Helena Isabel
“Eu ainda tenho muito para dar!”

Nacional

Helena Isabel lançou um livro onde revela os truques e segredos para, aos 66 anos, continuar com uma beleza e elegância invejáveis

Qui, 08/11/2018 - 21:30

Aos 66 anos, continua a ser uma das mais bonitas e elegantes atrizes nacionais. Além disso, Helena Isabel tem uma carreira constante, inegável em inúmeros papéis de comédia ou sérios, que se repartem por mais de seis dezenas de filmes, séries de televisão e telenovelas, sem contar com as muitas peças de teatro que protagonizou. Enquanto continua a gravar uma série de comédia para a RTP, que deverá ser transmitida no final deste ano, Helena Isabel acabou de lançar o seu primeiro livro, onde partilha alguns episódios e etapas marcantes da sua vida e nos revela o seu segredo para se sentir feliz, tranquila e segura com a idade que tem. Nesta obra, A Idade Não Me Define, a atriz (agora escritora) partilha dicas muito práticas sobre alimentação e tipos de exercício físico adequados, os cuidados a ter com a saúde, conselhos de moda e beleza, para mulheres depois dos 50 anos. E não ficam de fora questões fundamentais com que a maioria das mulheres se defrontam depois dos 50, como a menopausa, o amor, a sexualidade, a família e os amigos. E foi esse o mote para a conversa com a atriz.

VIP – A Idade Não Me Define é o seu novo livro, onde revela tudo aquilo que descobriu ao longo da vida, o que aprendeu, ensinamentos que selecionou e preservou… O que a levou a escrever este livro?
Helena Isabel – O facto de, cada vez que dou uma entrevista, me perguntarem “o que é que faz para estar tão jovem”?… Por outro lado, agora, com as redes sociais, muitas mulheres entram em contacto comigo e perguntam qual é o segredo e o que podem fazer para manterem também a jovialidade, que produtos é que uso. Surgiu-me então essa ideia de fazer um livro não só para as mulheres, dando algumas dicas, pequenos truques e, por outro lado, pedindo algumas opiniões a outros, visto que não sou especialista de coisa nenhuma, mas, como costumo dizer, tenho a sorte de me poder dar com os melhores de cada área. Pedi depoimentos, fiz algumas entrevistas, para saber, sobretudo a partir de certa idade, o que é que podemos fazer em termos médicos, de procedimentos, de alimentação, saúde. Ao mesmo tempo, acho que as mulheres, para desenvolverem a sua autoestima, precisam de gostar daquilo que veem no espelho. Por isso, ao mesmo tempo, dou algumas dicas de maquilhagem, de moda, mas não só. Além disto tudo, ainda conto um bocadinho da minha história, do meu percurso, de tudo o que me levou a fazer algumas escolhas ao longo da vida.

Na obra, diz que “há poucos anos, as mulheres de 40 anos eram consideradas umas velhas”…
Isso foi completamente ultrapassado, mas lembro-me que há uns anos a minha mãe dizia-me que as mulheres a partir dos 40 não deviam usar cabelo comprido, nem uma saia um bocadinho mais curta, eram estes os conselhos que ela me dava. Ora eu, ainda hoje uso o cabelo comprido! Tudo isto evoluiu, as mulheres mudaram, e ainda bem, e a sociedade toda mudou. Como se costuma dizer, os 50 de hoje são os novos 40, e por aí fora. E também se alterou a esperança de vida, pelo que os conceitos que tínhamos sobre as idades também se alteraram. O que pretendo com este livro é que as pessoas, e sobretudo as mulheres, não tenham a preocupação de parecerem mais novas, mas sim viverem em pleno a idade que têm e com uma enorme qualidade de vida.

Como se sente, aos 66 anos? Sente-se com essa idade?
Sinto-me muito bem. Mais um motivo para eu dizer que a idade não nos define. O que nos define é a nossa forma de estar na vida, o nosso pensamento, aquilo que pensamos sobre a sociedade que nos rodeia; isso é que nos define, não é a idade.

O que faz para manter esta jovialidade, beleza e energia inesgotáveis?
O que faço, em pormenor, descrevo no livro e deixo ao critério das pessoas comprá-lo para saberem as dicas e os truques, que também há alguns. Sobretudo (e o mais importante!), 
é estar bem com a vida. Eu adoro viver, aceito tudo o que a vida me dá, mesmo as coisas menos boas, porque fazem parte, e penso sempre, quando atravesso uma fase má, que melhores tempos virão. Mesmo quando estou num momento menos bom, penso sempre que é uma fase passageira e que não há mal que sempre dure. Temos de manter esta atitude positiva porque é muito bom andarmos aqui. E temos de aproveitar os bocadinhos todos que temos porque isto passa a correr.

