Matilde Breyner
Fala sobre interrupção da gravidez aos seis meses: “Foi um ato de amor”

Nacional

Matilde Breyner abriu o coração a Manuel Luís Goucha, na TVI, sobre a interrupção da gravidez da filha, Zoe, aos seis meses.

Qui, 10/11/2022 - 20:00

Matilde Breyner emocionou-se e emocionou Manuel Luís Goucha ao revelar tudo o que aconteceu com a filha, Zoe, fruto do casamento com Tiago Felizardo, e que levou a atriz a interromper a gravidez aos seis meses de gestação, em julho deste ano. Matilde Breyner salientou que decidiu dar esta entrevista para encerrar um ciclo e que o faz também pelas muitas mulheres que passaram pelo mesmo que ela. A atriz diz ainda que se vê com filhos no futuro, mas que não quer fazer planos.

“Naquela altura não conseguia explicar o que aconteceu, mas ao mesmo tempo eu recebi tanto carinho… eu explico hoje o que aconteceu por causa dessas pessoas, tenho de ser verdadeira e mostrar a outras pessoas a quem aconteceu algo assim, que não estão sozinhas”, começa por dizer.

A atriz assume que a gravidez estava a correr bem e que estava tudo certo. “Até que fomos fazer a ecografia morfológica, uma das mais importantes e que pode detetar problemas. E, detetou. Começaram a aparecer umas coisas, nós começamos a ficar preocupados, eu tentei desvalorizar aquilo, mas fui ao google e comecei a perceber que se calhar era sério, até que a partir daí fomos fazendo vários exames. Os médicos desde o início disseram o que era e que era mau. Até fazer a amniocentese tive sempre na esperança de não ser verdade”, conta Matilde Breyner, escudando-se a revelar qual era a situação em si por querer reservar para si.

“Estive sempre na esperança, na angustia e a trabalhar na Rua das flores. E não falhei. E foi o que me deu forças. Partilhei logo no primeiro dia com a Ana Bola, ela não quis acreditar, sofreu tanto como eu”, partilha a atriz para depois contar tido o processo que se seguiu.

“A partir do momento em que o médico me deu a confirmação do que ela tinha e era 100 por cento certo, eu o Tiago ficámos dois dias em silêncio, não falámos sobre o assunto. Cada um a digerir aquilo na nossa cabeça. Eu tinha muito medo se não tivéssemos os dois na mesma página até que um dia, fomos para cama e eu disse ‘temos de falar sobre isto’. E eu disse a minha opinião é esta e ele disse que a dele era a mesma. E os médicos deram-nos sempre a hipótese de interrompermos a gravidez e foi isso. Aos seis meses. Foi um ato de amor, não era viável”, diz emocionada. Aliás, toda a entrevista foi dada com muita emoção.

“Tenho fé, sou católica e acho que Deus é amor e o que eu fiz… eu nunca pus em causa a minha decisão…  é amor, o que eu e o Tiago estávamos a fazer era um ato de amor. A partir daqui não há julgamentos. Eu estava tão em paz quando disse ao Tiago a minha opinião e a dele era igual à minha. O que me foi mais difícil foi o antes, o vir trabalhar, as incertezas… As nossas famílias respeitaram sempre”, assegura.

Matilde Breyner embrulhou Zoe numa manta e ainda hoje a tem

A atriz conta que entre fazer ter o resultado da amniocentese e ser internada passou uma semana. “Falámos com uma psicóloga, ela explicou tudo sobre o parto. E aconselhou-nos a enfrentar tudo, eu estive sempre acordada e foi isso que me salvou. Tive as dores normais do parto, epidural, contrações, senti-a a nascer, agarrei nela automaticamente. Mais vale enfrentar tudo do que depois arrependermo-nos por nunca a termos visto. O Tiago tirou imensas fotografias, já as vi obviamente, mas não é uma coisa que eu vá ver com frequência porque eu tenho a imagem muito presente em mim ainda. Mas conforta-me muito saber, que se um dia quiser ver, vou ao telefone e vejo”, sublinha.

