Pedro Barroso
Testemunho emocionado

Nacional

O ator deixou um relato tocante na sua página de Facebook…

Sex, 04/12/2015 - 21:31

Estreou-se em Morangos com Açúcar, onde fazia par romântico com Inês Aleluia e firmou o seu talento representativo em inúmeros papéis, podendo ser visto atualmente em A Única Mulher, a telenovela da TVI, a dar vida a Rodrigo Dias.

 

Na sua página pessoal de Facebook, Pedro Barroso deixou um testemunho na primeira pessoa, emocionado e tocante sobre uma experiência recente. Vale a pena ler…

 

Reproduzimos na íntegra o testemunho de Pedro Barroso, tal como foi publicado:

 

“ALEXANDRE O GRANDE… Este foi o senhor que me fez parar hoje… Saí das gravações em exteriores esganado de fome, apetecia-me dar aquela facada gigante na dieta… ups! Apetecia-me algo parecido com chimarrão. Mas lembrei-me que seria triste a imagem de mim próprio a lambuzar-me sozinho a jantar em tal espaço… Amigos a trabalhar e eu esganado… Abortei a ideia e nem parei em casa, fui até Belém. Na ideia firme de dar a facadinha na dieta e ir ao pão, pão, queijo, queijo sempre era mais rápido e na parte de cima, a uma quinta-feira, não deve ter muita gente… e posso comer aquele shoarma cheio de molho…OMG! Quando chego, avisto um lugar, guardado por um senhor que me ajudou a estacionar… Perfeito, logo ali à frente. Demoro algum tempo a sair do carro, tiro umas moedas para poder contribuir por aquele lugarzão feliz… E é quando me deparo com o Alexandre (só vim a saber o nome dele cinco minutos depois). Cabelo e barba branca, branca e amarela de fumo e sujidade… Ele parece-me ter 60 e poucos, muleta, por mais agasalhado que estivesse tremia de frio, corpo frágil por debaixo daquela roupa toda… Dei-lhe uns 70 cêntimos e reparei na mão dele, quando os deixei… Tremia das mãos… E, por cima dos óculos, olhou-me, agradeceu e perguntou: ‘carro fechado?’ Olhei para trás e realmente não… Tinha-me esquecido… (Agora, aqui, entro eu) Às vezes, esqueço-me… Às vezes, esqueço-me de mim… Em tempos, essas vezes foram várias vezes… Quantas vezes tropecei… Quantas vezes não me senti, não prestei atenção… Errei, porque não soube fazer melhor… Porque não declarei guerra aos meus problemas… Porque não parei e não me sentei comigo… Hoje é um dia de cada vez… Vou fazendo isso… Às vezes, no entanto, ainda me esqueço… Alexandre, o Grande, fez-me parar… Por alguma razão e não só por me ter chamado a atenção por causa do carro… Ele fez-me parar… Agradeci e perguntei-lhe se estava tudo bem, se estava com frio… Um ‘não’, despachado, foi a resposta que veio ter comigo. Se tinha fome? Disse-lhe que ia comer ali ao lado, perguntei se queria uma sopa quente. Outro ‘não’ despachado, mas agora atrapalhado… Insisti; ele disse-me que não que os senhores ali de um restaurante lhe costumavam dar sopa… Insisti mais uma vez… ‘Então e se o convidar para jantar comigo?’. Sai do frio, faz-me companhia, pois eu vou jantar sozinho e não me apetece nada e vamos ao seu restaurante… Os olhos abriram em género de dúvida… Eu testei dar dois passos em frente e dizer ‘vamos embora’… E RESULTOU! Lá veio ele, cambaleante, de muleta e com meio sorriso a querer sair… E lá vim na conversa com ele… Na qual nos apresentámos e me começou a falar do seu local de trabalho, a rua onde estaciona carros. Bem não revelando muitos pormenores da vida alheia… Fiquei a saber, enquanto jantávamos que o Alexandre viajou imenso. Nascido em Angola, veio novo para Portugal com os pais, viveu entre Tomar, Castelo Branco, homem de várias aptidões e ofícios. Trabalhou em restauração também em