Inês Castel-branco E ângela Pinto
“Tudo a nu é uma sátira à vida de ator”

Famosos

Atrizes falam, sem preconceitos, da profissão e como conciliam o trabalho com a família

Qui, 11/04/2013 - 23:00

O elenco é composto por nove atores que o convidam a descobrir as suas vidas fora do palco e do glamour, mas também a azáfama e trabalheira que dá levar à cena uma peça de teatro. Tudo A Nu estreou no passado dia 20 e estará no Teatro da Malaposta até 27 de abril. Inês Castel-Branco e Ângela Pinto foram as “representantes” de Gonçalo Ferreira, Hélder Gamboa, Isabel Ribas, Mónica Garcez, Paulo Oom, Rui Raposo e Rui Sérgio que, com elas todas, as noites partilham o palco.

VIP – Tudo A Nu fala dos bastidores do teatro, ou seja a vossa vida. Fale-me um pouco da história da peça…
Inês Castel-Branco – É uma sátira à nossa vida. Acho que nós somos um pouco mais profissionais e menos conflituosos, embora também existam conflitos. Mas é um bocadinho uma sátira ao teatro e à forma como se faz teatro e ao processo de montar uma peça que dura desde o dia em que nos juntamos para ler, os ensaios, a estreia, o tempo em cena e depois pela tournée. Neste caso somos nove atores em palco, o que faz com que seja uma comédia de portas muito frenética, como há bastantes conflitos que vão surgindo ao longo do processo. Não só amoroso e de despeito, mas também profissionais.
Ângela Pinto – É uma peça divertidíssima! É um bocadinho o descobrir do que somos nós atores no dia-a-dia, fora do palco e do glamour. Mostrar que somos pessoas como quaisquer outras e que também temos os nossos anseios, os nossos problemas. Isso é muito interessante, porque é tudo abordado. É evidente que a peça é um bocadinho caricatura, porque todos eles têm um problema. É uma comédia muito bem escrita. Faço dois personagens completamente dispares: sou a produtora do espetáculo, uma atriz com uma carreira sólida e um bocadinho distante, nada popular e sou uma governanta, absolutamente popular, e onde se passam uma montanha de peripécias.

Foi um desafio que aceitou de imediato?
ICB – Sim. Só quis saber antes quando começava a próxima novela, porque desde que o meu filho nasceu, prometi a mim mesma não voltar a conciliar teatro e televisão. A minha família, neste momento, é uma prioridade. Pode ser que quando ele for mais velho volte a conciliar, mas para já é impensável. Depois surgiu o Vale Tudo, mas percebi que as datas eram suportáveis e aceitei logo. Ser convidada para fazer teatro continua a ser, para mim, não só uma honra, como um motivo para ficar a tremer da cabeça aos pés. Nunca acredito, sempre que recebo o telefonema.

Porquê?
ICB – Acho sempre que estão enganados (risos), mas é ótimo, com esta idade, conseguir fazer pelo menos uma peça por ano. Achei sempre que nunca iria estar nesta posição. Achava que ia fazer televisão e pronto. Portanto, é muito bom.

É a primeira vez que faz parte de um elenco tão grande?
ICB – Sim. É mais difícil gerir, porque é uma comédia de portas que envolve imenso rigor. Sempre que alguém sai de cena, outro tem de entrar, por isso é muito difícil.
Vai ter de me explicar o que é uma comédia de portas….
ICB – É uma comédia em que as situações cómicas são causadas por entradas e saídas de cena. Neste caso é o suprassumo da comédia de porta, porque os oito atores estão lá dentro, mas não sabem que os outros não estão. Vão-se revelando também os conflitos de bastidores que acabam por ser levados para o palco, que é uma coisa que nunca se deve fazer.

Já passou por alguns desses conflitos?

ICB – Não. Neste caso, como é uma sátira, é tudo muito exagerado, os atores são um bocado canastrões…. cada um tem a sua característica. Há um que acha que é o ator do método e tem que escrever tudo, outro que é o mais velho, já faz isto há anos, já se está a marimbar e como é alcoólico quer é despachar as cosas para ir beber copos, no caso da minha Bruna, é um bocado distraída, displicente também, mas cumpridora. Sabe sempre o texto, quando entrar e sair, mas nunca está realmente lá, não sabe trabalhar em grupo e está sempre com o seu telemóvel, com o seu jornal… que há muitas atrizes assim, especialmente da minha geração.

Acha que ser o inverso da Bruna é o que a faz ter sempre trabalho?
ICB – Prefiro que outras pessoas digam isso de mim (risos)… Não me acho uma atriz iluminada, sou uma atriz que trabalha muito e é daí que vem os convites. Era mais fácil se fosse só talento, mas não, é preciso muito trabalho. E é a esse trabalho que sempre me agarrei desde que comecei; saber sempre os textos, estudar muito em casa, quando estou a ensaiar estou mesmo e a dar também os meus in puts, a minha opinião, que é uma coisa que só agora comecei a fazer.

