O trajeto televisivo de Manuel Luís Goucha
Do desaire ao sucesso: a história do «Senhor Televisão»

Nacional

«Então andamos aqui anos e anos e vem o ‘ca***’ do cozinheiro e faz o programa»

Dom, 30/12/2018 - 11:00

Manuel Luís Goucha aceitou o convite de Fátima Lopes e foi o grande entrevistado do Conta-me Como És, da TVI, deste sábado, dia 29 de dezembro. 

A conversa, cativante do início ao fim, teve vários temas: a infância do apresentador, a saída de Cristina Ferreira para a SIC, o trajeto da estrela maior da TVI e o casamento com Rui Oliveira.

O «tio» Goucha, como é muitas vezes chamado pelos mais novos, saiu das «saias» da mãe com 17 anos, em busca do sonho na capital. Ser apresentador de televisão.

Antes disso, trabalhou alguns meses numa livraria, mas foi despedido. «Eu não vendia livros. Eu lia os livros e fui ‘posto na rua’», revela, rindo às gargalhadas.

O início da carreira de ator dá-se no Teatro do Povo, no Parque Eduardo VII, com a peça «Avenida da Liberdade». Pouco tempo depois foi dispensado. Entretanto, foi chamado por Raul Solnado para outra peça, no Teatro Villaret, mas o «teatro comercial tem outro ritmo», como revela o agora apresentador. «Depois chamaram-me para a RTP», conta.

Fátima Lopes mostra umas imagens da década de 80 a Manuel Luís, quando este já estava na RTP. Apesar de rir com o que viu e de se achar mais velho há 30 anos do que agora, algo saltou-lhe à vista: «Eu nunca usei ‘teleponto’. O teatro ajudou-me muito, a decorar os textos e fazer tudo ‘direitinho’».

O fracasso de «Momentos de Glória» e a depressão 

Já na TVI, em 1993, Manuel Luís Goucha apresenta o programa Momentos de Glória. O projeto foi um fracasso, a nível de audiências, apesar de todo o investimento. 

«Esse programa foi um fracasso porque, por exemplo, o sinal não chegava. A minha mãe em Coimbra não conseguia vê-lo», começa por explicar.

«Era um programa megalómano. As vedetas eram muito bem pagas. Mas agora vamos ter de ser húmildes. Há uma idade para se fazerem as coisas. Se fosse agora, fá-lo-ia muito bem. Havia uma estrutura intelectual e cultural muito diferente. Eu não fui capaz de reconhecer que não era capaz. Tive de repensar a minha vida toda. Foi aqui que tive a depressão. Ainda por cima estava no fim de uma relação amorosa de 11 anos», continua.

«Tive de recomeçar do zero. Voltei à RTP Porto. Foi aqui que eu percebi que a fama não pode ser o objetivo. Se vier, em reconhecimento do trabalho, é uma dádiva da vida», termina.

O momento de viragem na carreira de Manuel Luís Goucha 

Ainda sobre o fracasso de Momentos de Glória e o regresso à RTP, Goucha conta à colega de profissão que houve um momento muito importante naquela época. «Há uma crítica que é decisiva, de uma socióloga, Maria Filomena. Na altura a Teresa Guilherme estava a apresentar o programa «Não Se Esqueça da Escova de Dentes» e a Filomena disse uma frase demolidora: ‘Tudo o que em Teresa Guilherme é genuíno, em Manuel Luís Goucha é parvo, postiço e piroso’. Os 3 p’s. Um dia, mais tarde, 20 anos depois, entrevistei-a e perguntei-lhe: ‘Depois desta conversa, ainda me acha parvo, postiço e piroso?’ Ela ficou muito espantada e eu expliquei-lhe que tinha sido ela a fazer-me mudar. Ela disse-me: ‘Sabe uma coisa, na altura eu também era muito parva, tinha de dizer estas coisas para me fazer notar’.»

«Vem o ‘ca***’ do cozinheiro e faz o programa»

Com a depressão, Manuel Luís Goucha teve de alterar a forma de pensar: «Nenhuma crítica me demove, nem nenhum elogio me enaltece». No entanto, as críticas muitas vezes também vêm dos colegas. «Então andamos aqui anos e anos e vem o ‘ca***’ do cozinheiro e faz o programa», conta um exemplo. «Eu percebo, eu não tinha de fazer aquele programa, mas era um programa que todos queriam fazer.»

«Praça da Alegria» e o regresso à TVI

Depois do desaire na TVI, foi no programa «Praça da Alegria», em 1995 e ao lado de Anabela Mota Ribeiro, que Manuel Luís Goucha regressa às manhãs televisivas.

Mais tarde, conduz o programa com Sónia Araújo. Uns anos depois, o apresentador volta a conquistar a TVI, que o contrata novamente. 

«O Hélder Reis é o meu maior amigo e o único amigo que tenho em televisão. Foi o único que soube da mudança na altura», conta.

«Mal acabei de assinar o contrato, começou logo a surgir em rodapé a notícia. Coisas ‘à Zé Eduardo Moniz’ [risos]. Nesse primeiro programa sem mim, a Sónia Araújo disse, em direto, que eu tinha ‘abandonado’ a Praça da Alegria. Demorei dois anos a reconquistar o público, na TVI», desabafa.

«Eu assisti a isto. Foi numa terça-feira. Não doeu. Primeiro senti: ‘o programa já não é meu’. Não acredito que a frase tenha sido dita por iniciativa da Sónia, foi pela direção da RTP daquela altura, magoada com a minha decisão. Ainda hoje as pessoas que mudam de projeto são apelidadas de traidoras. No entanto, senti que aquilo ia fazer com que o publico não me perdoasse.»

Manuel Luís Goucha foi o anfitrião de Olá Portugal, antes do arranque de Você na TV, com a jovem Cristina Ferreira. Os resultados do primeiro programa não foram os melhores, mas «o José Eduardo Moniz nunca os deixou cair nesses dois anos». »Por isso é que tenho esta fidelidade canina para com ele», afiança o marido de Rui Oliveira

Fátima Lopes recorda que nessa altura foi sua adversária e que ainda chegou a vencê-lo, até ser completamente derrotada pela dupla Goucha-Cristina.

«Uma coisa é trabalhar para a RTP que ‘está-se nas tintas’ para as audiências. Outra coisa é trabalhar para um canal privado, onde os resultados têm de existir», revela.

Saiba o que tem a dizer Manuel Luís Goucha sobre a saída de Cristina Ferreira da TVI, aqui. 

Texto: Redação WIN/Conteúdos Digitais; Fotos: Reprodução Instagram 

 

 

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