Rita Ribeiro
A viver dias difíceis, faz apelo para que os artistas não sejam esquecidos

Nacional

Rita Ribeiro faz apelo para que os artistas não sejam esquecidos e revela ainda que está impedida de visitar a mãe, de 93 anos, internada nos cuidados paliativos

Seg, 30/03/2020 - 20:00

Rita Ribeiro enviou um apelo ao Governo, através da companhia de teatro e produtora Magiabrangente, a pedir que os artistas não sejam esquecidos. A atriz, de 64 anos, revela à VIP que vive dias difíceis: está sem trabalho porque os espetáculos foram todos cancelados e não pode visitar a mãe, a atriz Maria José, que está internada nos cuidados paliativos. 

“Os espectáculos foram todos cancelados, não sabemos quando recomeçaremos o que provoca uma enorme insegurança. A maior parte dos atores estão sem fazer nada, eu tenho uma produtora e um restaurante, ambos fechados. São duas empresas fechadas”, conta à nossa revista, com preocupação.  “O que acontece ao fim de 45 anos de teatro? Qual é a proteção que temos? Nunca tivemos proteção, sempre pus do meu próprio dinheiro em todos os projetos de teatro. Fazia televisão para continuar a fazer teatro. Precisamos de apoio, de quem não sabemos. Há países em que os atores continuam a receber mesmo quando não estão a trabalhar. Se calhar, está na hora de nos unirmos. Aqueles atores que estão melhor, e que nunca tiveram de usar o próprio dinheiro para fazer teatro, tem de se lembrar dos outros. O que vai ser de nós? Nós, atores, não podemos fazer teletrabalho. Este desabafo é de quem tem vontade de estar ativa”, refere. 

Rita Ribeiro encontrava-se a trabalhar em Espanha quando a pandemia agravou. Quando tentou regressar ao nosso País, ficou retira do aeroporto. Felizmente, tudo se resolveu e a atriz encontra-se a cumprir a quarentena. “Estou em casa, sozinha, na companhia das minhas cadelas. As minhas filhas vem-me trazer a comida à porta para eu não sair. Felizmente, fiz o teste (à covid-19) e deu negativo. A minha mãe também deu negativo ao teste”. 

Devido à quarentena e ao estado de emergência imposto no nosso País, Rita Ribeiro está impedida de visitar a mãe, a atriz Maria José de 93 anos, internada nos cuidados paliativos. “A minha mãe foi para os cuidados paliativos, piorou da saúde. Estava numa residência de idosos. Não a posso ir ver. Vou falando por telefone. Tem 93 anos e foi atriz toda a vida”, lamenta. 

Rita Ribeiro teme também pelas condições de vida de outros artistas, que tal como ela estão sem trabalho e sem rendimentos. “Deve haver muita gente em muito maus lençóis . Esta carta é para ver se alguém acorda. Foi enviada ao Governo. Há muito tempo que aguardo respostas de apoios para a arte. Há uma falta de apoio da sociedade em geral. É o sistema”, lamenta, mais uma vez, explicando que, mais do que nunca, a arte é precisa para entreter. “Agora que estamos em quarentena, vivemos do que é importante, como a arte. Agora é que os espetáculos, a música, são essenciais para entreter, para os tempos livres. Para sobreviver precisamos da arte”.  

A produtora de Rita Ribeiro está fechada, mas a atriz não baixa os braços e prepara-se para abrir o seu restaurante para a modalidade take away. “Vamos fazer take away. No ano passado investi as minhas economias naquele restaurante. A minha filha mais velha é a cozinheira e a outra é atriz. A minha produtora tem dois anos e temos tudo pago. Logo, damos dinheiro a ganhar ao Estado”, frisa.  

Leia aqui o apelo da produtora de Rita Ribeiro na íntegra: 

“Lembrem-se de nós 
 
Como se não fossemos humanos.
É assim que nos sentimos. Como se a outra raça pertencessemos. A célebre frase: “estudasses!” ecoa-nos e repete-se cá dentro vezes sem conta, pelas tantas vezes que as ouvimos. “É artista…”, transformou-se em adjectivo de calúnia e sentimo-nos como se não fossemos humanos. E, sim, estudámos muito para conseguir ler pautas, interpretar textos, mover o corpo e conseguir falar sem palavras. A diferença, é a diferença que isso faz aos outros e a forma como ela é remunerada. Não tem a ver com raças, maiorias ou estudos. Tem a ver com a única forma que a arte tem de nos governar a vida, e a tornar mais leve, e de como ela é valorizada por quem se dita governador.
 
Nós, fazedores da arte, artesãos. Nós, a quem, tantas vezes, tentam convencer de loucura. Nós, que, por amor, seremos amadores a vida inteira. Nós, que vomitamos em cima das tábuas dos palcos as vozes de todo um povo, também, nós, temos famílias a quem dar um beijo na testa e a côdea aos lábios.
A História marca-se por Eras Artísticas, diferenciam-se as culturas pela História da Arte dos povos: bem se recebe com música e alaridos; criam-se hinos para países e cidades, cantando-se de pé e mão ao peito. Festivais da canção, Teatros Nacionais, Museus de Arte Contemporânea… feitos por quem? Criados e alimentados por quem?
Que estranha forma de vida é esta de criar de mãos vazias e deixar obra a olhos cheios? Somos professores, serventes de restaurantes, agentes imobiliários, fazedores de quase tudo para conseguir, ainda, estar por cá. Temos as casas atoladas de cenários, figurinos e adereços, por não existir morada no nosso emprego. E que casa? Aquela que conseguirmos pagar enquanto conseguirmos criar. De certo que, no dia da incerteza, os nossos filhos terão de ir para casa dos avós, teremos de ouvir de novo “estudasses!”, teremos de sorrir para disfarçar a agonia e continuar a acreditar.
Tantos becos vazios, tantas portas a sete chaves de norte a sul deste país, não dariam leito a estes sem abrigo para deixarem História feita nos seus próprios palcos e não dependerem de agendas municipais ou vagas de acolhimento em espaços que não seus seus? Tantas divisões de bilheteira, tantas percentagens para dividir, tantos ensaios por amor, não se transformariam em contratos, em justos apoios e em tranquilidade que precisamos para criar? Não basta deixarem os nossos nomes cravados em Teatros, em grandes salas de espetáculos ou em passeios da fama, onde tantos sapatos se passearão, se não nos matarem a fome que sentimos no estômago e na alma.  
E, quando vos der vontade de ouvir um bom texto, quando apertarem as saudades da respiração de um músico ou do olhar de um actor, quando vos der vontade de pintar, de cantar ou escrever, lembrem-se nós. Aqui estaremos, juntos, cantando o Hino de mão ao peito, porque ser artista é uma benção e não uma maldição. Aqui estaremos, quando as portas se abrirem de novo e voltarmos, todos, a respirar a liberdade de escolher o caminho que nos pertence. Só não sabemos quando e não sabemos como chegar até lá, porque até as despensas de quem vive perto do sonho se esvazia e falta pão.  No passado ficámos à margem do rio que passa e o futuro foi teleprogramado para alguns e telesquecido para outros. Enquanto esse dia não chega, lembrem-se de nós…
 
Companhia de Teatro
Produtora Magiabrangente” 

Texto: Ricardina Batista; Fotos: Impala 

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