Maria João Luís
Testemunhou as cheias de 1967: «Ficou-me o trauma daquela noite»

Nacional

Maria João Luís viveu de perto a tragédia das cheias de 1967 e revelou a Cristina Ferreira algumas das suas memórias.

Qui, 05/12/2019 - 13:10

O dia 26 de novembro de 1967 ficou marcado pelas terríveis cheias que afetaram a costa ocidental, desde o concelho de Cascais a Alenquer. Maria João Luís foi uma das convidadas de Cristina Ferreira na emissão desta quinta-feira, dia 5 de dezembro, do programa das manhãs da SIC e revelou que tem algumas memórias traumáticas do acontecimento.

Maria João Luís vivia em Alhandra, tinha apenas três anos, mas garante que há coisas que não esquece daquela data. «Ficou-me o trauma daquela noite. O cheio a lodo, o cheiro a morte», começou por revelar.

A tragédia tirou a vida a quase 30 familiares da atriz, de 54 anos, que contou ter perdido «a avó, o tio, a tia e muitos primos». Apesar de só ter, na altura, três anos, Maria João Luís confessou que nunca se esqueceu, principalmente porque é um assunto muito recordado entre os seus, não só pelos familiares que se perderam, como também pelos amigos, que eram muito especiais. 

«As pessoas viviam ali, “naquela aldeia”. Não se fechava as portas, são pessoas muito ternurentas e próximas umas das outras. Na minha família não se diz “Estás bem?” sem antes dizer um ‘querida’ ou ‘querido’.»

As cheias de 1967 aconteceram muito próximas da quadra natalícia e, por isso, Maria João Luís revelou que a família nunca esquece o acidente nesta altura do ano. 

«No Natal éramos muitos. Mais que 30 talvez. O meu pai costumava cantar o fado da azenha velhinha, uma homenagem à tragédia.»

Ermelinda do Rio

Maria João Luís é a protagonista do monólogo Ermelinda do Rio, um espetáculo que recorda as cheias de 1967 e que tem andado a percorrer o País. À conversa com Cristina Ferreira, a atriz confessou que falou pela primeira vez publicamente da tragédia no Alta Definição,  de Daniel Oliveira. «Não quis aprofundar muito. São assuntos do passados nos quais não quero remexer. No entanto, o João Monge ficou comovido com o meu testemunho e escreveu um texto. Deu-mo, mas não quis pegar nele durante muito tempo», contou. 

Mas, depois, Maria João Luís mudou de ideias e decidiu aceitar o desafio do amigo. «O espetáculo é quase um beijo aos meus pais. Agora sinto-me em paz», confessou. 

Cheias de 1967: testemunho do presidente da câmara

 

João Mário Oliveira era o presidente da câmara de Alenquer na altura. A produção d’O Programa da Cristina também falou com o pintor, que se confessou muito perturbado com a tragédia.

«Eram árvores caídas nas estradas, ruas onde não se podia passar, casas destruídas… Estava em casa nem me apercebi que estava a chover torrencialmente. Quando cheguei à janela, vi que a água já estava a nível do primeiro andar. Algumas pessoas salvaram-se porque subiram para cima de postes e telhados. Ainda me lembro das lamurias, dos lamentos, dos pedidos de socorro de quem estava na rua, em cima dos telhados», recordou. 

«Lembro-me de ver cinco corpos humanos, todos em cima uns dos outros, e mortos. São episódios difíceis de recordar. No dia seguinte não havia lojas, não havia comida, não havia pão, não havia nada», acrescentou. 

As cheia de 1967 foram provocadas por fortes chuvadas, causaram cerca de 700 mortes e destruíram mais de 20 mil habitações. Esta foi considerada a pior catástrofe em Portugal desde o terramoto de 1755. 

 

Texto: Mafalda Mourão; Fotos: Arquivo Impala e Reprodução Redes Sociais

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