Manuel Luís Goucha emociona-se no momento em que recorda que os dois atores deram muitos beijos à bebé e da despedida. Matilde percebe e segue a conversa acenando ao pedido de desculpas do apresentador. “Ela disse-me para levarmos uma manta, embrulhá-la nessa manta e depois levar essa manta para casa. Vir para casa sem nada é terrível. Foi a minha irmã que nos levou para a maternidade e tinha um presente para me dar, uma mantinha de linho, perfeita para embrulhá-la. Embrulhámos e tem o cheiro dela”, assume a atriz, para acrescentar:

“Fomos pais de colo vazio, questionei como ia chegar a casa, ver as roupas, presentes. Mas eu só queria chegar a casa, a minha cama. A Zoe é uma filha para mim. Ela está no céu, mas sou mãe.

Matilde Breyner assume que nos dias seguintes à maternidade viveu numa bolha e que entendeu que tinha de dar força a todos os que estavam à sua volta. “Para o Tiago foi mais duro naqueles dias de maternidade. Ele não podia dormir comigo, dormiu à porta da maternidade dentro do carro. A dor foi um com o outro, ele estava a trabalhar e não quis falhar, eu só estava com ele à noite, durante o dia tinha sempre a casa cheia, amigos, família, foram tratar de mim, levavam-me comida e quando ele chegava ficávamos só os dois. Foi um processo, foi irmos deitar e ouvir o outro a chorar, ao mesmo tempo eu olho para esses dias e parece que me pus numa bolha tão grande que senti que tinha de dar força a toda a gente. Não sei porquê”, recorda.

Apesar de todo o sofrimento causado, Matilde Breyner “voltava a viver aquele parto mesmo sem trazê-la para casa”. “Porque aquilo foi muito especial. Foi muito poderoso, nunca me senti tão poderosa na minha vida. Mudou-me completamente. Dei um salto gigante em maturidade, não quero saber das coisas, não estou com m#”&$, eu deixei de dar importância a coisas que me preocupavam tanto. Eu quero tanto viver a vida”, diz.

“Um bebé tão pequenino não tem cinzas. Saímos de lá sem nada”

A atriz sublinha a importância de se falar da perda gestacional e o quanto deve ser respeitado o luto. Matilde Breyner conta ainda que ela e Tiago fizeram o funeral à filha. “Nós fizemos um funeral, foi cremação”, conta.

Manuel Luís Goucha quis saber o que fizeram às cinzas e a resposta de Matilde Breyner foi surpreendente. “Não há cinzas, um bebé tão pequenino não tem cinzas. Saímos de lá sem nada, e isso custou-me muito, eu queria plantar uma árvore com as cinzas dela , mas não, não tem o suficiente para fazer cinzas, pedi a madeira queimada, mas não há. É um caixão pequenino”, relata. Apesar de tudo, Matilde não tem dúvidas: “Sinto-me privilegiada por ter passado por isto, isto tornou-me melhor, hoje em dia tenho muito mais empatia por tudo à minha volta.”

Depois do funera, Matilde e Tiago partiram para Los Angeles onde o ator vive há mais de 10 anos. Estiveram lá cerca de um mês e meio até que a atriz recebeu o convite para integrar o elenco da peça Trair e Coçar é só Começar, em cena no Casino Lisboa. “Fomos para Los Angeles, e quando voltei vim trabalhar. E quando me ligaram para fazer a peça, eu disse ao Tiago que tinha de aceitar porque não tinha nada para fazer. Voltei, saí de casa para ir para os ensaios a chorar, não queria ir, não era agora que tinha de estar a trabalhar, era a altura para irmos para a maternidade para ela nascer… e foi a única vez que eu me quis revoltar. Revoltar-me contra a vida. Questiono para quê passarmos por isto? Sou uma melhor verão de mim. No primeiro dia de ensaios eu cheguei lá e percebi que estava no sítio certo e que era disto que precisava”, conta, para depois terminar.

 

“Hoje fecha-se um ciclo, queria tanto ter esta conversa contigo”, diz a atriz, agradecendo a conversa a Manuel Luís Goucha. O apresentador emociona-se mais uma vez e diz que gosta muito dela.

 

 

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Texto: Ana Lúcia Sousa; Fotos: Instagram

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