Filomena Pinto Da Costa
FILOMENA PINTO DA COSTA procura ser uma voz autónoma

Famosos

“Depois de casar segunda vez com o mesmo marido, nada me assusta”
Aos 47 anos, Filomena Pinto da Costa, a mulher que está casada pela segunda vez com Jorge Nuno Pinto da Costa, tornou-se uma sofisticada figura da sociedade portuense. Da antiga secretária, que teve uma filha com o presidente do Futebol Clube do Porto, pouco resta.

Sex, 29/01/2010 - 0:00

Aos 47 anos, Filomena Pinto da Costa, a mulher que está casada pela segunda vez com Jorge Nuno Pinto da Costa, tornou-se uma sofisticada figura da sociedade portuense. Da antiga secretária, que teve uma filha com o presidente do Futebol Clube do Porto, pouco resta. Filomena Pinto da Costa, formada em Ciências da Comunicação pela Universidade Fernando Pessoa, acaba de comprar 50% de um canal web TV disponível em www.grandeportotv.net. É autora e apresentadora de dois programas no Porto Canal, dirige a revista Mundo Azul, um dos instrumentos de promoção do clube azul e branco, que depende do chamado Conselho Cultural do Futebol Clube do Porto, e dedica-se com afinco a causas de solidariedade, tendo mesmo fundado a Associação Mulher Atenta – AMA. Da vida familiar e das relações com o marido e com a filha, Joana, de 22 anos, recusa-se a falar. Ao longo da conversa torna-se cada vez mais claro que pretende afirmar-se sozinha e ganhar distância, tanto em relação ao apelido do marido como ao mundo do futebol, onde ganhou notoriedade.

VIP – O que é a Associação Mulher Atenta?

Filomena Pinto da Costa – A minha ideia era criar um grupo cívico no feminino, pelo que juntei um grupo de mulheres, alguma delas bastante importantes na sociedade portuense, para ajudar, não um grupo específico, mas sim um conjunto de instituições de solidariedade social.

Que instituições têm apoiado?
Sobretudo associações que defendem mulheres vítimas de violência doméstica, albergues nocturnos que apoiam os sem-abrigo, os idosos, as várias instituições de apoio a pessoas com deficiência e de combate à paralisia cerebral. E até particulares em situação de dificuldade. Temos connosco assistentes sociais, psicólogas, a associação Médicas no Mundo… Às vezes saciamos a fome no imediato e esquecemos que o problema das pessoas com fome é mais vasto…

Como é que são angariados os apoios para a AMA?
Fazemos várias acções e contamos também com os donativos individuais dos associados.

Há alguma causa que a sensibilize particularmente?
As mulheres vítimas de violência é algo que me choca. Trinta e cinco anos depois do 25 de Abril continuamos a ter este problema, agora com pessoas que nasceram já em liberdade. A violência doméstica foi "surda" durante muitos anos: as mulheres aguentavam em silêncio porque não tinham saídas profissionais e por causa dos filhos. Mas agora as jovens têm as suas habilitações, não têm necessidade de suportar um companheiro que as agrida. Esta realidade é muito chocante. Apesar disso, o que mais me choca é a realidade de A Terra dos Sonhos, que ajuda crianças em fase adiantada de doença, a concretizar um sonho e a dar-lhes um pouco mais de alegria.

Têm conseguido concretizar alguns desses sonhos?
Sim. Alguns desses meninos têm por sonho, por exemplo, visitar o Estádio do Dragão. É uma coisa tão pequena em relação à dimensão do problema de saúde destas crianças que é fácil dar-lhe esses momentos de felicidade.

Há alguma área cujas necessidades a tenham espantado?
Há uma parte social em que cada vez aumentam mais as carências, que é a da pobreza encoberta. Ou seja, aquilo a que agora optamos por chamar de novos pobres. São aquelas famílias em que as pessoas vão ficando sem os empregos, perdem os subsídios de desemprego, começam a acumular dívidas e têm problemas graves. Infelizmente, para o próximo ano, com o aumento do desemprego e com o País a atravessar uma enorme crise social vão aumentar ainda mais este tipo de carências. É importante movimentar as pessoas para trabalharem em parceria, porque sem isso não conseguimos os objectivos a que nos propomos.

Este tipo de trabalho é algo que a faz vibrar?
Como tenho mais visibilidade posso chamar a atenção para estes problemas. Agrada-me saber que posso ser útil, que ocupo uma posição na sociedade que pode servir para ajudar os outros. Há famílias com fome e isso é algo de terrível que nos afecta a todos. Se não fizermos nada estamos a deixar criar no nosso país uma crise social que leva à violência e para a qual não estamos preparados.

Acha que os políticos têm responsabilidade nessa situação?
A grande culpa é dos políticos, que têm a responsabilidade de fazer as leis e de organizar o País de forma a ajudar todos. E temos maus exemplos que partem dos nossos governantes. A culpa é deles pela situação em que o País se encontra e a culpa também é de todos nós, porque os escolhemos. Por outro lado, a sociedade civil não pode ficar a "assobiar para o lado", como se não fosse nada connosco.

