Sónia Matias
“A vida é feita para viver grandes amores”

Famosos

Aos 34 anos, a toureira portuguesa confessa-se apaixonada pela profissão acima de tudo

Qui, 18/04/2013 - 23:00

Há mais de uma década, tornou-se a primeira toureira profissional em Portugal, ao tomar a alternativa pela mão do padrinho, João Moura. Aos 34 anos, Sónia Matias assume a paixão pela sua arte, que descobriu ainda criança. A sensual loura das praças portuguesas alimenta a sua feminilidade, mesmo frente ao touro. Depois de um relacionamento de 14 anos que terminou, espera ainda voltar a apaixonar-se.

VIP – O que espera desta temporada?
Sónia Matias – Espero poder dar o meu melhor e triunfar. Tenho cavalos extraordinários que vão ajudar-me a atingir os meus objetivos, realizar-me e divertir-me, mas também dar um bom espetáculo ao público. Sinto-me bem, sinto-me motivada, espero que seja uma época em grande.

A sua apresentação foi em 1990, em Samora Correia. Continua a ir para a praça com o mesmo entusiasmo de há 20 anos?
Sem dúvida. Com o mesmo entusiasmo e talvez com mais consciência. Quando somos adolescentes fazemos as coisas um pouco inconscientemente, é o percurso da vida, mas continuo com a mesma gana e com mais sabedoria. Sempre me dediquei com muita paixão.

Quando soube que queria ser toureira?
Desde pequena. Com 12 anos despertou-me a atenção uma corrida no Campo Pequeno. Os meus pais eram aficionados e eu apaixonei-me. Pelo touro, pelo cavalo, os trajes, a música, o público, tudo o que envolve a festa brava.

E o que fez para concretizar o seu sonho?
Essencialmente… birras! Durante um tempo os meus pais ainda lutaram, porque não tinham cavalos, infraestruturas, não tinham nada para começar. Ninguém na minha família estava ligado à tauromaquia. Não tinha nenhum toureiro, nenhum ganadeiro. Felizmente, tinha uma família fantástica, com meios económicos para me poder auxiliar.

É muito dispendioso?
Claro, temos de ter instalações para os cavalos, a praça de touros para treinar, um camião para deslocar os cavalos… isto é o mais básico.

Disse aos seus pais, aos 12 anos, que queria ser toureira, imagino que não foram logo adquirir uma praça de touros?
Eles achavam que eu estava louca. Como é óbvio acharam que era uma ideia passageira. Fiz uma birra e como desde sempre mostrara carinho pelos cavalos e meu pai comprou um cavalo a pensar que não era por a, e à medida que foram vendo a minha convicção, foram acreditando e apoiando, sempre receosos, claro, porque viam que não seria uma profissão fácil, sempre com um risco. Depois, a partir de 1997, o meu pai acreditou que era verdade e apoiou­–me a 200 por cento.

No fundo são o seu principal apoio. O seu pai é o seu agente?
Sim, a minha família ajuda-me muito. O meu pai é meu apoderado e toma conta dos contratos, a minha irmã é moça de espadas, trata das roupas, das marcações de hotéis, das bandarilhas, o meu irmão está encarregue dos cavalos e tenho ainda dois primos que trabalham connosco, tenho a família toda envolvida na minha profissão.

É importante para si, dá-lhe estabilidade?
Sem dúvida. Porque sinto que tratam das coisas como sendo deles, com carinho e com uma dedicação enorme. Não tirando mérito aos empregados, porque há empregados fantásticos, mas quando é família há um carinho diferente.

Foi a primeira mulher a tomar a alternativa em Portugal, isso fez-lhe sentir um orgulho acrescido?
Claro, não só por ter sido a primeira, mas também pela forma como consegui. Começando do zero, conseguir atingir o profissionalismo. Foi muito gratificante.

Sentiu-se discriminada por ser mulher?
Inicialmente sim, senti que havia oposição de alguns colegas por estar inserida em alguns cartéis. Depois essa ideia foi-se dissolvendo e começou a crescer um grande respeito, carinho, amizade. Também porque desde que enveredei pela profissão nunca quis facilidades, mas foi muito importante conquistar o respeito deles. Claro que isso cria algumas alterações em relação a eles, por exemplo para vestir-me, para ir à casa de banho, é muito mais cómodo para eles!

