Paula Coelho
A infância marcada por dificuldades financeiras e pela morte dos pais adotivos

Nacional

Paula Coelho abriu o coração a Júlia Pinheiro, na SIC, e falou sobre a infância marcada pela pobreza e pela morte dos pais adotivos

Dom, 14/03/2021 - 20:00

Numa conversa intimista, Paula Coelho, mais conhecida pela menina do “Núticias”, da SIC Radical, abriu o coração a Júlia Pinheiro e revelou ter tido uma vida tumultuada por altos e baixos. Em retrospetiva, a infância da ex-apresentadora, marcada pela pobreza, foi dura, mas a morte dos pais adotivos acabou por ser uma das fases mais complicadas e o ponto de partida para um período de rebeldia. 

No programa das tardes da SIC, emitido nesta terça-feira, dia 9 de março, a comunicadora, de 43 anos, contou que, tanto ela como a irmã gémea, Sandra, foram adotadas ainda recém-nascidas. “A minha mãe adotou-nos com oito dias”, começou por dizer. “Só soubemos que éramos adotadas quando a minha mãe estava às portas da morte”, referiu. “Um dia ela [a mãe biológica] chegou ao pé da minha mãe [adotiva] com duas meninas ao colo e disse ‘Que meninas tão lindas, não me quer dar uma’ e a minha mãe biológica, que não sei o nome, disse ‘Até lhe dou as duas’. Não sabemos como é que tudo se processou. Ela na altura ficou connosco, criou-nos como se tivéssemos nascido em casa”, acrescentou Paula Coelho.  

A ex-apresentadora cresceu com muita pobreza

Num regresso ao passado, a ex-apresentadora confessou que viver e crescer num ambiente de pobreza extrema não a afetou, mas sim, contribui para a formação do seu caráter: “Não me incomoda minimamente dizer que vivi numa barraca, que não tínhamos casa de banho, que pedíamos esmola… porque isso fez de mim a pessoa que sou hoje.”

Paula revelou ainda a Júlia Pinheiro que após a morte do pai adotivo, a mãe – a única que conheceu – foi atingida por uma grande depressão, bem como, foi invadida pelo vício do álcool, o que provocou a sua morte, um ano depois. “Ela vai-se muito abaixo depois do meu pai falecer, foi tipo descalabro. E ela não se levanta da cama durante quase três meses. Chegamos a ir comprar álcool de madrugada. Ela morreu de cirrose hepática passado um ano”, afirmou. 

Adolescência marcada pela rebeldia

A morte dos pais adotivos foi um período complicado para Paula Coelho. Tanto a ex-apresentadora como a irmã ficaram órfãs e desamparadas. O único apoio surgiu da irmã mais velha, que as recebe por uns meses no seu apartamento T1. “Ela fica connosco, mas também não consegue ficar durante muito tempo porque não tinha como. Ela já tinha um filho, nós éramos mais duas, depois ela entrou num processo de separação”, confidenciou a entrevistada a Júlia Pinheiro. 
Porém, a forma de Paula e Sandra lidarem com o luto e com as peripécias que a vida lhes pregava passou por rebelarem-se. “Nós não fomos inundadas por tristeza, nós fomos inundadas por rebeldia. Tudo fruto de revolta”, disse, acrescentando: “Nós éramos muito insurretas. Éramos gémeas. Não queríamos cumprir regras, então a minha irmã [mais velha] pôs-nos num colégio de freiras.”

A passagem por um colégio de freiras, em Alvalade, exclusivo para meninas, acabou por não correr muito bem: “Não tenho assim boas memórias. Tenho muito poucas. Não nos encaixamos.”
Posteriormente, aos 15 anos, Paula Coelho e a irmã, Sandra, foram viver sozinhas e começaram a trabalhar para sobreviver. “A minha irmã arranjou-nos um quarto. Acho que nem tivemos uma vida de adolescentes porque aos 15 anos estávamos a viver sozinhas”, assegurou. 

“Não havia dinheiro. Era um dia de cada vez.” Num discurso emotivo, a antiga apresentadora recordou as dificuldades que passara. “Lavar a roupa à noite para vestir de manhã, porque não tínhamos roupa. Estudávamos das oito às seis da tarde, ainda era naquela altura em que a escola era o dia inteiro. Depois, às sete da tarde íamos trabalhar para a hamburgueria, saíamos à meia-noite/uma da manhã. Só jantávamos na hamburgueria e às vezes ainda tínhamos que lavar a roupa. Às vezes [a roupa] ia molhada. Levávamos as calças de pijama por baixo das calças de ganga porque a roupa ainda estava meio húmida”, relatou Paula. 

No entanto, apesar das adversidades, a menina do “Núticias” conseguiu terminar o secundário, que era um objetivo que prometera à mãe adotiva. “Prometemos à nossa mãe que íamos terminar o 12º ano, depois ficámos uns anos sem estudar. Anos mais tarde, licenciei-me”, referiu. 

Para a antiga comunicadora, este período de vida foi marcado, principalmente, pela sobrevivência. “Tínhamos que trabalhar, se quiséssemos comer”, afirmou. E continuou: “Não querendo erguer-me uma estátua, mas isso fez a pessoa que eu sou.”

“A vida podia ter feito de mim um calhau”

Segundo o rosto do formato “Júlia”, da SIC, Paula é vista como uma pessoa meiga e afetuosa. A resposta da convidada especial foi perentória: “A vida podia ter feito de mim um calhau. Acho que fui rígida quando tive que ser, tomei más decisões, mas acho que isto faz parte. Há uma coisa de que me orgulho, que é de todos os princípios, de todos os valores, tudo o que consegui absorvi sozinha. Obviamente muitas das vezes em contato com outras pessoas, outros profissionais. Eu não tive ninguém para me incutir o que é certo ou o que é errado. (…) Não fumo, não bebo e nem um café bebo. Nunca me meti assim em nada…  para umas pessoas é um bocado contrassenso pelas algumas opções que tomei uns anos mais tarde… por aquilo que eu fiz, achavam que representava a pessoa que eu sou. Nunca representou, nem representa.”

A carreira profissional de Paula Coelho foi marcada e reconhecida pela sua participação no programa de sucesso da SIC Radical, “Núticias”. Esta fase da sua vida proporcionou-lhe algum conforto monetário, porém, ficou aliado a um estigma da menina que se despia na televisão, que a acompanha-a até aos dias de hoje. 

Texto: Carolina Sousa; Fotos: Reprodução SIC e redes sociais

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