Sendo mais eficaz do que a sociedade civil, a política é uma área que poderá interessar-lhe?
Sinceramente, não. A política, tal como ela é, não me seduz. O sistema político do nosso país está decadente e isso vê-se nos números da abstenção. Quando mais de metade do País não participa é porque as pessoas não vêm nos políticos uns bons exemplos. O problema é que o sistema está feito de forma a defender os interesses deles; eles fazem as leis, antes de saírem já deixam tudo preparado para se defenderem, pensam sempre neles… Um político tem que pensar no bem comum e não nele próprio. Sou defensora da regionalização e acredito que será uma das soluções para o nosso país.

Que balanço é que faz do ano que passou a nível de trabalho?
Foi um ano em que trabalhei muito, mas tenho a sensação de que há muito mais por fazer. Gostei imenso de trabalhar nos programas de televisão, sobretudo no Porto de Honra porque é importante mostrar a parte cultural da nossa cidade e também para dar a conhecer várias figuras. Fiz um programa associado à Mulher Atenta, que tenciono continuar. Também dirigi a revista Mundo Azul, que pertence ao Conselho Cultural do Futebol Clube do Porto, que poderia fazer muito mais do que o que faz.

O que é que acha que é possível fazer mais?
É possível fazer muito mais atendendo a que o FCP é uma das instituições mais importantes do País, que leva o nome de Portugal pelo mundo e tem inúmeras casas espalhadas por ele. A verdade é que se podia fazer muito mais a nível de solidariedade. Seria importante para a instituição e seria importante para a cidade.

Quando os portugueses começaram a ouvir falar de si foi pela sua vida pessoal, por ter tido uma filha e casado com o presidente do FCP. Ultimamente o seu nome surge mais autónomo. Como é que se transformou, de uma figura pública, noutra figura pública diferente?
Há uma parte que se prende com a evolução da nossa sociedade. Eu e o meu marido conhecemo-nos há 25 anos, mas eu fui sempre uma pessoa muito discreta. A verdade é que, há uns anos atrás, as pessoas do futebol não eram tão assediadas pela Imprensa como agora. Não existiam tantas revistas cor-de-rosa, assim como não existiam tantos jornais desportivos diários – havia um jornal desportivo, que era A Bola. Não se dava tanto protagonismo às pessoas do futebol, não se sabia com quem estavam. Agora as coisas estão diferentes: há muitas revistas e muitos jornais, há a Internet…

Mas houve também uma alteração no seu percurso, a Filomena de há 25 anos não é a mesma de agora…
Sim, claro. Eu era uma pessoa discreta, que passava perfeitamente despercebida. Depois tive uma separação, voltei a casar e fiquei surpreendida com o interesse tão grande que despertava. E já que é assim, temos de nos adaptar aos novos tempos. Por outro lado, tem também que ver com a minha maneira de ser. Eu mudei, estou com 47 anos e vejo os problemas do mundo que nos rodeia de outra forma. Por isso, aproveito o interesse em mim a favor do bem comum, nomeadamente com esta associação que criei e com este grupo de pessoas fantástico. São pessoas muito válidas, que estiveram sempre disponíveis, mas nunca houve ninguém que as puxasse e vêem em mim essa pessoa que as puxa.

O futebol está desde há muito ligado à sua vida, mas é um mundo que parece muito diferente de si. Como é que vê esse mundo?
Não tem muito a ver comigo. Eu gosto de futebol, mas não sou viciada. Dá-me mais felicidade assistir a uma boa peça de teatro, um bom filme, ouvir uma boa orquestra. O futebol é um mundo que eu acompanhei durante muitos anos, mas de forma diferente do das outras pessoas. Vejo-o de dentro para fora, ao contrário dos outros, que o vêem de fora para dentro. Não é um mundo que tenha muito a ver comigo e tento sempre distanciar-me. No mundo do futebol, não tenho conhecido muitas pessoas com quem eu tenha afinidades.

Não tem amigos no futebol?

Muito poucos. É um mundo que se gere muito por interesses de todo o tipo e não por amizade. Mesmo entre eles não devem existir muitos amigos. Espero não estar a ofender ninguém, mas penso que a palavra amizade não tem lugar nesse mundo. É um mundo com pessoas com características especiais, no qual eu não caibo muito bem.

Apesar de o conhecer por dentro há muitos anos…
Por isso mesmo é que sei os meandros. Conheço as pessoas, a forma como elas se comportam, os relacionamentos. As pessoas movem-se mais por interesses, enquanto que na área da solidariedade, por exemplo, se encontram amizades verdadeiras, agradecimentos puros, o amor com que as pessoas se entregam às causas… Conseguem fazer-se amizades sinceras e puras.

Ser avó está nos seus sonhos?
Acho que é muito cedo. A minha filha é ainda jovem, tem que acabar os seus estudos primeiro e começar uma carreira profissional. Quanto a mim, ser avó agora ou daqui a um ano ou dois será algo que me dará muita felicidade.

Recentemente a Filomena foi notícia nos jornais por causa de um livro de um antigo um colaborador seu. Passou a considerar sempre a hipótese de ser atraiçoada?

Toda a gente tem que considerar essa hipótese, não sou só eu. Todas as pessoas que têm mais visibilidade têm sempre traições, invejas, etc. Mas depois de me casar segunda vez com o mesmo marido, nada mais me assusta.

Texto: Cristina Ferreira de Almeida; Fotos: Rui Renato

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