O testemunho emocionante dos pais do Zé do Pipo
«O primeiro sentimento que eu tive foi correr toda a costa de Peniche»

Nacional

Rosa e Carlos, pais do cantor Nuno Batista, foram entrevistados por Manuel Luís Goucha. O casal mostrou-se inconsolável com o desaparecimento do filho

Qui, 10/01/2019 - 14:30

Nuno Batista, cantor português conhecido pelo público como Zé do Pipo, está desaparecido desde o dia 5 de novembro do ano passado. O veículo pessoal de Zé do Pipo foi encontrado no dia seguinte em Peniche, junto a uma ravina, porém, nunca houve sinais do corpo. Nada confirma a tese de um suicídio, mas os pais dizem a Manuel Luís Goucha que a esperança já acabou.

O parceiro televisivo de Maria Cerqueira Gomes viajou até Peniche para falar com Rosa e Carlos. Os pais do cantor deram uma entrevista emitida esta quinta-feira, dia 10 de janeiro, na TVI. Em lágrimas, os progenitores do artista confessam que o procuraram desde a primeira noite de desaparecimento.

«As autoridades deram um princípio, mas terminaram as buscas. Acabaram por dizer que tinha de acabar e que não podiam fazer mais nada. Quando nós perguntamos se sabem mais alguma coisa eles perguntam se nós sabemos ‘se foi ali?’», começa por contar Carlos.

O «ali» é a ravina em Peniche, onde o carro de Nuno Batista, de 40 anos, foi encontrado com o telemóvel, os documentos e o casaco lá dentro. 

«Nós não podemos dizer diretamente que foi ali. Não vimos», reage a mãe. 

«Era bipolar»

Rosa e Carlos estão convencidos de que o filho cometeu suicídio e contam que a decisão pode ter sido tomara devido «a doença que ele tinha, era bipolar».

Antes do desaparecimento, o artista «recorreu a coisas para ver como estavam a marés, chegou a dizer ao psiquiatra que o faria e nós temos no pensamento que ele fez».

«[O Nuno] chegou a dizer à mulher, que se um dia fizesse, que lhe perdoasse. Deixou de lidar com a família e de dizer diretamente à família que não sentia nada pela vida», relatam.

Pais tentaram de tudo para o proteger

«Nós fomos reagindo, não o deixando sair de casa, conduzir e, dentro do possível, fomo-lo resguardando e dando-lhe a assistência médica que ele precisava.»

Uma semana antes de desaparecer, Zé do Pipo tentou tranquilizar a família mostrando que estava a melhorar. «Ele foi um grande ator. Mostrar que estava a melhorar. É a partir daí que nós começamos a ver o que é que ele fez. Ele premeditou para que ao pequeno espaço que nós lhe déssemos fazer o que nós estamos a pensar», explica Carlos.

«No dia 1 de novembro, no Dia de Todos os Santos, ele disse à mulher que ia dar uma volta de bicicleta e deslocou-se até Peniche.» Na altura, foi até ao sítio onde viria a ser encontrado o carro. 

Nesse dia Rosa e Carlos falaram com o filho ao telefone. «Ele atendeu o telefone, coisa que não fazia há muito tempo. Ele via o telefone e não atendia. Ficava ali estático a olhar para o telefone e não atendia. Não tinha ação para ir atender o telefone e nesse dia atendeu», explicam.

A conversa havia deixado os pais mais «descansados». «’Então filho estás melhor?’ E ele: ‘Estou agora a arrumar a bicicleta, fui até ao Baleal. E a mãe disse-lhe: ‘Ai filho tão bom, olha que isso é muito bom fazes ginástica’.»

Nesta conversa, o pai também lhe perguntou se não tinha dores, porque era algo de que se queixava muitas vezes. Ao que Nuno lhe respondeu: «Não pai, estou ótimo».

Anos antes, em 2016, na mesma altura do ano, Nuno Batista já tinha tido surtos psicóticos. «Antes nunca tinha tido nada», dizem. O artista era acompanhado por um psiquiatra que tinha sido aconselhado à família.

«Nesse momento esteve quatro meses parado e depois, em 2017, já estava a trabalhar novamente. Deixou por completo a medicação nessa altura, por auto recriação dele. Porque se sentia muito bem.»

A mãe disse-lhe: «Filho, não faças isso porque tens de fazer o desmame». Mas Nuno Batista não quis dar ouvidos aos conselhos da progenitor. «Mãe, eu sinto-me bem, por que é que eu vou tomar mais medicação? Eu sinto-me tão bem», responde a Rosa no início de 2017.

