Rosa Do Canto
A dor da morte da mãe e sonho que a avisou que estava doente

Nacional

Rosa do Canto chora ao falar da morte da mãe e recorda o sonho em que progenitora a avisou que estava doente: «foram-me tirados dois pólipos, um deles era de origem cancerígena»

Sáb, 13/07/2019 - 15:34

Rosa do Canto emocionou-se no Alta Definição, da SIC, ao recordar a mãe. A atriz, de 66 anos, admitiu a Daniel Oliveira que a morte da mãe foi o seu maior desgosto. A Amália Reis, da série Golpe de Sorte, desvendou que toda a vida sentiu necessidade de agradar à progenitora. Diz ainda que tem medo de envelhecer e que não acredita no casamento.

«Eu queria sempre agradar à minha mãe» 

«Não casei, não tenho filhos, dediquei à minha mãe todos os sentimentos. Sou a quarta de cinco filhos, sentia que a minha mãe, de vez em quando, se esquecia de mim… se calhar não, e uma vez até perguntei se ela gostava mais dos meus irmãos do que de mim. Ela respondeu que isso não era verdade, pois gostava dos filhos de igual modo, mas que eu às vezes não tinha bom feitio, era muito refilona e, se calhar, tinha mais afinidade com uns do que com os outros. Isso ficou-me para o resto da vida», conta. «Eu queria sempre agradar à minha mãe […] Acabei por entrar neste meio artístico para ver se ela reparava em mim», revela.

Rosa do Canto admite ser uma mulher vaidosa e que não gosta de cortar o cabelo. «Eu achava que de todos os filhos eu era a mais bonita… um dia a minha mãe disse-me ‘Rosa, tu tens a mania, mas corta o cabelo que vais ver que perdes a graça toda!’. Hoje, muitas vezes tenho de cortar o cabelo para fazer personagens e choro sempre», diz, afirmado ser muito exigente com ela própria. «Ainda hoje me sinto aquém, sou muito crítica em relação a tudo o que faço, posso ter 100 pessoas a dizer que estou bem e eu não acredito. Acho que posso sempre mais e melhor. Choro sempre quando começo um projeto novo porque ela [a mãe] não está lá para ver e isso custa-me horrores», conta, acrescentando: «Precisava sempre da aprovação dela». 

«Ela nunca me disse, mas a minha irmã disse-me ‘tu não tens consciência o quanto a tua mãe gostou de ti!’ […] Ela não sentiu muito o amor, embora amasse muito, não conseguia verbalizar. Nos últimos anos da vida dela, ela foi passar o fim de semana a minha casa, eu perguntei se ela me amava e ela disse que amou os filhos de igual forma e que não percebia porque é que eu não percebia isso».

«O dia mais feliz da minha vida foi o dia em que o meu pai saiu de casa» 

Rosa do Canto recorda que o casamento dos pais não foi feliz e que isso a marcou para sempre e influenciou as próprias relações. «Penso que a minha mãe nunca sentiu amor, casou com o meu pai, mas não foi muito feliz. Foi aliás muito mau.  O dia mais feliz da minha vida foi o dia em que o meu pai saiu de casa, eu assisti a grandes discussões entre eles. […] A minha mãe foi uma mulher muita amada pelo meu pai, o meu pai morreu a gostar dela e o meu padrasto morreu de desgosto. Ela morreu e ele morreu a seguir. Morreu por amor». 

A atriz não se recorda de receber manifestações de afeto do pai, mas guarda com carinho a atenção especial do padrasto. «Não me lembro de o meu pai ter dado um beijo, também não me lembro de ele ter dado um estalo… o meu padrasto sim, deu-me colo muito amor, ele gravava tudo o que eu fazia…» 

Na mesma entrevista, Rosa admite que o medo que sente em amar vem desde a infância. «Sou uma mulher que tenho muito medo de amar, talvez por isso não tenha Tido uma relação séria, nunca vivi com ninguém. Tenho medo das discussões, tenho medo que o casamento não resulte, não consegui superar as discussões lá em casa, tenho muito medo que o casamento seja aquilo, medo de ser defraudada… sinto que estou sempre a dar pouco e as pessoas querem mais e quando as pessoas vão embora, é quando eu sofro de facto. Tenho muito medo de ser rejeitada, tenho muito medo que me digam que se eu cortar o cabelo perco a graça toda», lamenta. 

«Foi por opção que não constituí família, desde miúda que dizia ‘eu não quero casar e ter filhos!’. Nunca senti essa falta, mas hoje tenho pena de não ter netos, gosto muito de crianças», acrescenta, frisando que também não sentiu o relógio biológico para ser mãe. 

«Nas relações que tive, nunca me pediram para ser mãe. Talvez com uma pessoa pudesse ter tido um filho porque gostava muito dela, admirava-o a imenso, mas ele não quis, portanto não aconteceu», recorda, dizendo que não tem medo da solidão. «Eu estou muito bem sozinha… não acredita a alegria que tenho quando chega a casa… estou sempre a fazer a cantar e a dançar».

 

A morte da mãe e o sonho que a avisou que estava doente 

Em lágrimas, Rosa do Canto volta a recorda a mãe. «Quando a minhas mãe morreu, que foi de facto o grande desgosto da minha vida, eu pensava muito nela mas nunca sonhava. E tenho uma sobrinha que quando ela morreu sonhava com ela praticamente todos os dias e eu até me irritava um bocadinho com ela […] Ao fim de alguns anos, eu tive um sonho com a minha mãe –  ‘mãe eu estou menstruada, achas normal eu já estou na menopausa!, e ela disse: ‘não, tu estás é doente, tu vais ao médico que ainda vais a tempo’.  Aquilo foi tão real que no dia seguinte fui ao médico, pedi vários exames entre eles uma colonoscopia e foram-me tirados dois pólipos, um deles era de origem cancerígena. Se não tivesse sonhado, se calhar não estava aqui». 

O dia da morte da mãe nunca mais vai sair da sua memória. «Despedi-me, ela sabia que ia morrer e disse -me ‘Rosa, não te esqueças de mim!’. Como se isso fosse possível? Como? Lembro-me dela todos os dias, sempre que estreio qualquer coisa e ela faz-me falta. Nós fizemos as pazes sim, ela disse-me muitas vezes que gostava de mim, minutos antes de morrer sim».  

A idade 

Rosa do Canto não tem vergonha em admitir que não lida bem com o avançar da idade e admite até sentir pavor. «Envelhecer é um sacrifício, eu não sou nada daquelas pessoas que dizem que cada ruga tem uma história para contar. Desculpem não gosto de rugas. Eu sabia que envelhecer fazia doer e dói mesmo, dói na alma». 

Emocionada, explica que não gosta de envelhecer porque isso significa que já viu morrer muitas pessoas importantes. «Já perdi muita gente que amava, um irmão mais velho, a minha mãe, alguns amigos, que me fazem falta». 

 

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Texto: Ricardina Batista; Fotos: Impala 
 

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