Gonçalo Diniz fala do cancro e do projeto Vitória
«Naquela altura só me apeteceu desaparecer»

Nacional

Gonçalo Diniz esteve esta manhã, 15 de janeiro, no programa de Cristina Ferreira acompanhado da mulher, Sofia Cerveira. O ator recordou os dias difíceis que viveu quando soube que tinha cancro e falou do projeto que nasceu após ultrapassar a doença: a curta-metragem Vitória

Ter, 15/01/2019 - 20:15

Na manhã desta terça-feira, 15 de janeiro, Gonçalo Diniz e Sofia Cerveira estiveram no programa de Cristina Ferreira, onde apresentaram o projeto Vitória, uma curta-metragem na qual o ator mostra a força com que lutou contra o cancro nos testículos pelo qual passou há três anos.

O ator começou por recordar os momentos difíceis passados na altura em que descobriu que estava doente e confessou que soube da notícia quando estava sozinho no consultório médico, mas que há já algum tempo desconfiava de que algo não estava bem.

«Soube sozinho. Já desconfiava. Um vez em Miami disse-lhe: ‘tenho a sensação que tenho aqui alguma coisa diferente no testículo direito’, mas ela disse logo para ter calma», começa por contar.

Gonçalo Diniz confessa ainda que no dia em que realizou o exame e ficou a saber da doença não ficou «paranóico», mas que quando foi descoberta a metástase, aí o cenário foi completamente diferente.

«Foi uma bomba. Nunca estamos à espera, era só eu e o médico. Fui fazer o exame mas nunca esperava ter aquele resultado. Não estava paranóico. Paranóico fiquei quando me descobriram a metástase, aí sim. Aí dói porque aí tens de fazer quimioterapia», revela.

Sofia Cerveira esteve sempre ao lado do ator

Gonçalo revela ainda a Cristina Ferreira que na altura em que descobriu a metástase o único pensamento que lhe surgiu na cabeça foi «desaparecer». Queria ter um espaço só dele onde pudesse esquecer o problema que iria enfrentar nos tempos que se seguiam.

«Naquela altura só me apeteceu desaparecer», afirmou Gonçalo.

Certo é que, ao seu lado, Gonçalo tinha a mulher que em momento algum o deixou sozinho e lutou com ele contra esta forte batalha que a vida lhe colocou nas mãos.

«Acho que havia sempre essa percentagem de medo de que as coisas pudessem não estar bem. Mas quando soube da notícia tinha a certeza que o Gonçalo ia conseguir superar este momento mais difícil da vida dele», afirma Sofia.

Sofia Cerveira acrescenta ainda que «quando me ligou ele estava derrotado. Estava à procura de uma luz, de uma voz de esperança, de ânimo para vencer ou entender o que se estava a passar naquele momento».

«Ser conhecido nestas alturas é pior porque ganha uma dimensão maior»

Quando foi à consulta antes de iniciar os tratamentos, Gonçalo Diniz ficou a saber que tinha de se submeter a tratamentos de quimioterapia, processo esse que poderia durar «três ou quatro meses».

No entanto, o pior dos momentos que Gonçalo viveu no início dos tratamentos foi entrar pela primeira vez na sala de quimioterapia do Hospital de Santa Maria, em Lisboa.

«A entrada pela primeira vez na sala de quimioterapia foi assustadora», acrescentando ainda que o facto de ser figura pública não ajudou em nada para manter uma certa discrição.

«Ser conhecido nestas alturas é pior porque ganha uma dimensão maior», afirma.

«Quando estava doente as pessoas não queriam estar comigo»

Gonçalo Diniz viveu bem de perto o drama que é lutar contra a doença e enfrentar todos os medos que se tem de perder a vida. No entanto, o ator nunca se deixou ir abaixo e foi precisamente isso que quis mostrar no projeto Vitória que está prestes a ser apresentado ao público.

«Este projeto vitória nasceu com o intuito de saber como posso ajudar as pessoas sem ter de estar a a parar as pessoas para falar com elas. Agora é a minha vez de ajudar», revela.

Gonçalo conheceu e conviveu com várias pessoas ao longo dos meses de tratamento e para ele, essas pessoas nunca serão esquecidas.

Questionado por Cristina Ferreira sobre qual era sua fonte de energia durante as sessões de quimioterapia, Gonçalo conta que era precisamente nas pessoas com menos energia porque eram estas que lhe davam força para continuar a ajudar os outros.

«Agarrava-me ao que estava sem energia porque ele é que me dava energia. O que estava com muita energia já estava bem, e eu como estava mal adotei um método que é ‘então se estou mal vou me dedicar a ajudar, porque enquanto eu ajudo esqueço o tempo que estou mal então não sou o coitadinho e viro uma pessoa que consegue ajudar os outros’, prefiro agarrar-me a esse ego falso para ajudar o outro», confessa.

Gonçalo desvenda ainda o tema de conversas que eram falados durante as sessões de quimioterapia e a palavra «cancro» ficava sempre de fora.

«Não quero ouvir falar sobre cancro», revelou o ator.

O companheiro de Sofia Cerveira contou sempre com o apoio da mulher, no entanto, desvenda que teve vários amigos próximos que se afastaram dele durante a doença.

«Quando estava doente as pessoas não queriam estar comigo. Os que se afastaram fizeram-no de uma forma natural porque não conseguiam lidar com aquilo, eram grandes amigos. Mas percebi isso perfeitamente e eu ia lá e dizia: ‘anda cá, isto não pega. Não é assim tão doloroso, olha como é que eu estou’», afirma.

O cancro de Gonçalo e a gravidez de Sofia

Sofia Cerveira soube que estava grávida precisamente no momento em que foi diagnosticado ao marido a metástase, a altura mais complicada desta dura batalha.

«O Gonçalo soube que tinha cancro e inicialmente era só para ser operado e retirar o nódulo. Depois disso é que lhe foi diagnosticada a metástase e foi precisamente nesse momento que soube que estava grávida», afirma.

A apresentadora do E! Especial conta ainda que fez o teste em casa da mãe e que este era o momento pelo qual os dois precisavam de passar.

«Naquele momento foi tudo o que precisava. De repente, naquele momento de transição, recebo esta notícia e fiquei verdadeiramente feliz e pensei: ‘isto era o que precisávamos para ultrapassar este momento’», conta.

Esta curta-metragem tem como objetivo ajudar outras pessoas que estão a lutar contra o cancro ou as famílias das mesmas, a ultrapassarem a doença de uma forma menos dolorosa.

Gonçalo afirma: ‘eu não curo pessoas’, mas acredita que este documentário pode vir a tornar menos dolorosa toda a batalha.

«Esta curta-metragem só podia chamar-se Vitória, não só pela força que a Vitória (filha) nos trouxe, mas porque tenho aqui ao meu lado um grande guerreiro que conseguiu superar este momento da sua vida e que quer, com todo o amor, ajudar o outro».

Gonçalo Diniz e João Ricardo sempre mantiveram uma forte relação de amizade e o projeto Vitória era dos dois. No entanto, tal como Gonçalo Diniz afirma: «‘O João foi’, e eu decidi levar o projeto em frente».

«Esta história é para ele [João Ricardo] porque isto começou com ele. Ele é que queria fazer a minha história. Ele é que acreditava nesta história», afirma.

Gonçalo Diniz e Sofia Cerveira foram pais de Vitória a 30 de julho de 2016, tendo a menina neste momento dois anos e meio.

Texto: Redação WIN – Conteúdos Digitais; Fotos: SIC, Impala e Reprodução Instagram

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