Só agora, porquê?
ICB – Antes era demasiado insegura. Acho que coincidiu mais ou menos com a maternidade e com alguma segurança profissional. Mesmo no meio de atores veteranos já consigo dar opiniões sem me sentir mal com isso, mesmo que não sejam aceites, vivo bem com isso. Já não tenho medo de falar, o que é ótimo (risos).

Com mais de 30 anos de carreira a Ângela já devem ter passado por muitas tricas de bastidores como as que a peça retrata….
AP – Sim, por imensas coisas! E é por isso que acho que este texto é brilhante, porque é de alguém que sabe muito de teatro e de atores, de técnicos…. Na peça especificamente desde as relações do encenador que é um pinga-amor, e quando damos por ele está metido com a meninas quase todas. Depois temos aquela atriz superconciliadora que quer agradar a todos… acho que para o público vai ser giríssimo conhecer um pouco desta nossa intimidade da família teatro. Sempre que estamos a trabalhar somos uma família porque estamos juntos muito tempo e acabamos por nos conhecer bem e não somos iguais.

Que balanço faz deste anos de profissão. Faz muito teatro, alguma televisão…
AP – Sim, televisão faço q.b, às vezes gostava de fazer um bocadinho mais, sobretudo pequenos papéis em séries. Isso era uma das coisas que gostava de fazer mais vezes. Tirando isso, tenho feito muita coisa em teatro e com muitas pessoas diferentes. Não é fácil ser freelancer… estreei-me em 80, portanto tenho 33 anos de teatro sempre nestas condições… Estou na idade de Cristo (risos) e, como sou otimista, costumo dizer que daqui para a frente só pode ser melhor. Estou há algum tempo sem convites de outros encenadores, mas eu percebo que as pessoas vivem muito fechadas nos seus pequenos núcleos e quanto menos dinheiro há, mais se fica com os núcleos base. Mas demos a volta e fazemos nós, agora venha o público! Pedimos subsídio para esta peça, mas não tivemos.

A Inês disse que a maternidade a mudou…
ICB – Sim… ou isso ou foi uma grande coincidência. A maternidade tirou importância a coisas que na realidade não a têm, para dar importância a outras coisas. No trabalho, hoje em dia, dou muito mais importância ao tempo. Dou mais de mim em menos tempo, não me perco com inseguranças, faço! Porque quero ir ter com a minha família. Dantes tinha um método que era sentir­-
-me a pior atriz em palco, para depois ter um “clique” e pensar, “não eu tenho que lhes mostrar que não sou assim tão má” (risos). Agora graças a Deus já passou essa fase e sinto-me muito mais feliz.

Já tem projetos para televisão?
ICB – Gostava muito de continuar na SIC. Acho que está a fazer uma ficção muito interessante e na SP, a produtora com quem trabalho há sete anos e que adoro, é quase uma família. Portanto, eu gostava de continuar, se puder. Mas acho que esta coisa de terem acabado com os contratos de exclusividade é muito bom.

Era exclusiva da SIC?
ICB – Sim, acabou em dezembro. Embora me tenha tirado parte do meu orçamento familiar, acho mesmo que é bom não haver contratos de exclusividade, não haver caras da estação, não haver estrelas, porque isso torna o mercado muito mais interessante. Para mim, enquanto atriz, é melhor ter as portas abertas em todo o lado e poder escolher um personagem e não um canal. Gostava de continuar na SIC, porque acho que estão com projetos muito interessantes, mas se tiver hipóteses noutros sítios, é uma questão de ponderar.
O seu filho Simão tem dois anos e meio. Como está ele??ICB – Está gigante! Continua um anjo, fala, fala, fala. Continuo completamente apaixonada e acho que lá em casa estamos a fazer um bom trabalho com ele. Estou sempre com medo que que mude… sempre que digo bem dele tenho medo que no dia seguinte mude e se transforme numa peste (risos). Tive muita sorte. Tem muita personalidade, mas é muito calminho.

É fácil conciliar a sua vida para estar com ele?
ICB – Estive este último ano muito folgada, o que é ótimo. Adoro ir para a escola dele mais cedo e ficar lá com os miúdos todos. Sempre gostei muito de crianças e agora que tenho uma é um universo que ainda se abriu mais para mim. Adoro contar histórias às crianças. Estou a adorar a maternidade. É uma experiência muito linda.
Os filhos da Ângela já são mais crescidos…
AP – Sim, tenho um com 24 e outro com 11. A diferença entre eles é grande.

É uma mãe diferente, mais disponível?
AP – Continuo a trabalhar imenso, portanto a nível de disponibilidade, tanto para um como para outro tive sempre imenso apoios dos avós.

Algum quer ser ator?
AP – O mais velho podia ter sido um ator fantástico. Fez várias coisas até mesmo para a televisão quando era miúdo, mas é músico. A veia artística está lá. O mais novinho tão depressa quer ser músico, como ator ou escritor (risos). Moramos em Campo de Ourique e ele adora ir para a casa Fernando Pessoa, já lá fez vários workshops… Eu bem queria que algum deles fosse para empresário ou futebolista (risos).

Texto: Carla Simone Costa; Fotos: Luís Baltazar; Maquilhagem e cabelos: Ana Coelho com produtos Maybelline e L’Oréal Professionnel; Produção: Romão Correia

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