Mas é muito feminina, apesar de estar sempre entre homens?
Sim, apesar de estar numa profissão essencialmente masculina, sinto-me muito feminina, sou supervaidosa com o cabelo, com as unhas, todas as banalidades que as mulheres gostam. Quero manter o meu lado feminino, acima de tudo.

Teve um pequeno problema no lábio, fez uma cirurgia que correu mal… isso deixou marcas físicas, mas psicológicas também?
São situações delicadas, mas eu sou muito positiva. Estou a ser acompanhada pelo doutor Biscaia Fraga, que está a tentar resolver o problema. O que aconteceu é que há muitos anos, mergulhei numa praia e fiz uma reação a uma alga e fiquei com um alto nos lábios. Outras pessoas que estavam comigo ficaram também com sequelas. Como mulher, porque queria voltar a ter o lábio perfeito, aconselharam-me a injetar uma substância, dizendo que era um método seguro, que era absorvido pelo organismo, que não corria quaisquer riscos. Infelizmente o organismo não reagiu bem e criei resistência no lábio. Fiquei com marcas que estou a tentar minimizar. Não tem sido fácil…

Suponho que de vez em quando também sai da arena com umas sequelas…
Muitas, mas essas não me incomodam! Isso faz parte, estou consciente que corro determinados riscos. Já vivi situações desagradáveis, já parti a perna mais do que uma vez, tive de meter parafusos, já rasguei um músculo, parti braços… Que aconteçam poucos, mas de vez em quando ficam essas mazelas. Não as vejo como medalhas, mas como ossos do ofício. Quando entro na arena não estou a pensar no que vai acontecer, mas estou preparada psicologicamente que pode acontecer.

Quando chegar a altura de pensar em ser mãe vai ser problemático?
Acho que quando der esse passo será uma opção ponderada e quererei ser uma boa mãe, portanto não poderei estar tão envolvida a nível profissional. Suponho que vou mudar na altura, quando estiver preparada para me dedicar a 100 por cento.

Isso significa que a maternidade só vai acontecer depois da reforma?
Provavelmente! Por enquanto é assim que penso, mas com o decorrer do tempo mudamos de ideias, às vezes de um dia para o outro. Por enquanto quero dedicar-me à minha profissão, é o que tenho em mente, não penso em filhos.

Teve um relacionamento longo com o cavaleiro Rui Alexandre. O facto desse namoro acabar fê-la questionar-se ou olhar para este assunto do amor com outros olhos?
Não. Acima de tudo a vida é feita para viver paixões, para viver grandes amores e é importante guardar as coisas boas. Foram 14 anos de namoro, guardei muitas coisas boas no meu coração e acima de tudo uma grande amizade que acho muito importante e continua a haver respeito. A vida continua, é normal as pessoas terem ideias opostas e quererem seguir vidas diferentes. Provavelmente virão outras relações na minha vida… espero que pelo menos mais uma. Há que procurar a felicidade e andar para a frente.

E ainda não a reencontrou?
Não, por enquanto ainda não. Mas estou tão apaixonada pela minha profissão que aproveitei este momento para me dedicar ainda mais. Durante muito tempo conciliei a profissão com outras coisas, com estudos, trabalhei muito e neste momento posso dedicar-me completamente à profissão. Neste momento estou a iniciar-me nas aulas de toureiro, de equitação…

Como se imagina daqui 20 anos?
Bem, já serei “cota”! Se calhar já não estarei a tourear, ou então só por brincadeira. Eu digo muitas vezes que irei tourear enquanto me sentir com faculdades e conseguir corresponder às expectativas do público. Depois espero conseguir transmitir a arte a outras crianças e adolescentes. É uma das ideias que tenho em mente.

Texto: Elizabete Agostinho; Fotos: José Manuel Marques; Produção: Elisabete Guerreiro; Maquilhagem e cabelos: Vanda Pimentel com produtos Maybelline e L’Oréal Professionnel

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