Hell's Kitchen
Ljubomir Stanisic acusado de ser ‘sexista’ e ‘abusivo’

Nacional

Hell’s Kitchen, da SIC, foi alvo de várias participações por promover linguagens e comportamentos sexistas. O anfitrião, Ljubomir Stanisic também foi acusado de ser ‘abusivo’

Qui, 31/03/2022 - 19:30

Ljubomir Stanisic volta a ser alvo de polémica pelo programa no qual foi anfitrião e é acusado de ser ‘sexista’. Hell’s Kitchen, da SIC, foi alvo de várias participações na primeira edição, uma pela Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género e recebidas pela Entidade Reguladora para a Comunicação Social.

Segundo a TV Mais, de acordo com o que consta nas participações descritas na deliberação do Conselho Regulador da ERC, “o programa incentiva de forma clara a perpetuação de estereótipos de género que apenas magoam a causa e a Luta pela igualdade, entre vários momentos do programa da SIC, destacam-se os seguintes: a divisão de equipas por género, fomentando a competitividade homem contra mulher“.

Mas as participações vão ao detalhe e destacam uma cena de desentendimento na equipa feminina, em que o narrador afirma: “vamos ver se as mulheres se entendem”. Quem fez a queixa defende que tais palavras passam “a errada ideia social de que as mulheres não funcionam bem em equipa.” “Essa ideia foi também referida pelo apresentador, ao afirmar que elas não tinham espírito de equipa porque não parabenizaram uma colega que teve a melhor nota num prato”.

Programa de Ljubomir Stanisic promove linguagem e comportamentos sexistas

Uma outra queixa recebida pela ERC defende que o programa apresentado por Ljubomir Stanisic “divulga e promove uma linguagem e comportamentos sexistas.” “Desde logo separando os/as concorrentes por sexo o programa promove uma visão binária que potencia visões e comentários estereotipados sobre aquilo que se entende ser um homem e uma mulher”, lê-se na mesma publicação.

Mas não é só o programa que recebe críticas. Ljubomir Stanisic também as recebeu. “O chef, ao longo do programa, faz vários comentários sexistas e preconceituosos sobre os/as concorrentes. Comentários que incentivam e perpetuam a discriminação em razão do sexo e humilhantes em razão daquilo que este considera ser um comportamento de homem ou de mulher”, lê-se.

Um outro episódio relatado prende-se com um comentário de Ljubomir Stanisic que foi entendido como alusão sexual. Tudo porque o chef disse a uma concorrente que ela tinha jeito para “coisas moles” ao fazer batatas fritas pouco crocantes. “A produção faz questão de filmar a reação dos colegas homens, que se riem perante esta alusão sexual”.

Mas não foram só mulheres a receber comentários considerados pelos telespectadores, menos próprios. Depois de ver que um dos concorrente de riu da expressão “coisas moles”, Ljubomir Stanisic foi implacável: “És um gajo de espiríto de altos e baixos, ris, choras, ris, choras, ris, choras. Já tive namoradas menos complicadas“. As palavras do apresentador foram descritas como tendo apenas o objetivo de humilhar o concorrente.

Um dos autores das denuncias destaca ainda a linguagem usada no programa e que por ser um programa gravado, haveria espaço para a “censura das centenas de palavrões ditos por diversos intervenientes ao longo da emissão”.

“O tipo de linguagem usada neste programa por quase todos os intervenientes é do pior que eu já vi na televisão portuguesa nos últimos anos. As piadas são de um vazio absoluto recorrendo sempre ao machismo, racismo e homofobia”

Na deliberação, embora os palavrões tenham sido ocultados com um sinal sonoro “são variadas as situações em que Ljubomir Stanisic se dirige aos concorrentes recorrendo as expressões que poderão, de acordo com um padrão de avaliação que remete para a valoração do homem/mulher médio/a, ser consideradas grosseiras”.

Ainda de acordo com as queixas à ERC, o facto de apresentarem uma das concorrentes, que é brasileira, de roupão foi vista como “uma clara tendência sexista.” “Apresentação esteriotipada da candidata brasileira que, tendo tido uma carreira de modelo, é apresentada de robe que deixa cair junto ao salto. Não faz sentido, na época em que vivemos continuar a explorar uma imagem datada, errada, dominuída, objetificada e sexualizada”, defende o espectador.

A SIC rebateu todos os pontos das queixas e relativamente a este defendeu que “é valorizado o percurso da candidata enquanto cozinheira, sendo que é assim que a mesma se apresenta, e, só depois, concluindo a sua apresentação, é feita referência ao trabalho que realizou durante 20 anos enquanto modelo”.

O Conselho Regulador deliberou que “não se observaram indícios de desrespeito pela dignidade humana” nem foram “ultrapassados os limites à liberdade de programação”. Contudo, a decisão não foi unânime entre o Conselho Regulador, pois houve um membro a votar  contra, uma vez que na sua opiniõa, o Conselho “não se distancia nem sequer esboça a necessária crítica à linguagem inadequada e boçal destas edições do programa Hell’s Kitchen” e do anfitrião, Ljubomir Stanisic.

Texto: Ana Lúcia Sousa

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