Luís Filipe Menezes
Chora a morte da mãe

Nacional

Leia aqui a mensagem de despedida que escreveu

Sex, 11/03/2016 - 10:34

Luís Filipe Menezes chora a morte da mãe. O velório realiza-se esta sexta-feira, a partir das 16 horas, na capela mortuária da igreja das Antas. Já a cerimónia fúnebre será sábado, às 11 horas, na Igreja Matriz de Ovar.

Leia aqui a mensagem de despedida que escreveu para a “mulher extraordinária” que foi a sua mãe:

 

“Há 62 anos e 7 meses conheci uma mulher extraordinária. Franzina, mas cheia de coragem e força de viver tratou de mim com um carinho e um amor do tamanho do mundo. Um dia levou-me à escola primária degradada e com a água da chuva a entrar por todos os poros do telhado, e perante um jovenzinho assustado na timidez dos seus seis anitos de menino de província, sussurrou ao meu ouvido com uma voz terna mas firme: “filho, a partir de hoje és um homem, vais tratar de ti com rigor, porque mais tarde eu e o teu pai vamos querer que cuides bem de nós”.
A partir daí procurei obedecer aquela mensagem, mas sem nunca deixar de observar o trajeto de vida daquela mulher que tanto me fascinava.
Aos 25 anos fez do nada o seu primeiro ato de destemida empreendedora, comprando, com a ajuda de amigos o colégio feminino de Ovar. Três anos depois comprava o colégio masculino, fundindo os dois.
No final da década de 60 o Colégio de Ovar, da Nossa Senhora da Esperança já era um dos maiores e melhores de um País onde um regime obsoleto pouco ligava à educação.
Naquele colégio os pobres não pagavam, os remediados pagavam pouco e a proprietária / diretora, com o seu enorme coração, era uma mãe admirada e respeitada para mais de um milhar de jovens adolescentes.
Anos depois, Veiga Simão, reconhecendo a excelência daquela obra, comprou o Colégio para fundar um dos primeiros Liceus da Primavera Marcelista.
Por este trajeto de exceção foi distinguida há meses com a medalha de ouro da Cidade de Ovar.
Depois, já com quase 50 anos, foi para a Universidade tirar um segundo curso, de Psicologia, na Universidade do Porto.
Porque adorava o ensino, e não tendo necessidade por passar por um caminho próprio de um adulto jovem, seguiu todos os passos da carreira docente pública até se efetivar na Escola Rainha Santa Isabel.
Depois de mais quase vinte anos de ensino, faz com que ainda hoje não calcorreie a cidade do Porto sem ser interpelado por ex-alunos seus, que não abdicam de recordar com afetividade a professora amiga de exceção.
Durante todo este período, apesar
do aviso feito ao tal menino de seis anos, nunca faltou com o seu Amor, Atenção Permanente, Carinho quase obsessivo, ao marido, ao filho, aos netos – que ajudou a criar no momento da minha carreira mais absorvente – e agora aos bisnetos que adorava.
Hoje, partiu, deixou-nos ao fim da tarde. Estamos todos muito tristes, mas felizes por termos usufruído tantos anos do fascínio da sua presença magnética e permanentemente alegre.
Hoje agradeço o apoio dos amigos, mas dirijo-o para o meu pai, outro exemplo, que com os seus 90 anos, vai trabalhar todos os dias do Porto para Ovar.
Neste momento é a ele que mais queremos apoiar, como a minha mãe teria querido, e tudo faremos para o ajudar a passar os cem anos com a atual vitalidade.
Até breve querida mãe, continua, agora mais perto de Deus, onde de certeza já estás, a zelar por nós”. 

 

Fotos: Impala

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