Júlio Isidro operado a um aneurisma
«Se aumentasse mais um centímetro já não saía daqui»

Nacional

Júlio Isidro foi operado a um aneurisma na aorta, que estava já com um tamanho muito perigoso. Terminado o susto, o apresentador, de 74 anos, relata o que sentiu e viveu : «Dizer que sim à vida, dizer que não à morte…»

Sex, 13/09/2019 - 8:11

A saúde de Júlio Isidro pregou-lhe mais um susto. O apresentador, de 74 anos, foi operado a um aneurisma na aorta no início do mês. A intervenção cirúrgica, No Hospital da Cruz Vermelha, em Lisboa, correu bem e Júlio Isidro já se encontra recuperado e confessa que «renasceu» para a vida. «De volta ao começo. Foi há uma semana, e o meu pai que faria anos nesse dia, esteve à minha cabeceira da esperança. Passou, passou e só ficam as memórias de uma vitória que vai cicatrizando com o tempo. Renasci…», relatou no Facebook no dia 11 de setembro. 

O consagrado apresentador da RTP entregou-se às mãos dos médicos depois de ter sido alertado que o aneurisma, detetado há quatro anos, tinha crescido, estava já com 5,9 centímetros, ou seja com um tamanho muito perigoso. 

Num longo texto publicado nas redes sociais, Júlio Isidro revela os momentos que passou, nomeadamente as palavras do médico antes da operação: «Sabe que tem um assassino silencioso dentro de si? Quando rebenta, a possibilidade de sobrevivência é muito baixa […] Tenha calma porque em princípio não vai morrer amanhã. Mas com esta dimensão começa a pisar os limites de segurança […] Agora que já fez uma angiografia às coronárias que estão em bom estado para a sua “antiguidade” tem que ser operado até ao fim do ano. Mas se aumentasse mais um centímetro já não saía daqui».
Agora que «já tem um novo acessório» no aorta [uma prótese de quatro ramos], como descreve, Júlio Isidro está de volta à vida. «Agora vou reunir com o Gonçalo Madail para lhe falar das ideias que pululam nesta cabeça de dinossauro excelentíssimo. Dizer que sim à vida, dizer que não à morte, dizer na despedida que o tempo é o mais forte…»

Recorde-se que em maio deste ano, Júlio Isidro submeteu-se a um cateterismo no Hospital das Cruz Vermelha. 

Leia, na íntegra, as palavras de Júlio Isidro sobre a operação ao aneurisma:

