Olga Sotto
“Percebi ao longo da minha vida que o amor é a arma mais forte”

Famosos

A preparar um romance e uma exposição de pintura, a artista plástica falou à VIP sobre as inquietações de uma mulher que vive intensamente
Um almoço à beira-mar no Magoito (Sintra) foi o pretexto perfeito para uma conversa
informal onde a artista plástica falou do seu percurso, da importância que dá “à partilha do ser humano” e no desejo de ser amada com a mesma intensidade com que ama.

Qui, 20/10/2011 - 23:00

 Um almoço à beira-mar no Magoito (Sintra) foi o pretexto perfeito para uma conversa
informal onde a artista plástica falou do seu percurso, da importância que dá “à partilha do ser humano” e no desejo de ser amada com a mesma intensidade com que ama.

VIP – É muitas vezes definida como a mulher dos sete ofícios, mas basta falar um pouco consigo para perceber que nenhum deles faz sentido sozinho.
Olga Sotto – Sim, são um todo. No fundo é o meu caminho e tudo era necessário para chegar onde estou. Se não tivesse aprendido música, hoje não podia compor, se não escrevesse, hoje não comunicava como o faço. Fiz 20 anos de carreira, acho que a fiz bem, pelo menos fi-lo com dignidade, que prezo muito.

É uma mulher de afetos?
Sou. Escrever e pintar são formas de comunicação. A minha pintura é apelativa, há quem diga que tem uma carga sensual e erótica, mas eu só falo de amor. Todas as figuras estão esbatidas, no fundo, porque a parte espiritual é a mais importante. O que pretendo é que a tela consiga uma comunicação com os cinco sentidos. Porque é que se ouve um poema e se chora?

Aliás, é precisamente de amor que fala este seu último livro, Laranjachão, Palavra a Corpo Nu.
Pois, só fala de amor… (risos). Percebi ao longo da minha vida que o amor é a arma mais forte. Além disso, sorrio muito, dizem-me que venho cheia de luz, de sol… E fico muito contente por isso, porque é essa a minha riqueza. Não sou uma mulher frágil, mas sou muito sensível. E era capaz de morrer de amor, porque trago amor e paixão na minha bagagem. Tenho os ingredientes certos para morrer de amor. Preferia morrer de amor do que de outra coisa qualquer, porque lhe dou muita importância.

Teve uma infância atípica…
Sim, tive. Em pequenina assistia às tertúlias em casa dos meus avós. O meu avô materno era pintor e era um homem com uma sensibilidade brilhante. Recebia em casa a Natália Correia, Mário Cesariny, Beatriz Costa, Bual, Relógio… Pessoas que foram chaves mestras para o meu crescimento. A Natália Correia dizia ao meu avô: “Oh Carlos esta miúda tem cabeça de poeta.” (Risos). Em tudo o que tenho feito na minha vida lembro-me das palavras de Fernando Pessoa que me foram ditas pelo meu avô: “Põe o melhor de ti em tudo o que fazes” e eu dou-me completamente.

Aos nove anos apaixonou-se por Luís de Camões…
Sim, descobri-o na biblioteca do meu avô. Ele precisava de um pouco do que cada mulher lhe trazia. Eu, tão pequena, achava que gostava de ser amada por um homem assim, gostava que alguém me dissesse aquelas coisas maravilhosas, que escrevesse com aquela inteligência emocional.

Depois seguiu-se Luís II da Baviera.
Sim, era um homem fantástico na sua grande loucura. Enfim, tenho estes amores platónicos.

Precisa deles?

O que encontrei na biblioteca do meu avô não foi um homem de carne e osso, foram palavras escritas, livros, folhas, emoções. Vi-os à minha maneira. O Mozart também me apaixonou pelo que tinha para me dar, o poder dele, era um génio. Assim como Modogliani, a paixão que ele tinha por Anna – a única a quem pintou os olhos – fez com que me apaixonasse por ele. O que me faz apaixonar pelos outros é a intenção deles na vida. Nunca na minha vida me apaixonei por uma pessoa fisicamente. Sei lá se o corcunda de Notre Dame não teria a sua beleza? (Risos).

