Reportagem «A Rede» choca o país
«Começou por uma brincadeira meia aparvalhada»

Nacional

A reportagem A Rede, emitida pela SIC desde terça-feira, 29 de janeiro, chocou os portugueses. Saiba tudo sobre o testemunho emocionante de Nuno Ramos: «Aos poucos vou-me erguendo, a nível profissional vou aos poucos. A nível emocional muito complicado»

Sex, 01/02/2019 - 9:35

Esta quinta-feira, 31 de janeiro, foi a terceira e última parte da reportagem A Rede, conduzida por Conceição Lino, que pretende chamar a atenção para os perigos das redes sociais.

Nuno Ramos é o personagem principal desta história. Um homem que na sua página de Facebook aceitou um pedido de amizade de uma jovem, de seu nome Sofia Costa, dando início a uma história que virou um verdadeiro pesadelo.

De mensagens através da rede social passaram a chamadas, depois de Sofia revelar o seu estado de saúde debilitado resultado de um cancro na mama. A relação e proximidade entre Nuno e Sofia foi crescendo e, mesmo sem se conhecerem pessoalmente, a relação amorosa foi assumida.

Por duas vezes, Nuno tentou conhecer a mulher por quem se apaixonara. Da primeira não foi possível porque o pai da jovem teria falecido. Da segunda volta a não ser possível porque Sofia teve um acidente e despistou-se.

A história foi-se desenrolando com amigos e família de Nuno e Sofia envolvidos. Desta rede fizeram ainda parte outras três pessoas que a suposta Sofia conseguiu conquistar emocionalmente.

«Nem queria acreditar nessa história completamente mirabolante»

Nesta terceira parte da reportagem, é possível conhecer-se o que motivou esta história.

Cansado de todas as histórias que lhe eram contadas, Nuno e a mãe, Irene, começaram a juntar as peças do puzzle. De entre vasculhar todas as conversas tidas com Sofia e a família e amigos da jovem até ao contacto feito com uma das outras três pessoas enganadas por esta personagem foi um passo até chegar à verdade.

Maria do Carmo, uma das pessoas igualmente enganadas, surge numa fotografia com a suposta mãe de Sofia. Aí, ficou claro que a senhora que, passava agora por mãe de Sofia, não era mãe dessa personagem e que a verdadeira Sofia estaria viva, e chamar-se-ia Cláudia Marinho. «Esta Sofia está viva. Não se chama Sofia mas está viva», conta Maria do Carmo.

Nesse momento, a mãe de Nuno entrou em contacto com Cláudia Marinho, dizendo que tanto ela como o filho precisavam de falar com ela pessoalmente.

Nuno e Irene fizeram assim 300 km até Lamego para conhecer a verdadeira Sofia. A mulher cujas fotografias do perfil de Facebook foram usadas, sem o seu consentimento.

«Mal me vê foi uma sensação estranha porque eu não conhecia a história e parecia que ele estava a ver um fantasma. Ficou branco», conta Cláudia. «Estava sem palavras. Nem queria acreditar nessa história completamente mirabolante», acrescenta.

Para a jovem de Lamego foi estranho perceber que alguém tinha um sentimento por si, sem que esta soubesse. «Saber que havia alguém, no fundo não era eu era só a minha imagem, que tinha carinho por mim e gostava de mim», afirma.

Já para Nuno, a sensação foi de tal modo estranha que a reação foi a de choro constante. «Não sei se era um sonho, se era um pesadelo», refere.

Mas afinal, quem é a pessoa por trás de toda esta rede?

Embora o nome não tenha sido revelado sabe-se que a mulher que montou todo este esquema é alguém que Cláudia conheceu na Escola Secundária, há alguns anos.

«Estudámos juntas até ao 9º ano e depois fui para o Porto estudar e perdemos o contacto», afirma a nortenha. Apesar de afastada durante anos, a tal mulher voltou a ser introduzida no grupo de amigas de Cláudia por uma amiga desta, Carla.

«Ela tinha sempre um ou dois telemóveis», conta Carla. Na altura não perceberam, mas mais tarde ao conhecer a história de Nuno, as amigas de Cláudia e a mesma perceberam o porquê da insistência da mulher em tirar fotografias a Cláudia. Fotografias essas que eram enviadas, em privado, para Nuno.

Esta mulher tem mais de 40 anos, é mãe, divorciada e professora do Ensino Básico. Criou sete perfis falsos, gastou centenas de euros por mês em chamadas, que fazia pelos 4 números de telefone que detinha e envolveu cerca de 14 pessoas nas suas mentiras.

As razões que motivaram todo este esquema passaram apenas por ter atenção e receber o carinho de todas as pessoas envolvidas.

«Lamento o que provoquei no coração deles»

Chegou a hora de Nuno conhecer a verdadeira mulher por quem se apaixonou. O jovem de Lisboa exigiu que, em tribunal, fosse feito um pedido de desculpas por parte desta mulher, que se fez passar por Sofia Costa.

«O pedido de desculpas não senti verdadeiro. Senti um discurso muito planeado», conta Nuno.

Cláudia apresentou queixa por uso indevido das fotografias e Nuno por difamação, uma vez que durante dois anos a suposta Sofia sempre tentou manchar a imagem do jovem, perante outras pessoas envolvidas na rede por esta criada.

A Cláudia foram pagos 400 euros e outros 250 destinados a Cláudia e Nuno, que estes exigiram que fosse entregue à Santa Casa da Misericórdia.

A Conceição Lino esta mulher confidenciou: «concordei sempre com tudo aquilo que foi decidido que eu teria que “pagar”. Eu não estou a falar do dinheiro. Eu fiz e, quando ocorreu o pedido de desculpas, eu fi-lo com a humildade que tinha. Lamento, lamento.»

«Começou por uma brincadeira meia aparvalhada»

«Olhe, começou por uma brincadeira meia aparvalhada e depois acabou por tomar algumas proporções, quer dizer gigantes demais, e lamento. Lamento o que provoquei no coração deles, não é?», afirma a autora de toda esta rede.

Agora, três anos depois do sucedido, Nuno afirma ainda não ter ultrapassado todo o transtorno emocional que esta história lhe causou, em termos pessoais e profissionais. «Aos poucos vou-me erguendo, a nível profissional, vou aos poucos. A nível emocional muito complicado», confidencia.

Texto: Redação WIN – Conteúdos Digitais; Fotos: DR

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