JÚLIO ISIDRO DISSE QUE SIM… À VIDA!
“Diz o médico: – O senhor tem um aneurisma na aorta com 5,9 centímetros.
– Já sabia há quatro anos mas com 4,5 cm. Foi num exame a uma pedra num rim.
– Sabe que tem um assassino silencioso dentro de si? Quando rebenta, a possibilidade de sobrevivência é muito baixa. Porque só agora veio a esta consulta?
– Não foi o prazer do risco. A minha biografia estava para sair, um balanço de vida, a RTP Memória dava-me a oportunidade de estar em televisão e ser respeitado após tantos desrespeitos que tive que engolir em silêncio durante anos. Deve ter sido por isso que a aorta dilatou como um balão – uma gracinha fica bem nestes diálogos no fio da navalha.
– Tenha calma porque em princípio não vai morrer amanhã. Mas com esta dimensão começa a pisar os limites de segurança.
– Então vamos operar porque a minha vida não é morrer. Tenho duas filhas a crescer ainda mais e uma mulher que é o euromilhões da minha existência. E os aviões, e os livros , e viagens e alguns amigos.
– Agora que já fez uma angiografia às coronárias que estão em bom estado para a sua “antiguidade” tem que ser operado até ao fim do ano. Mas se aumentasse mais um centímetro já não saía daqui.
– Isso é que não porque a angiografia que aqui fez pela mão do dr. Vasco Gama, deu direito a tanta exaltação mediática sobre a minha saúde que cheguei a pensar citar Mark Twain ” Parece-me que as notícias sobre a minha morte são manifestamente exageradas”.
– Mas porquê essas notícias. O senhor é conhecido?
O cirurgião não sabia quem eu era!
– É que eu sou a última abencerragem da televisão em Portugal ainda a trabalhar. Quer dizer que até já me poderia ter despedido desta vida em directo. Outra graçola para descerrar os dentes.
– A operação consiste em colocar-lhe uma prótese com quatro ramos por dentro da aorta na zona do aneurisma para que a circulação se passe a fazer através dela. Não lhe vou abrir a barriga porque tudo será feito pelas virilhas e pela axila. Alta tecnologia. A peça será feita na Alemanha e vamos ter que aguardar seis semanas.
– Se é material alemão já se sabe que é bom e para durar como os electrodomésticos lá de casa e o meu carro que vai nos 400 mil e nunca avariou. As piadas debaixo de nervos às vezes não têm graça nenhuma.
Esperei seis semanas com televisão e rádio a ocuparem-me,e ainda bem , férias curtas na Figueira com as meninas, ( a Sandra é sempre menina) e, discreto, entrei no Hospital da Cruz Vermelha no dia 3 para ser intervencionado no dia seguinte.
O que pensei nestes longos dias não partilho porque não quero recordar.
Elas estavam junto a mim quando na cadeira de rodas me conduziram para o bloco. Sorríamos todos de olhos molhados.
Quando a anestesista na fase do adormecimento me disse para pensar em coisas boas para sonhar ainda larguei a última piada:- Estou a pensar no Trump, no Bolsonaro e no Boris Johnson e vou ter pesadelos!
Uma gargalhada já ao longe e parti. Meus amigos , a anestesia é a antecâmara da morte, não é dormir, é sair desta vida.
Voltei, dizem que me queixei muito das costas, coisa que faço todos os dias, e guardo imagens difusas dos amores da minha vida que esperaram tantas horas pela vinda do menino cá de casa à terra.
Fui tão bem tratado. O meu novo acessório é lindo, dizem, porque nunca o vi, o corpo Clínico do HCV é superlativo de competência assim como o corpo de enfermagem que me mimou.
Um grande abraço ao meu cirurgião dr. António Gonzalez que mantém estoicamente o seu português com sotaque após 20 anos neste país.
Disse-me que que a operação era fundamental porque eu era ainda muito novo. Quando lhe revelei que vou fazer 60 anos de carreira e que os penso comemorar com alegria contando com o apoio da RTP, insistiu:- Ahora até já vou ver uma das suas emissões e escuchar el programa de rádio.
Nem dei tempo a muitas visitas porque emigrei para casa . Contudo o meu velho amigo aeromodelista Carlos Costa ainda lá apareceu. A ilustração retrata a visita de um maluco das máquinas voadoras a outro.
A minha eterna gratidão ao professor Manuel Pedro Magalhães, director clínico do Hospital da Cruz Vermelha. Aproximámo-nos no Auditório da Boa Nova num acto de solidariedade a favor do centro Juvenil padre Amadeu Pinto. Fizemos intervenções sobre coisas do coração e do amor para uma casa cheia. O que dei naquela tarde recebi em decuplicado.
Agora vou reunir com o Gonçalo Madail para lhe falar das ideias que pululam nesta cabeça de dinossauro excelentíssimo.
Dizer que sim à vida, dizer que não à morte, dizer na despedida que o tempo é o mais forte……
Julio Isidro”

 
Um dos rostos mais importantes da televisão nacional 

 

Júlio Isidro nasceu a 5 de janeiro de 1945 e desde cedo que a televisão marcou a sua vida. Ainda estudava no Liceu Camões quando Júlio Isidro pisou, pela primeira vez, um estúdio de televisão.

Aos 15 anos, estreou-se na RTP ao lado de Lídia Franco com o Programa Juvenil. Em 1968, entra no Rádio Clube Português. Nessa altura, trabalhava à noite, porque de dia era delegado de informação médica. Regressa à televisão com o programa de grande sucesso O Fungagá da Bicharada, que marcará para sempre o seu currículo. Nunca mais parou e hoje é um dos mais importantes rostos da televisão nacional. 

Texto: Ricardina Batista; Fotos: Impala e reprodução redes sociais 

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