Zé do Pipo completava em 2019 dez anos de carreira

«Desde os 16 anos que andou em bandas de garagem e depois andou numa banda de baile. Depois foi quando começou nesta vida do Zé do Pipo. Ia fazer agora os dez anos em 2019 que estava com 
esta personagem do Zé do Pipo», recorda o pai. 

Quase a completar dez anos de carreira, Nuno Batista teve uma recaída relacionada com depressões e os médicos proibiram-no de continuar a ter a profissão de cantor. 

«Teve esta recaída em agosto. Esteve bem em 2017. 2018 até meio de agosto esteve bem e depois começou a sentir aquele vazio. Sair de casa para ir para os espetáculos já era um sacrifício», explica Carlos. 

O médico ainda tentou adaptar a medicação à profissão e as reações de Zé do Pipo, mas acabaria mesmo por ter de abandonar os palcos. Os pais consideram que essa foi a «gota de água» para Nuno tomar a decisão do suicídio. «Tudo nos leva a crer que sim. A partir dessa altura foi quando ele caiu na solidão.»

«Ele não me fazia sofrer a mim, ao pai e aos filhos»

Uma vez que nunca houve sinais do corpo, Manuel Luís Goucha perguntou-lhes se não colocam a hipótese de Nuno Batista ter fugido. «Não, eu conheço o filho que tenho. Ele não me fazia sofrer a mim, ao pai e aos filhos. Pedimos para ele não fazer nada», diz a mãe. 

«No dia em que a minha nora me liga a dizer que o Nuno estava desaparecido… O Nuno saiu de casa às 14h30, a dizer que ia ao banco e à farmácia e foi. Fez um depósito, não foi à farmácia. Depois a minha nora até lhe disse que à tarde ia meter castanhas a assar. ‘Quando tu vieres elas estão assadas’ e ele disse-lhe ‘está bem, eu vou num instante, faço um depósito e já venho’», relata o pai do cantor.

A noite chegou e ninguém sabia do paradeiro de Nuno. «Meteu-se a noite e ele sem aparecer. A minha nora ligou para a polícia a dizer que havia uma pessoa nesta situação que estava desaparecida. A seguir ligou-me e eu estava a trabalhar», continua.

«O primeiro sentimento que eu tive foi ir correr toda a costa de Peniche. Eu estive no sítio onde foi o caso. Estive lá à noite e ele com o telemóvel desligado. Eu depois vim avisar a minha mulher, tive de arranjar amigos para estarem aqui à porta, para quando eu lhe viesse dar a notícia não estar sozinho», confessa Carlos com a voz embargada. 

«O pequenino fez perguntas nos primeiros dias»

Dois meses após o desaparecimento, os pais continuam a aapoiar-se um no outro. «Pedimos muita força um ao outro. E é assim que nos apoiamos. Pensamos que temos de continuar a vida, que temos os nossos netinhos para apoiar.»

Nuno Batista e a mulher, Celeste, são pais de dois filhos, David, de 16 anos, e Gabriel, de três. «O pequenino fez perguntas nos primeiros dias. ‘Não está cá o carro do pai’, dizia. E a mãe disse-lhe: ‘O pai tem dói dói e foi curar’», relatam os avós dos meninos.

«Eu e o pai é que fomos dar com o carro»

Em lágrimas, Rosa conta que o filho escolheu o sítio onde o ensinou a nadar. 

«No segundo dia foi quando demos com o carro. Andei a noite toda à procura do meu filho, eu disse ‘tenho de encontrar o nosso menino’. Foi uma loucura, quando eu vi o carro do meu filho e eu não vi. Só me apetecia era destruir aquilo tudo. Eu e o pai é que fomos dar com o carro», relata a chorar.

«Foi para onde ele quis ir foi para onde eu o ensinei a nadar», diz.

«Um amor de um filho. Toda a gente o amava»

São várias as teorias que se lêm nas redes sociais, apontadas pelos utilizadores. «Dizem que o meu filho fugiu com dívidas, ele não tinha. Ele quis levar a vida demais», justifica a mãe. 

Agora, Rosa e Carlos apoiam a nora e os netos. «A minha nora é como seja uma filha.» E Manuel Luís Goucha remata: «Faz falta um corpo». 

Ao que a mãe reage: «Sim, para me abraçar a ele, para me despedir do meu filho. Queríamos fazer a homenagem que ele merecia. Um amor de um filho. Toda a gente o amava. (…) É o amor da minha vida, os meus netos e o meu marido, mas o meu filho é o amor da minha vida para sempre. Para toda a vida até um dia nos encontrarmos», finda a mãe inconsolável.

Texto: Redação WIN – Conteúdos Digitais; Fotos: Impala e reprodução Instagram

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