Ana Paula Reis
Os últimos minutos de vida do marido: «disse-lhe adeus e chamei os meus filhos para o fazerem»

Nacional

Ana Paula Reis explica como lida com a ausência do marido, Domingos Piedade, que morreu em novembro do ano passado vítima de um cancro no pulmão

Ter, 11/02/2020 - 10:00

Ana Paula Reis chorou a morte do marido, Domingos Piedade, em novembro de 2019. Na manhã desta segunda-feira, 10 de fevereiro, esteve n’ O Programa da Cristina, na SIC, para falar sobre o assunto. O manager e diretor desportivo de equipas de Fórmula 1 e comentador televisivo, com quem a antiga apresentadora da RTP era casada há cerca de 30 anos, perdeu a luta contra um cancro no pulmão.

«Eu não sei se aceitei. Agora é que está a começar a cair-me a ficha», confessou Ana Paula Reis a Cristina Ferreira. «Estou a recuperar um dia de cada vez. Com muita paz», acrescentou, recordando que «uma doença prolongada desgasta muito, não só quem a tem mas também quem está à volta: a família, os cuidadores, os amigos…».

Domingos Piedade morreu no final de novembro do ano passado, depois de «três semanas» em que a doença evoluiu de forma «muito rápida». Durante esse período, a antiga locutora foi «o forte da família». «E o Domingos também. Ele nunca baixou a guarda. Até à última teve uma brincadeira, um sorriso», recorda. 

«Os meus filhos despedirem-se do pai foi muito importante»

E foi também durante esse período que Ana Paula pediu à equipa médica que acompanhou o marido para ser sempre honesta consigo. «Pedi aos médicos para não serem meiguinhos comigo, para me darem tempo de preparação. Eu tive o meu luto no processo de acompanhamento de três semanas seguidas com o meu marido das 9h às 23h no hospital. Todos os dias», afirmou.

«Eu disse-lhe adeus e chamei os meus filhos para fazerem isso na altura em que ainda podiam falar com o pai. Para dizerem ‘até já’, para dizerem aquilo que quisessem. Eu não podia ser egoísta e pensar só na minha dor. Tive de pensar no que eles poderiam necessitar de dizer, de sentir, de processar. De fazerem o seu próprio luto», frisou. «O conversar, o assistirem, o não quererem que o pai sofresse mais, o despedirem-se foi muito importante. Perceberam depois que estiveram com o pai em todos os momentos da vida dele», completou ainda.

Ser psicóloga tem ajudado nesta fase. «Cada caso é um caso e tem muito a ver com as estratégias que cada um tem para conseguir reestruturar-se a si própria. Isso aprende-se em psicologia e eu tenho essa vantagem», assegurou.

«Quando estou mesmo muito triste, fico muito bruta, agressiva»

Ainda assim, não tem conseguido evitar que à noite, quando se deita, sinta os «maxilares duros» da pressão que fez, durante todo o dia, para não chorar. Eventualmente, aquele «nó na garganta» vai acabar por se desfazer, garante. «Eu reajo à tristeza ao pontapé. Não sou mulher de ficar sentadinha e a dizer ‘coitadinha de mim’», explica.

«Lido com a tristeza de uma maneira muito sui generis. Quando estou mesmo muito triste, fico muito bruta, agressiva. Procuro escapes, mas de vez em quando alguém leva comigo. E procuro ocupar mais o meu tempo para depois, quando paro, cair para o lado e dormir. Portanto, não dar tempo nem espaço, o que não é bom. Temos de dar tempo»

O importante, termina Ana Paula Reis, «é ter tempo». «E ter tempo não é negar. Quando entramos em negação, estamos a lutar e a gastar energia com algo que vai acontecer», conclui.

 

Texto: Ana Filipe Silveira com Joana Dantas Rebelo; Fotos: DR

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