Cristina Sousa
Emocionada ao recordar a filha que faleceu com progeria: “serei sempre a mais culpada”

Nacional

Cristina Sousa concedeu uma entrevista a Manuel Luís Goucha, seis meses depois da morte da filha que sofria de progeria, envelhecimento precoce. A mãe de Cláudia Amaral estava presa e não a deixaram estar presente no funeral da filha. Saiba tudo

Qua, 25/05/2022 - 12:21

Cristina Sousa, mãe de Cláudia Amaral, a jovem que sofria de progeria, esteve com Manuel Luís Goucha no vespertino da TVI, esta terça-feira, 24 de maio, a quem deu um testemunho emocionante. Cláudia faleceu em novembro passado, aos 23 anos e a mãe não conseguiu estar presente no funeral porque se encontrava presa. Este assunto gerou uma onda de indignação pelo país.

Agora Cristina está de pulseira eletrónica e recorda: “Eu ausentei-me por uma desobediência a um juiz, e fui condenada a um ano e dois meses. Eu e ela vivíamos uma só; sempre fomos uma única pessoa”, começa por contar. “Fui notificada por injúrias e como confrontei o juiz… é desobediência. Eu interpelei-o a dizer a frase pela qual fui condenada: ‘eu mato pelos meus filhos’.”

Ao ser questionada pelo anfitrião do formato, Cristina conta que Cláudia ficou aos cuidados do pai e do irmão: “O pai deu o auxílio que sabia prestar.” Recorde-se que esta jovem adolescente sofria de envelhecimento precoce e, por isso, à data da sua morte, 23 anos, tinha equivalente a 150 anos, ou seja, ultrapassado em muito a esperança média de vida.

Visivelmente emocionada, Cristina conta: “Eu não fui ao funeral, não me deixaram ir ao funeral. Fui ao velório.” Os argumentos utilizados foram a Covid e o facto de a Direção Geral não permitir as idas aos funerais. Contudo, Cristina ripostou: “Não é o meu pai, não é a minha mãe, é a minha filha!” Porém, nada disso foi suficiente.

Cristina culpa-se pela morte da filha: “sempre serei a mais culpada”

Enquanto estava na prisão, a filha, Cláudia, lutou diariamente para que a mãe saísse mais cedo: “escreveu cartas para o senhor Presidente da República, para o Primeiro Ministro… ” Enquanto isso, a mãe sabe que Cláudia deixou de comer: “Fez-me duas visitas em Santa Cruz do Bispo e eu, no primeiro mês, vi a minha filha muito mais magra”, começa por revelar. “Eu penso que fiz a minha filha feliz, mesmo nos oito meses em que eu estive presa, que foi a pior tortura que eu lhe podia ter dado: a minha ausência”, remata. ” “A culpa é minha. Ela podia acabar mais feliz. Ela acabou por falecer, torturando-se a lutar para eu ir para perto dela.”

Em lágrimas, repete: “Sempre serei a mais culpada disto tudo. Eu torturo-me a mim mesma.” A mágoa de não poder estar presente no funeral e o facto de considerar que a doença da filha agravou pela ausência da mãe faz com que sinta que a vida não faz sentido. “Não faz sentido eu viver se não tenho uma lógica de vida. Tenho o meu filho … eu sei que é hipocrisia minha porque eu tenho um filho pendente, mas eu não consigo…”

Cristina recorda últimas palavras da filha

Após ter falado com a filha ao telemóvel e ter percebido que não estava bem, Cristina pediu-lhe que se dirigisse ao hospital. E assim fez. Após ter alta e ter voltado a falar com a menina, não hesitou em pedir ao pai da filha que a levasse às urgências de novo porque sentia que algo não estava bem. A menina faleceu à meia noite. Na última chamada que fizeram, as últimas palavras foram: “Mãe, preciso de ti. Vem ajudar-me que eu vou morrer hoje.” Veja aqui.

Esta mãe só soube da morte da filha às sete da manhã: “Elas (guardas) já sabiam às duas da manhã e ninguém me avisou.”

Mãe de Cláudia revela: “Sentia-me impotente, mas nunca demonstrei”

No final desta entrevista emotiva, Cristina revela que nunca tratou a Cláudia de forma diferente daquela que trata o filho mais velho, José, mas confessa: “É uma dedicação diária. O José era irmão, mas não era só irmão. Era amigo, era pai…” Manuel Luís Goucha questiona como é que se aprende a ser mãe aos 15 anos e Cristina garante: “A vida ensina-nos tanta coisa. Às vezes sentia-me impotente, mas nunca demonstrei.”

Por fim, o anfitrião do vespertino da TVI questiona-lhe sobre aquilo que se recorda da filha.  Cristina Sousa responde: “Tudo o que eu não lhe consegui dar mais. Eu lutei com ela, mas acho que não fiz tudo, falta muito mais…”, diz.  “Era eu e ela. Nunca tive ninguém que me dissesse: ‘estou aqui, vamos’. Todas as decisões eram minhas, todos os confrontos eram meus…”, remata em lágrimas.  A mãe de Cláudia descreve-a como lutadora e termina: “Por mim, nada faz sentido.”

 

Texto: Maria Constança Castanheira; Fotos: Reprodução Redes Sociais

 

 

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