Ana Sofia Cardoso
Sobre a cobertura da guerra: “Nunca se consegue fazer um retrato absoluto da dor”

Nacional

Ana Sofia Cardoso esteve à conversa com Maria Cerqueira Gomes a quem abriu o coração para falar de pormenores da cobertura da guerra da Ucrânia. “As pessoas neste momento estão numa necessidade de expor o que estão a sentir”, garante a jornalista.

Sáb, 11/06/2022 - 16:33

Ana Sofia Cardoso foi a convidada de Maria Cerqueira Gomes no Conta-me, este sábado, 11 de junho. Numa conversa intimista falou da cobertura que fez da guerra na Ucrânia e de como é ser jornalista.

Questionada pela apresentadora da TVI sobre a reação do companheiro, Tiago, quando decidiu ir para a guerra, a jornalista garante: “Ele já sabia que eu iria. Sabia logo que eu queria ir se se proporcionasse”, começou por dizer. “Ele percebeu desde o início que tenho o meu trabalho, as minhas coisas, a minha vida pessoal, os meus sonhos, os meus objetivos, as coisas que eu quero fazer na vida. Não é só trabalho, são desejos interiores meus, e eu vou cumpri-los”, acrescenta.

Com um filho de quase três anos, Ana Sofia Cardoso confessa que quando surgiu o convite da cobertura do conflito armado, viu a imagem do pequeno Lourenço na cabeça: “Eu vou ser muito sincera: eu disse logo que sim e ao mesmotempo surgiram-me as imagens, surgiram-me receios. Claro que eu queria que corresse tudo bem para eu ir tranquila”.

A jornalista da CNN confessa que é preciso fazer uma análise antes de decidir enfrentar este desafio: “já tinha feito uma avaliação: se tinha condições para ir, logística familiar, condições emocionais para ir e vir de lá inteira”.

 Ana Sofia Cardoso confessa: “Emocionalmente ninguém está preparado para isto”

Ana Sofia Cardoso esteve em Lviv e já tinha confessado que ainda sonha com a guerra e com aquilo que presenciou: “Alguém que vai para a guerra nunca vai esquecer o que lá viveu”. Além disso, adianta emocionada: “Nós não conseguimos retratar tudo na dimensão das coisas que estão a acontecer e, as imagens, por melhores que sejam, nunca se consegue fazer um retrato absoluto da dor destas pessoas”.

A jornalista afirma que foram duas semanas difíceis: “Emocionalmente ninguém está preparado para isto, esta pressão psicológica que lá se sente e conseguir fazer o teu trabalho sem deixares de ser objetiva e ao mesmo tempo seres humana”.

As histórias que ouviu fê-la percebeu que há uma necessidade de partilhar o sofrimento para tentar aliviar. “As pessoas neste momento estão numa necessidade de expor o que estão a sentir, de partilhar, de não viverem sozinhas esse sofrimento (…) para aliviar o que estão a sentir”. Contudo, conclui: “Não vai avaliar porque nós vamos embora, mas aquelas pessoas vão continuar lá.”

Ao abrir o coração para falar do assunto, recorda que dormia do lado oposto à janela e que a parte racional a obrigava a ter tudo preparado: capacete, colete e os documentos. Em Lviv, as tropas russas bombardearam o local onde estava Ana Sofia Cardoso e aí admite que pensou: “Pode-nos acontecer alguma coisa, mas eu tenho um filho e tenho família”, começa por dizer. “Foi o momento em que pensei eu tenho um filho, mas depois tu tens de trabalhar e o tempo passa”.

Ao aterrar em Lisboa sentiu um alivio e confessa: “Chegas e podes reencontrar as pessoas que te são mais próximas… o meu filho, o Tiago, e podes dizer que está tudo bem e ‘vamos tentar recompensar este tempo todo'”.

Quando questionada se se proporcionasse durante o resto da profissão voltar à guerra, admite que sim sem rodeios: “Um jornalista existe para contar historias”.

Texto: Maria Constança Castanheira; Fotos: Redes Sociais

 

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