Deu por essa passagem assim tão rápida?
Dei. Até porque vivo numa sociedade muito assente na juventude e onde esta é sobrevalorizada.

Sente isso no dia-a-dia na sua profissão?
Sim, claro. Cada vez mais as novelas têm menos pessoas mais velhas e têm muito mais jovens. Isso é inegável. Não sou nada contra o facto de aparecerem tantos jovens e ainda bem que aparecem, é uma renovação. Eles têm muito a aprender connosco, mas nós também temos muito a aprender com eles. Sou o mais possível a favor… não deixando de parte os mais velhos, porque são a base da representação, através da sua experiência e sabedoria. Todos nós, independentemente da profissão, temos de saber renovar-nos e acompanhar os tempos. Não adianta ficarmos a lamentar-nos que “no meu tempo não era assim, agora é assado”, não adianta! Temos é de ter a consciência que hoje em dia é assim que se faz e, portanto, vou fazer assim! Daí eu ter criado um canal de YouTube e ser muito ativa, sobretudo no Instagram, porque, atualmente, temos de contar com esse lado e desenganem-se os que pensam que é uma coisa só da juventude! Há imensa gente mais velha que vai ao YouTube, que está no Instagram, que segue blogues… no fundo que está online.

E no seu canal de YouTube, ainda tem apenas um vídeo…
Ainda só coloquei um video, porque isto tem sido uma roda-viva. Desde que lancei o livro que, felizmente, tenho feito muita divulgação e ainda não parei. Tem sido mais complicado, mas brevemente vai surgir mais um…

Nesse primeiro vídeo colocado online diz: “Ainda me apaixono! Por quem? Por mim. Porque aprendi que o tempo é o que fazemos dele e não o que deixamos que ele faça de nós.” Que quis dizer com isto? Agora, está mais centrada em si própria?
Estou, principalmente, centrada em estar bem. Só estando bem comigo consigo estar bem com os outros. Quando digo que “o tempo é o que fazemos dele…”, o que quero dizer com isso é que temos de continuar ativas, despertas para o mundo, porque continuamos criativas e a saber fazer coisas e temos de ter isso presente para não deixar que o tempo nos deite abaixo. Não podemos partir do princípio de, por sermos mais velhos, acharmos que já demos tudo o que tínhamos a dar. Não, eu ainda tenho muito para dar. E ainda tenho muito para fazer e ainda tenho sonhos. Obviamente, já não são os mesmos sonhos dos 20 anos; são outros, mas continuo a tê-los…

Vai ser este o “tal canal”?
Vou tentar que sim, que seja… Que seja bastante seguido, porque para mim, este canal é um seguimento lógico do meu livro. Aquilo que eu começo por desenvolver no livro, vou poder desenvolver muito melhor neste canal e poder colocar coisas que ficaram de fora do livro. Aqui vai caber tudo, desde pequenas viagens, aulas de maquilhagem dadas por especialistas, claro, vai ser muito variado. É uma coisa que dá o seu trabalho e, neste momento, estou superocupada e não chego para as encomendas todas.

E porque falámos em O Tal Canal, qual a retrospetiva que faz da sua carreira?
Teve altos e baixos como toda a gente. Felizmente, tive muitos altos e espero continuar a ter. Fiz coisas muito interessantes e tive a sorte de ter sido pioneira numa série de projetos, como a Vila Faia, que foi a primeira telenovela portuguesa, n’O Tal Canal, que revolucionou a forma de fazer humor em Portugal. Tive esse privilégio e outras coisas também, como, por exemplo, fazer parte do Teatro Adoque, a primeira cooperativa de atores em Portugal, tive a sorte de ser pioneira em muitas coisas da minha profissão e isso, para mim, é muito bom eu conseguir estar à frente e sempre a renovar-me dentro desses projetos. E espero continuar a ter projetos interessantes e diferentes.

A viragem de um registo de papéis mais sérios para um registo de humor e, depois, para papeis mais sérios outra vez, foi intencional?
Em Portugal é muito difícil as pessoas fazerem uma carreira. As pessoas têm um percurso e não uma carreira. Em Portugal, porque isto é muito pequenino, é muito difícil nós delinearmos o que queremos fazer e conseguir seguir por aí. Muitas vezes, estamos sujeitos àquilo que nos convidam para fazer. Se estamos à espera que venha o tal papel, o tal projeto para nós fazermos, se calhar estamos parados um ano ou dois. E poucos se podem dar a esse luxo… Por isso é que digo que neste país não existem carreiras, existem percursos. O que aconteceu comigo foi que, a seguir ao O Tal Canal, eu comecei a trabalhar mais em força nas novelas e começaram a dar-me outro tipo de papéis. Com muita pena minha, porque eu adoro fazer comédia. Aliás, estreei-me no teatro na comédia, depois fiz os programas do Herman. Em novela, papéis de comédia acho que só fiz numa produção, no meio de tantas. E tenho imensa pena que assim seja.

