», contou  a Manuel Luís Goucha. O álcool e as drogas também fizeram parte da sua vida. «Fumava para me esquecer das coisas, mas… foi álcool e droga, mas não era pesada, era das fraquinhas».  

Nos momentos maus, Fábio ponderou o suicídio. «Passei muita fome, muita mesmo. Tive mesmo, mesmo, para acabar com a vida… Acredito em Deus, Deus pôs a mão e disse ‘não vale a pena matares-te’. Pensei em suicídio desde cortar braços, tenho aqui a marca…», admite. 

Paula, a salvadora de Fábio 

 

Fábio queria dar um novo rumo à vida e a oportunidade chegou quando foi ajudado por uma mulher coragem – Paula Fernandes – que o adotou como «filho do coração» o  resgatou da rua.  

A mulher esteve no estúdio do programa da TVI e contou a Manuel Luís Goucha e Maria Cerqueira como conheceu o novo filho.

«Fui trabalhar para um café na zona de Vila França onde ele fazia biscates. Por sinal, somos os dois da mesma terra […] Eu ralhava muito com ele porque ele fumava, bebia, por muitas coisas assim. Entretanto, como eu trabalhava na parte da cozinha e precisava de recados, pedia-lhe e ele ia direitinho. Pusesse eu dinheiro para pagar faturas nas mãos dele que o Fábio regressava sempre certinho…», conta Paula, que escondia do patrão que estava a ajudar o sem-abrigo. «À socapa dava-lhe uma sandes ou um prato de sopa […] Entretanto, eu saí do restaurante, fui despedida, talvez por isso e por outras coisas…»

Um dia, Paula fica a saber que um conhecido precisa de alguém para ajudar a pintar e lembra-se logo de Fábio. O emprego era em Lisboa e, apesar de estar inicialmente reticente, Fábio aceitou. «Telefonei-lhe para lhe dar os parabéns e perguntei-lhe ‘eu quero saber como foi dormir numa cama?’ E a resposta dele foi ‘eu não sabia já o que era dormir numa cama com lençóis limpos e cobertores ‘ e isso tocou-me», revela Paula.  Contudo, o trabalho em Lisboa era só durante a semana. Ao fim de semana, Fábio tinha de regressar a casa, ou seja às ruas de Vila Franca de Xira. 
Mas Paula não queria que Fábio voltasse a ser sem-abrigo e foi nesta altura que foi aconselhada por um amiga a recebê-lo na própria casa. Inicialmente, Paula considerou ser um risco, porque tem uma filha menor, mas acabou por lhe abrir as portas. 

«Na primeira semana ficou em casa de uns amigos e correu tudo bem. Na segunda semana, voltou e eu disse-lhe ‘vou dar-te uma hipótese, tenho um quarto […] tens comer, tens roupa lavada, tens um sítio para comer, mas os vícios de drogas, álcool acabaram e existem regras… vens para cá e a regra que há é ‘até às 23h tens de estar em casa’. Antes das 23h ele já estava em casa, já lá vão sete anos». 

Enquanto, Paula ajudava Fábio, recebia comentários de conhecidos que a alertavam para o facto de também ela própria ter dificuldades financeiras. Mas esse facto não a impediu de ajudar. «Respondi-lhe ‘é só acrescentar mais um bocado de água na panelas e há sopa para toda a gente”.

Sete anos depois, Paula Fernandes garante que não se arrepende de nada, mas admite que já chorou muito. «Porque ele tem um passado que veio a tona, fica revoltado, fica a querer fazer mal a ele mesmo. Já tentou o suicídio, uma das últimas vezes foi lá em casa, a minha filha foi buscá-lo ao telhado porque ele estava pronto para saltar», diz, emocionada. «O Fábio tem umas mãos para a cozinha, sabe tocar guitarra de ouvido, tem o nono ano, costumo dizer que é uma pedra que está ali para se lapidada, mas leva muito tempo…» 

 

«Espero ser a mãe que ele nunca teve» 

 

A filha mais nova de Paula, Laura, de 14 anos, recebeu Fábio como um irmão e os dois têm uma boa relação. «O Fábio lida com toda a gente, quem quiser ver o Fábio bem vê o Fábio sempre a rir, apesar de ter as mágoas dele. Tem um sorriso sempre na cara e faz rir os outros. É uma pessoa muito humilde, amigo do seu amigo…»

«A única coisa que quero dele é que ele seja ele mesmo e que tenha sucesso. Eu espero ser a mãe que ele nunca teve. Quando chegou lá a casa não sabia o que era um beijo, não sabia o que era uma abraço», revela Paula, emocionada. «É meu filho, é a pessoa que me faz rir, chorar, faz-me companhia…É um menino de ouro, tenho pena que a mãe dele não o tenha conhecido como deve de ser», diz, revelando que a mãe só o procurou uma vez. «Um dia foi ter connosco a Vila Franca, esteve lá uma noite, compramos-lhe a medicação e foi se embora. Até hoje».  

 

Paula estava desempregada quando ajudou Fábio 

 

Quando Paula acolheu Fábio estava no desemprego e «recebia só 60 euros». «Recolhi-o na mesma […] não tive ajudas de ninguém». O momento mais emotivo da entrevista aconteceu quando Fábio dedicou uma mensagem de agradecimento à mulher que o tirou na rua. Paula não conteve as lágrimas:

«Olá Paula, obrigada por me teres abrido a porta, teres-me ajudado nos momentos que mais precisei, por teres feito com que deixasse a droga e o álcool e por tudo o que me tens feito até agora. Eu gosto muito de vocês, nunca me vou esquecer, não me esqueço de vocês nunca. São a minha família. Errei muito também. Peço desculpa pelas minhas falhas, pelas minhas chatices… No fundo fizeram-me homem e agradeço. Se não fosse ela, a esta hora já estava lá nas grades há muito tempo, era algum bandido. Obrigada do coração». 

Texto: Ricardina Batista; Fotos: reprodução redes sociais 

 

 

 

 

 

 

 

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