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“Quero eliminar o mal pela raiz”, diz NUCHA

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Apesar dos resultados serem favoráveis, a cantora está a fazer quimioterapia
Tem 44 anos, quase 30 de carreira, mas quando descobriu que tinha cancro da mama Nucha sentiu, por momentos, o seu mundo às voltas, engolida por uma sensação de impotência. Durou pouco. Recompôs-se e foi à luta com todas as suas forças. Na véspera da operação para remover o tumor, dia 5 de Setembro, subiu ao palco para dar um concerto, como se nada fosse.

Sex, 05/11/2010 - 0:00

Tem 44 anos, quase 30 de carreira, mas quando descobriu que tinha cancro da mama Nucha sentiu, por momentos, o seu mundo às voltas, engolida por uma sensação de impotência. Durou pouco. Recompôs-se e foi à luta com todas as suas forças. Na véspera da operação para remover o tumor, dia 5 de Setembro, subiu ao palco para dar um concerto, como se nada fosse. No dia 30 de Outubro comemorou-se o Dia Mundial de Luta contra o Cancro na Mama e Nucha conta a sua própria luta. Que passa por querer fazer quimioterapia, apesar dos resultados serem favoráveis, para ter a certeza que "mata o bicho". A primeira sessão, no 23 de Outubro, correu bem e a cantora não sentiu nenhum efeito secundário.

 

VIP – É inevitável, antes de mais, perguntar como se sente…

Nucha – Sempre bem-disposta. Mesmo durante o processo, antes da operação, eu estive sempre bem-disposta. O que custa mais é o primeiro embate, mas eu sou uma pessoa muito positiva, felizmente. O positivismo tem imensa importância na doença.

Felizmente, já não é o demónio que era há 20 anos, quando o cancro era quase sempre fatal.

Tenho uma prima que morreu de cancro da mama há 15 anos, mas não havia os meios que há hoje. Achamos sempre que as coisas não nos batem à porta, mas é melhor estarmos preparados. Não somos imortais e as coisas não acontecem só aos outros.

 

Como é que descobriu?

Foi depois da morte do [cantor] Beto. Fiquei muito em baixo nessa altura, entrei um pouco em depressão. Numa sexta-feira, senti umas picadelas no peito, achava que era de andar nervosa, mas comecei a fazer a palpação, e senti mesmo um nódulo. Ao contrário do que se costuma ouvir, que o cancro é silencioso e que quando dói não é cancro, não é verdade. Estava no início, mas sentia dor. Fui ao médico logo na segunda-feira.

 

E quando chegou o diagnóstico?

Por momentos passa tudo pela cabeça, pensamos logo que podemos morrer. Mas ter a família ao lado foi uma ajuda preciosa. Eu tive sempre o meu marido, a minha filha ou a minha sogra ao meu lado nas consultas.

 

As mulheres costumam ter medo da reacção do marido, por pensarem que vão perder o peito, que vão ficar "menos mulheres"… Foi o seu caso?

Sim, é verdade. Eu fiquei muito triste porque conheci algumas mulheres que tiveram cancro e foram abandonadas pelos maridos simplesmente por terem de fazer quimioterapia e por ficarem sem cabelo. Isso é falta de amor e é sobretudo uma falta total de humanidade. Tenho constatado que isso existe e é preocupante. Gostava de dizer às mulheres que não deixam de ser femininas porque não têm cabelo, que não deixam de ser belas por causa de uma mastectomia, até porque agora a cirurgia estética trata disso. Têm de olhar ao espelho e sentir que são grandes mulheres pela luta que estão a travar. Eu, felizmente, não tive de fazer remoção do peito. Mas a verdade é que tenho um marido maravilhoso, sei que não me vai abandonar, apoia-me em tudo. Ele já me disse, até, para cortar já o cabelo, mas não quero sofrer por antecipação.

 

E a ideia de ter de fazer quimioterapia?

Hoje em dia os médicos não facilitam, portanto apesar dos resultados do gânglio sentinela estarem negativos, recomendaram fazer alguma quimio, para além da radioterapia. Mas eu própria prefiro fazer, mesmo que não seja obrigatório, para salvaguardar o futuro, para ter a certeza que eliminamos o mal pela raiz. Eu própria quero fazer quimioterapia, porque quero viver.

 

Como reagiu a sua filha a tudo isto?

A minha filha é bastante introvertida, deu-me muito apoio, mas tentou esconder a sua dor de alma. Foi óptimo para mim, porque não vi lágrimas, mas sei que está bastante vulnerável. A única vez que a vi chorar foi quando entrei na sala de operações, foi talvez também quando eu fiquei mais frágil, esse foi o momento em que vi que a Catarina não era tão forte como tentava parecer.

 

Ficou com vontade de dar um grito de alerta às mulheres?

Ainda estou a viver as coisas, portanto ainda é difícil para mim, mas sinto a necessidade de alertar as pessoas. Quando soube, tive duas pessoas que me inspiraram muito. A Fernanda Serrano foi uma grande ajuda, quando nos encontrámos no velório do António Feio, e estou-lhe eternamente agradecida. Senti ali um misto de sensações porque eu inspirava-me no António, as pessoas deviam ouvir as suas palavras sábias.

 

Estava a preparar um álbum que devia sair até ao final do ano, a data mantém-se?

Datas não tenho ainda. Quero ir com calma. Era um disco que já estava a trabalhar. Eu não parei a minha vida por causa do cancro, não desmarquei nenhum concerto. Fiz a minha tournée, claro que não marquei nenhum concerto para o dia 6 de Setembro, mas já tinha um marcado para dia 5, na véspera da operação. Não contei a ninguém, senão às pessoas mais próximas, também porque me queria resguardar. Tinha uma digressão para fazer, tinha de estar alegre, tinha de estar em palco, e não queria sentir que as pessoas estavam a olhar para mim a pensar "coitadinha, está com cancro". Fiz tudo o melhor que sei, até àquele dia que entrei no hospital. Agora sim, estou pronta a encarar os tratamentos que aí vierem e continuar a trabalhar. É importantíssimo não parar, porque o pior castigo é não podermos fazer o que gostamos.

 

A Catarina quer seguir as suas pisadas?

Canta e gosta de cantar, mas tem os pés bem assentes na terra. Está no 12.º ano, é uma excelente aluna, e para mim seria uma pena deixar de estudar. Não a incentivo a cantar. Embora, se ela o quiser fazer, não seja o tipo de mãe que o vá proibir. Eu tinha 13 anos quando comecei a cantar em bares. Hoje para mim seria inconcebível levar a minha filha para cantar num bar aos 13 anos, mas eram tempos diferentes.

 

Como faz para manter a excelente forma física?

Sou seguida pelo doutor Tallon há muito tempo. Agora não faço dieta, mas tenho cuidado com a alimentação, e pratico muito exercício físico, principalmente em palco. Acho que o essencial é olhar para o espelho e gostar do que vemos. Isso implica sacrifícios, mas compensa, porque acho que a maior infelicidade para uma mulher é olhar para o espelho e não gostar do que vê.

 

Finalmente, isto tudo mudou a sua forma de ver a vida?

Adoro viver, cada vez mais. Tudo passou a ter muito mais significado para mim. Sobretudo, faz-me confusão as pessoas desperdiçarem a sua vida. Agradeço sempre, cada vez que acordo. Estou cá! Cada mal traz algo bom. O apoio que recebo, dos amigos, e do público em geral, tem sido fabuloso.

 

Texto: Elizabete Agostinho, Fotos: Paulo Lopes

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