Lembro-me de si a cantar, em festivais. Por que não seguiu a via da música?
Aí, foi propositado, porque cheguei a uma fase em que tive de optar: ou cantava ou representava. Estava a ficar difícil conciliar as duas coisas. Ora, eu acho que represento muito melhor do que canto, portanto acho que fazia todo o sentido escolher a representação. Se bem que o que pretendia na altura quando comecei a cantar era chegar ao teatro musicado, mas no nosso país não tem grande tradição. Ainda fiz duas peças de teatro musicado no Teatro Aberto, mas em tantos anos de percurso isso não é nada. A canção foi ficando para trás, propositadamente…

Lida bem com a exposição pública?
Gosto de entrevistas quando não começam a entrar muito pela minha vida pessoal. Aí, confesso que não gosto nada. Sou uma pessoa que, além de tímida (não parece, mas sou…), não gosto muito de expor a minha vida, porque acho que a minha vida privada é isso mesmo, privada. Não sou pessoa para expor a minha vida privada e fico muito incomodada quando me fazem determinado tipo de perguntas… Mas há coisas da minha vida pessoal que nunca contei e que estão no livro.

E perguntas sobre o seu filho, gosta que lhas façam?
Q.b. Já me aconteceu centrarem uma entrevista comigo só no meu filho. Às tantas, tive que dizer ao jornalista que, se calhar, era melhor ir entrevistar o meu filho… Não me importo de aflorar esse assunto, mas não centrar uma entrevista inteira nisso. Se me estão a entrevistar é porque querem saber da minha vida profissional e não da dele, porque senão iam entrevistá-lo a ele… Mas, claro, que não me importo nada que me perguntem por ele, sinto-me a pessoa mais orgulhosa do mundo em relação a ele, aquilo que ele faz, da sua carreira, que está a construir devagarinho. Ele trabalha muito e isso para mim é fundamental, porque acho que só o talento não chega. Ele trabalha muito até porque compõe e produz para outros cantores. Mas estou muito contente, sim, com o sucesso dele.

Só teve um filho, que todos conhecem como Agir. Nunca sentiu vontade de ter mais filhos?
Foi propositado, falo disso no meu livro, foi porque quis… Não quer dizer que a vida depois não nos surpreenda e não nos troque as voltas, mas quis tê-lo na altura em que eu tinha estabilidade sentimental e financeira. Queria que as circunstâncias fossem perfeitas. Não quis mais filhos, porque até ter o Bernardo não tinha as condições que eu achava essenciais e depois achei que já era um pouco tarde. Acabei por ficar por ali… E ele tem irmãos, do lado do pai, por isso, nem sequer é filho único…

Gostava de já ter netos?
Toda a gente me pergunta isso, mas não, não estou muito ansiosa. Isso há de acontecer quando eles quiserem, na altura certa.

E o futuro, o que lhe vai trazer, tanto em termos profissionais como pessoais?
Não sei, não penso muito no futuro. Estou neste momento a fazer uma participação especial numa novela, O Valor da Vida. Não estou desde o início nem fico até ao fim da trama, é mesmo e apenas uma participação especial. A partir daí, não sei, não faço a mínima ideia…

Não a assusta esta instabilidade de, no nosso país, um ator nunca saber o que vai fazer a seguir?
Claro que me assusta. Felizmente, tenho sobrevivido, ora fazendo uma novela, ora uma peça de teatro… Antes desta novela, que estou a fazer agora, já não fazia novelas há dois anos… Mas fiz teatro, duas peças, fiz uma série do Vicente Alves do Ó para a RTP, que eu adorei, porque é uma série de comédia, que vai passar no final do ano. Por isso, nunca estive parada, estive foi sempre a fazer outras coisas… Tento adaptar-me a tudo isto, mas claro que me assusta, esta vida é muito incerta, sempre foi. Tive a sorte de ter tido sempre trabalho, mas já passei por muitas fases da minha vida em que fiquei um bocado assustada, porque acabava um trabalho e ainda não tinha convite para mais nada. As pessoas dizem-me sempre “não te preocupes que vai aparecer qualquer coisa” e o que é um facto é que acaba sempre por aparecer, mas enquanto isso não acontece uma pessoa anda a consumir-se. Tento fazer outras coisas, variar o meu trabalho e investir em diversas áreas. 

Texto: Luís Peniche; Fotos: José Manuel Marques; Produção: Zita Lopes; Cabelos e maquilhagem: All About Makeup 

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