Quintino Aires
Quebra o silêncio sobre afastamento do Big Brother: “Tenho o direito de não me identificar”

Nacional

Quintino Aires está “chocado” e “desiludido” com o seu afastamento da TVI, por causa dos comentários que fez sobre o concorrente do “Big Brother” Bruno d’Almeida.

Qui, 16/09/2021 - 9:12

Quintino Aires está “chocado” e “desiludido” com o seu afastamento da TVI, por causa dos comentários que fez sobre o concorrente do “Big BrotherBruno d’Almeida e fala mesmo em “censura”. O psicólogo diz que soube desta posição do canal de Queluz de Baixo por um site, mas defende Cristina Ferreira de toda a polémica.

As afirmações de Quintino Aires que estão a gerar controvérsia foram feitas no “Extra” de terça-feira, 14 de setembro. O psicólogo criticou o jovem por fazer bandeira do facto de ter levado o debate sobre a doação de sangue por parte de homossexuais à Assembleia da República, desvalorizando o sentimento de orgulho que o jovem transmitiu ao grupo. Chamou-lhe “miúdo irresponsável” e “bicha desocupada” e, ao longo do dia de quarta-feira, foram muitas as vozes que se levantaram contra estes comentários e a TVI acabou mesmo por afastar Quintino Aires do painel de comentadores do reality show.

“Chocado”, começou por dizer o psicólogo quando questionado por um site sobre como se tinha sentido com esta posição da TVI. “Nós vivemos num tempo em que estamos todos tristes com o que se está a passar no Afeganistão, com as mulheres a terem de cobrir o rosto. Acho que estamos todos incomodados com isso. Perceber que essa censura é semelhante em Portugal, com outro formato, claro, é muito chocante”, disse. 

Quintino Aires garante que não recebeu nenhum contacto da estação a comunicar o seu afastamento. “Estava a trabalhar na obstetrícia no hospital e à hora do almoço, quando saí, soube pelo ‘Dioguinho’”, afirmou, sublinhando que não se arrepende de nada do que disse. “Eu fui comentar coisas ditas no domingo à noite na terça-feira, de maneira que tive 48 horas para pensar cada palavra que queria dizer. Foi tudo tão pensado, tão refletido que aquilo que disse no programa digo outra vez, e continuo a dizê-lo”.

“O que disse na questão de colar a Direção-Geral de Saúde [DGS] com uma atitude homofóbica (…) é um erro gravíssimo e perigoso, e, portanto, o que ali foi dito em termos científicos era a minha obrigação. Não era uma escolha minha, com a minha formação, esclarecer ou não esclarecer aquilo que milhares de pessoas ouviram. Era a minha obrigação. A parte científica é como é, e não podia ficar calado. Isso não tem discussão”.

Quintino Aires explica uso do termo “bicha” e reitera “vergonha” na marcha gay

No “Extra” de terça-feira, Quintino Aires também deu a sua opinião sobre a marcha gay e afirmou sentir “vergonha”. Nesta entrevista ao site da Flash, o psicólogo também abordou este tema. “Como homossexual, tenho o direito de não me identificar. Eu, como homossexual, não me reconheço naquela marcha, nem naquilo que ali acontece, e tenho direito a isso”, afirmou. 

“Eu sinto vergonha! Já disse muitas vezes na comunicação social: sinto vergonha de ver aquela marcha! E tenho direito de dizer isso, estamos num país democrático, tenho direito à minha opinião. Calha de eu ser homossexual, mas mesmo que não fosse, poderia dizer que achava aquela marcha uma vergonha. Aqui acresce o facto de eu ser homossexual, não me reconhecer ali e talvez até por ser homossexual sentir de forma mais profunda uma vergonha em relação ao que ali acontece. E tenho direito a isso, a ter opinião e a me expressar num espaço em que me contratam como comentador. Não sou apresentador”.

“Outra coisa que vi, de ter chamado ‘bicha’… Eu estou dentro do mundo gay há 35 anos e quem está sabe perfeitamente que é uma palavra que utilizamos normalmente: ‘bicha preguiçosa’, ‘bicha desocupada’, isso faz parte do vocabulário. Eu não retirava essa palavra”, disse ainda, refutando todas as acusações de homofobia de que foi alvo: “Não sei em que é que o facto de um homossexual não se reconhecer na marcha gay faz dele homofóbico. Faz apenas dele alguém que não se identifica com aquela marcha. Ponto. Absolutamente mais nada. Imagine… sou alentejano, gosto muito de açorda, mas se não gostasse de açorda não estava a ter uma atitude contra os alentejanos, estava simplesmente a expressar que não gostava de açorda.”

Quintino Aires disse ainda que não sente que tenha de se defender. “Muitos portugueses lutaram muito para podermos expressar as nossas opiniões. Que um homossexual diga que não se identifica com os comportamentos de outros homossexuais, acho que é um direito que ele tem e que as pessoas se espantem com isso é, para mim, ofensivo em relação a tantos que lutaram para podermos falar à vontade. Eu nasci num tempo em que tínhamos de ter cuidado com o que dizíamos aos nossos vizinhos, convivi com muita gente que podia convidar um amigo para jantar em casa, falar alguma coisa para esse amigo e no dia seguinte esse amigo ir entregá-lo à PIDE. Tenho muita pena que, 50 anos depois, tenhamos que não expressar as nossas opiniões, opiniões como esta, por exemplo, um homossexual dizer que não se identifica com a marcha gay, e dizer que sente vergonha quando vê a marcha”.

A relação com Cristina Ferreira

O psicólogo fala ainda de Cristina Ferreira e garante que este episódio não beliscou a relação entre ambos. “O carinho e a gentileza (mútuo) que tenho para com Cristina Ferreira é exatamente o mesmo que tenho há 17 anos. (…) Não a metam neste assunto”.

“Ainda há pouco estivemos os dois a conversar (…) Gostava que ficasse de fora desta confusão. Que me desilude a sociedade em que estamos a viver agora! Muito. Que me desilude a atitude da empresa onde colaborei durante 24 anos! Muitíssimo. Mas não coloquem a Cristina Ferreira nisto. É a única pessoa em quem confio a 100% de todas as que fui partilhando 24 anos de televisão”.

Depois da polémica, Quintino Aires conversou com a diretora de Entretenimento e Ficção da TVI, mas optou por não revelar pormenores: “É uma conversa nossa, de dois amigos que têm um carinho mútuo muito grande “. E explicou a razão de só ter falado com Cristina ao final do dia de terça-feira: “Porque trabalho muito, ela também”.

Texto: Patrícia Correia Branco; Fotos: Impala e D.R.

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