António vive clandestinamente há 18 anos
A história do homem que fugiu da prisão e procura uma segunda oportunidade

Nacional

O programa Vidas Suspensas da SIC revela o drama de António Franco, um ex-recluso que fugiu da prisão para mudar de vida. «Todos os dias tenho medo, pelos dois miúdos que tenho em casa»

Qua, 31/10/2018 - 16:00

António Franco tem a vida suspensa há 18 anos, altura em que fugiu da prisão após quatro anos de reclusão. Vive no estrangeiro, num país que não quis revelar, mas todos os dias sente medo. É agora um pai e marido dedicado e um trabalhador exemplar. O mundo da droga, que o levou aos assaltos, ficou no passado. Agora, conta a história de vida dramática à SIC porque chegou ao limite. «As pessoas precisam de uma segunda oportunidade».

Todos os dias consumia droga na prisão 

A história de vida de António é carregada de sofrimento. Foi preso por roubo de carros e assaltos a casas, crimes que cometia por causa da droga. «A história começa na família, o meu pai era trabalhador, mas chegava a casa e começava a guerrear com a minha mãe. Nunca tive um pai que me desse um conselho. […]  No primeiro crime trouxe comida e uma televisão, tinha 11/12 anos. A minha mãe deixou entrar aquilo em casa. […] Por causa da droga, o dinheiro do trabalho não era suficiente para consumo, tive de começar a roubar. Quando arranjava dinheiro pensava logo ‘dá para uma, duas gramas’» 
Durante uma saída precária, resolveu fugir. Faltavam-lhe seis meses para sair em liberdade condicional, mas a dependência de heroína, que continuava a ter acesso na cadeia, levou-o a querer mudar o rumo da vida. 

«Se não fugisse [naquele dia] não estaria aqui. Os quatro amigos que tinha estão mortos por drogas […] Todos os dias dentro da prisão consumia heroína, os guardas trazem as drogas, levam o dinheiro para fora. Os familiares também». 

A fuga de António Franco

Enquanto fugia de Portugal, António fez a própria desintoxicação. Passou fome e frio, mas conseguiu chegar a França. Na fronteira de Hendaye pediram-lhe os documentos, mas não descobriram que era fugitivo. Arranjou trabalho em Paris e depois seguiu até ao destino final, onde o aguardava a namorada, que tinha conhecido no Algarve. Esta relação não resultou, mas a vida sorriu-lhe e apaixonou-se pela atual mulher. Dezoito anos depois, António viu pela primeira vez portugueses quando a equipa da SIC lhe tocou à campainha. 

Sobre o seu passado, só a mulher tem verdadeiro conhecimento. «Fiquei chocada, mas toda a gente merece uma segunda oportunidade. É muito bom como marido», conta à SIC.

As drogas ficaram no passado e António é agora um homem dedicado à família e muito trabalhador

António é agora um homem trabalhador. Faz todo o tipo de reparações e os clientes só têm bem a dizer. «É uma excelente pessoa», conta o cliente mais antigo, que diz confessar cegamente no português. 
Contudo, António não é um homem verdadeiro livre. O medo de ser apanhado não o larga e deixa-o em sobressalto permanente. «Todos os dias tenho medo, pelos dois miúdos que tenho em casa. Quero estar sempre ao pé deles para os ensinar a crescer. Acho que morreria se os perdesse», diz em lágrimas. «Não sou um pai direito, mas quero ensinar-lhe coisas boas».

Quer acertar contas com a justiça

Nos primeiros anos depois da fuga, conseguiu viver a vida com normalidade, porque o bilhete de identidade não estava caducado. Ainda viajou para Portugal, para matar saudades da família e amigos, e passou sem problemas no aeroporto duas vezes. Agora, está impossibilitado de fazer uma vida normal, porque não tem qualquer documento. Foi declarado contumaz, ou seja não pode renovar os documentos enquanto não se apresentar em tribunal. 

António está disposto a acertar contas com a justiça e a entregar-se se as autoridades portuguesas retomarem os processos e a pena como os deixou. Mas só um juiz poderá decidir qual é o futuro deste homem. 

António sabe que dar a entrevista à SIC, ao programa Vidas Suspensas, foi um grande risco, mas admite estar a chegar a um limite. «Fico arrependido, mas não posso lavar e esquecer. As pessoas precisam de uma segunda oportunidade.» 

Foto: DR  

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