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CAMANÉ lança um novo álbum com mais autoconfiança para expressar os sentimentos

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“Agora já lido melhor com os meus fantasmas”
Do Amor e dos Dias é o novo álbum de Camané, que regressa menos introspectivo, mais irónico. Aos 43 anos, admite que aprendeu a domar a auto-estima, mas que as suas fragilidades também contribuíram para a construção da sua identidade. Feliz ao lado de Mariana Maurício, de 24 anos, o eterno tímido liberta-se.

Sex, 12/11/2010 - 0:00

 

Do Amor e dos Dias é o novo álbum de Camané, que regressa menos introspectivo, mais irónico. Aos 43 anos, admite que aprendeu a domar a auto-estima, mas que as suas fragilidades também contribuíram para a construção da sua identidade. Feliz ao lado de Mariana Maurício, de 24 anos, o eterno tímido liberta-se.

VIP – Como correu o concerto de apresentação do novo álbum?
Camané – Estava um bocado nervoso, mas acho que correu muito bem. Tenho sempre algum receio, até porque era um espectáculo completamente novo e a maioria das pessoas ouviu os temas pela primeira vez. Mas houve uma empatia muito grande.

Do Amor e dos Dias é diferente do que tem feito até agora?
É um disco mais conceptual no sentido em que aborda o amor, o ódio e a raiva de forma menos introspectiva. Estou sempre a cantar para um tu, para uma pessoa, o ódio e a raiva são expressos de uma forma irónica, existe uma certa ironia no disco, mas fala da vida, das relações, do amor, de todos os sentimentos que fazem também o fado.

Vai ficando mais irónico com o tempo?
Sim. Vou-me sentindo mais à-vontade para expressar outro tipo de sentimentos, mas o fado sempre teve este lado, de contar pequenos episódios do quotidiano do amor.

Em qualquer relação amorosa há uma pontinha de raiva e de ódio?
Acho que sim, existem todos os sentimentos. É evidente que eu tenho uma identificação muito forte com este fado, por isso consigo transmitir essa verdade.

A sua relação com o fado também nasceu de forma irónica…
Sim, quando era miúdo estive um mês em casa, doente. Ouvi o disco dos Beatles, do Frank Sinatra e do Charles Aznavour compulsivamente e ao fim de dois ou três dias comecei a ouvir fado. Havia muito fado em casa porque o meu pai, o meu avô e o meu bisavô cantavam. Fiquei com a "doença" do fado.

Nunca quis escrever as letras?
Não, porque não sou bom a escrever e gosto de cantar só o que está muito bem feito e que gosto muito.

O seu fado toma vida quando sobe ao palco, ou sente-o mais em estúdio?
Em estúdio, logo depois de acabar o disco, acho que podia ter feito melhor. Em palco há sempre a esperança de me surpreender a mim mesmo, de fazer melhor.

Já conseguiu ultrapassar a sua timidez lendária depois de 20 anos de carreira?
Agora já lido melhor com essas inseguranças, com os meus fantasmas.

Como se ultrapassa?
Fui aprendendo a melhorar a auto-estima. Acho que é algo que faz parte do crescimento e acho que essas fragilidades também me tornaram no que sou. Permitiram-me conhecer-me a mim mesmo e tornar-me uma pessoa e um artista melhor.

No entanto, com apenas dez anos, subiu ao palco na Grande Noite de Fado…
Claro que tinha medo. Lembro-me perfeitamente que tinha os joelhos a tremer. Mas tremi muito mais quando fiz o meu primeiro espectáculo. Tremia muito mais quando ia cantar a uma casa de fado, onde estavam pessoas que admirava, como a Amália. Tinha uma consciência muito maior. Sempre tive um certo pudor em cantar para pessoas que admirava. Tem a ver com respeito, com o facto de ter crescido no fado, rodeado de pessoas mais velhas. Nos primeiros concertos tinha acessos de pânico. Aqueles minutos antes de entrar em palco são assustadores, mas depois passo para segundo plano.

Na altura os seus amigos não iam aos seus concertos. Era difícil esta "rejeição"?
Os meus amigos não se identificavam com aquilo que eu fazia, eu praticamente não dizia a ninguém que cantava fado. Depois tive um reencontro com a minha geração, o fado reconquistou pessoas mais jovens, aconteceu gradualmente.

Deixou de fumar durante as gravações do último álbum. Chegar aos 40 anos fê-lo mudar hábitos de vida?
Estava sempre muito cansado. Fumava compulsivamente, foi uma preocupação, para me sentir melhor fisicamente.

Há anos que decidiu deixar a sua vida mais boémia para trás, nomeadamente a dependência de drogas…
Isso já foi há tantos anos que não vale a pena sequer falar disso. Houve uma série de coisas de que abdiquei, nomeadamente das noitadas, porque queria ter mais tempo para pensar no meu trabalho, nos meus concertos.

Tem 43 anos, ainda lhe falta fazer muita coisa, em termos artísticos e pessoais?
Sim, o melhor está sempre para vir, não gosto nada de estar parado, não me vejo a fazer mais nada, é a minha forma de estar na vida. Para mim, cantar é viver.

Foi casado uma vez, não sente vontade de voltar a arriscar?
Isso é uma coisa que não me preocupa muito, o que tiver de acontecer acontecerá.

Não tem vontade de ser pai?
Possivelmente, mas mais daqui a um tempo. Gostava, é uma continuação de nós.

Texto: Elizabete Agostinho; Fotos: Luís Baltazar

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