segurança… Viajou bastante pela Europa em trabalho… Foi atraiçoado por um acidente de trabalho e esteve internado… Hoje, devido à opção de não ter sido operado às vértebras, sofre de imensas dores, não consegue subir e descer escadas e a sua mobilidade não é a melhor. O Estado dá-lhe uns míseros cento e poucos euros, durante ano e meio dormiu na rua, debaixo de uma janela que chamava sua, ao pé de um jardim, onde montou o seu cantinho. Hoje, tem uma casa onde não existe água nem luz. A casa custa 160 euros, dos cento e pouco que o Estado lhe dá… E o restante consegue a arrumar carros e, pelo que percebi, é querido por ali e sempre lhe dão uma ajuda… Como ele diz, todos os dias vai trabalhar das 12 às 20 horas… Perguntei, inúmeras perguntas eu lhe fiz… tentando perceber, sem esmiuçar muito, nem ser invasivo. Foi-me surpreendendo a cada resposta… E dei por mim a pensar que realmente os meus problemas pouco são… A verdade é que foi o meu melhor momento do dia… Dei por mim a querer saber mais e mais sobre ele… E à mesa fomos ficando… Entre conversa… Ao sairmos do restaurante, perguntei se o podia levar a algum lado. Ele disse que não, que eu ia gastar gasolina e já tinha gasto muito dinheiro num farto jantar. Eu insisti, afinal de contas tinha-o privado de ganhar dinheiro durante aquela hora e meia para ele jantar comigo. Insisti e ele lá cedeu… Mora do outro lado da cidade, tem que a atravessar no último autocarro e gerir os trocados para voltar no dia a seguir. Pelo caminho, percebo que não toma banho sempre que gostava e que corta a barba quando pode, mas, com um sorriso, diz que dá para 6 meses… Lá atravessamos a cidade junto ao rio… E percebo que ele, de anos de caminhadas e deslocações a pé, conhece cantinhos incríveis, árvores de fruto de algumas casas… E quando avistamos a Expo e as suas torres, ele, com uma gargalhada feliz, diz ‘a minha torre… a torre do Alexandre o Grande (torre da GALP)’. Mais à frente, deixo-o onde ele me pediu, perto da zona onde ele mora. Saio do carro para me despedir e agradecer a companhia dele. Ele abraçou-me e agradeceu igualmente… Fiquei de passar por Belém, perto de onde moro, para saber dele… O que ele não sabe, mas pode ter sentido, é que é realmente verdade: ele fez-me parar… Parar para sentir, para pensar, para estar… Na verdade, sinto que lhe dei algo… mas em segredo, ele não sonha o que me deu a mim… Chego a casa e dou voltas e voltas ao meu pensamento, onde procuro soluções e formas de o ajudar, de lhe poder proporcionar algo… Falou-me da sua paixão por cozinhar, que adorava cozinhar cozido de cabrito, que aprendeu com o seu pai… Eu sei lá… Fiquei com vontade dele, de o ouvir, sei que em breve vou passar por lá para lhe roubar momentos e sorrisos… A verdade é esta: foi uma troca justa… E agora, penso, ele faz parte dos nossos, daqueles que englobei na minha expressão, e os nossos, quando fizeram de mim gato/sapato para usar como estandarte de alguns que não eram a favor dos imigrantes… Quando, na verdade, nada de pejorativo foi escrito. Mas li algures que eles recusaram vir por ausência de condições, que estavam chateados… Tenho a certeza que o Alexandre, o Grande e tantos outros Alexandres diriam obrigado por metade… Estes são os nossos, que têm história, que precisam de ajuda… Ajuda que pode até mesmo ser de dar-mos um pouco do nosso tempo… A verdade é esta… Não sou nem melhor, nem pior, com todos os meus erros e virtudes… Vou construindo o meu caminho… Decidi partilhar este pedaço da minha história feliz de hoje”…

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