Quando terminou o curso da ESBAL foi viver para Paris.
Sim, precisava de cheirar, sentir, tocar, de me aproximar das verdades que procurava.

Pintou na rua?
Sim, amei. Tive experiências magníficas em Montmartre. Conheci pessoas fantásticas. Precisava de passar por tudo isso, precisava de toda essa poesia. A mãe de todas as artes é a poesia. Procurei-a em Paris. Continua a ser uma cidade muito especial, embora seja uma apaixonada por África e acho que é um país que tem tudo a ver com a minha essência, com a minha sensibilidade.

Viver nesse clima de paixão é inspiração garantida?
(risos) Às vezes dói, mas é muito bom acordar todos os dias assim. Sou apaixonada, por isso gosto de experimentar tudo. Fiz ballet, aprendi música, decidi-me pelas artes plásticas com a ajuda do mestre Lagoa Henriques, que digo sempre que foi o grande amor da minha vida, a minha espada! Não podemos desenvolver tudo, mas podemos experimentar tudo, isso não nos podem tirar. Daí falarem dos sete ofícios, porque não sei deixar de estudar, de pensar, de trabalhar, de desenvolver e de me aperfeiçoar como ser humano. Neste momento tenho um projeto chamado Artes Terapias, de educação pela arte para crianças e para gerontes, tenho uma parceria com a Art Clinique onde dou continuidade a este projeto e estou em Tomar a escrever o meu romance.

Para quando uma nova exposição?
Já está alinhavada. Já me perguntaram se deixei de pintar (risos), mas também preciso do meu tempo. Desta vez vou ter os suportes grandes que pinto normalmente, mas também desenhos mais pequenos.

E o romance?
Estará pronto em 2013. Já tem vários títulos, um deles é Boa-Noite Meu Amor. O “boa-noite” é uma coisa muito particular…

Tem dois filhos.
A Helga, de 20 anos, e o Diogo, de 17. São dois seres humanos maravilhosos. Cheios de qualidade humana, grandes companheiros. O meu filho tem um sentido de amar extraordinário. Ela é mais livre, mais independente. Herdou tudo de mim, até a inquietação, mas não morreria de amor. São dois bons filhos, sempre muito preocupados. Às vezes acho que eles é que são os meus pais (risos). Não tenho nenhum medo da vida com eles ao meu lado.

É uma mulher feliz?
Sou, muito! Que bom para mim ter a humildade de gostar de aprender. Tenho tudo o que pedi a Deus. Quando era pequenina dizia que queria ser artista. Podia ter sido tudo, tenho uma estrutura familiar que me permitia fazer tudo isso, mas isso não era o que eu queria ser. E quero que as pessoas entendam que a arte não é para elites, a minha mensagem é para todos, porque todos têm direito a amar.

É amada com a mesma intensidade com que ama?
Sou amada pelos outros, mas sinto que me falta alguma coisa, porque todos têm a sua maneira de amar. Cada pessoa tem a sua inteligência para amar, até porque viver nesta intensidade em que vivo… Por exemplo, em minha casa há uma intensidade muito grande em tudo o que se faz. Se vamos fazer um bolo, vamos todos, a minha filha compra uns sapatos novos e vai tudo para a sala ver. É um momento! É um desgaste brutal, mas já estamos habituados a isso, se falta a luz, que bom, é uma casa cheia de velas (risos). Portanto nunca posso querer que as outras pessoas me amem desta forma…

Texto: Carla Simone Costa; Fotos: Paulo Lopes; Produção: Nucha; Maquilhagem e Cabelos: Ana Coelho com Produtos Maybelline e L`Oréal Professionnel

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