Salvador Corrêa De Sá
“Ter sensibilidade é um dom que se herda”

Famosos

Especialista em pintura decorativa recebeu a VIP na sua casa de família, no Estoril

Sex, 08/11/2013 - 0:00

 Salvador Corrêa de Sá é um dos nomes mais importantes da decoração de interiores em Portugal. É especialista em pintura trompe-l’oeil e o seu trabalho já foi requisitado para o Teatro Real ou o Palácio do Oriente, ambos em Madrid. Nasceu no seio duma família aristocrata, apreciadora do belo. Cresceu, por isso, num ambiente onde a arte de viver é muito mais do que decoração. É sobrinho de Frei Hermano da Câmara e recebeu a VIP na casa de família do Estoril, ao lado das irmãs e dos sobrinhos.

VIP – É um dos maiores especialistas em Portugal na pintura de frescos. Como e onde aprendeu?
Salvador Corrêa de Sá – A decoração, como a pintura decorativa, começa desde cedo, como hobby, e acaba por se transformar em profissão de uma maneira natural. Nunca decidi que ia ser decorador ou artista plástico.

Aconteceu naturalmente?
Naturalmente. Pintava aguarelas, comecei a pintar as molduras e passe-partouts. Até que veio um convite para fazer uma experiência numa sanca, depois numa parede… e fui experimentando e foi correndo bem. Daí veio o convite para fazer parte de uma loja de decoração. Começo assim a trabalhar em decoração, no fundo como um complemento da pintura decorativa.

Suponho que não aprecie uma parede branca?
Paredes brancas, ambientes clean, gosto bastante… (risos). Mas também não é preciso ser branco estático. Pode ter texturas, pode ser branco sujo, cores de pedra ou assumidamente branco em ambientes de praia.

E o que lhe dizem os ambientes minimalistas ou muito modernos?
Gosto, sem dúvida, mas têm de ter alguma coisa, uma peça de arte. E ter a luz muito bem trabalhada, ou seja, tem de haver alguma coisa que justifique essa aridez de materiais! A qualidade das poucas peças tem de ser dum nível alto e a arquitetura também. Pode apetecer ter assim uma segunda casa, caso contrário é natural que se tenham peças, livros, retratos, coisas básicas que fazem parte da vida de qualquer pessoa! E isso vem desde criança: os brinquedos, os livros, os carros, a bola, ou seja, vamos crescendo e continuamos a ter coisas boas ou más, feias ou bonitas, mas que são parte do nosso dia-a-dia. Por isso, repito, acho bonito, posso gostar para visitar…

Mas para viver sempre…
Pois. Tendo apenas uma única casa, que se habita a tempo inteiro, acho pouco viável.

A casa onde recebeu a VIP foi decorada por si? Era a casa da sua mãe. É uma casa de família?
A casa onde vivo tem alguns toques meus, basicamente da pintura mural e o trompe-l’oeil, mas é a casa de todos nós e a base já cá estava. Claro que se foi atualizando, mas sempre dentro do estilo de peças que já existiam.

Esta casa reflete o vosso estilo de vida?
O estilo da casa é o nosso tipo de vida. Temos a casa sempre cheia de família e amigos. Gostamos muito de receber e conviver.

A sua mãe era irmã de Frei Hermano da Câmara. A veia artística está nos genes?
A veia artística está muito presente na nossa família e duma maneira muito natural, tanto do lado do meu pai como da minha mãe. Muita gente pintava e pinta bem. A música e até a escrita estão muito presentes. Quem não toca, não pinta, não canta, nem escreve… aprecia! E apreciar e ter sensibilidade também é um dom que se herda ou se educa.

Voltando à decoração, o que é para si sinónimo de ambientes de sonho?
O importante para ter um bom ambiente, falando de decoração, é que quem lá viva se sinta verdadeiramente bem. Se isso acontecer, mesmo que as coisas lá existentes não sejam extraordinárias (nem em gosto, nem em qualidade), o ambiente vai ser de certeza acolhedor para quem lá vive e para quem visita!

É um ponto de vista interessante…
Daí que a coisa mais importante para se ajudar alguém a decorar a casa é conseguir captar o que gosta, que tipo de vida quer ter em casa, que peças tem e, assim sim, conseguir adaptar tudo isso à casa de cada um.

Num mundo onde se valoriza cada vez mais o que é moderno, ainda hoje há quem o procure para fazer este tipo de trabalhos?
Este tipo de trabalhos, como a pintura decorativa, faz parte da vaga moderna de decoração. Não é preciso trompe-l’oeil e marmoreados. Há texturas e cores que fazem a decoração por excelência de espaços onde, muitas vezes, são quase exclusivamente a nota de decoração.

É verdade que faz muitos trabalhos lá fora, sobretudo em Espanha?
Em Espanha já fiz alguns trabalhos muito divertidos, como uma das salas do Teatro Real em Madrid, no Palácio do Oriente ou no Palácio El Pardo, mas é cá que vivo e que trabalho a maioria do tempo.

Também se dedica à organização de eventos?
Os eventos, as festas, os jantares e os casamentos, o que quer que seja, são mais uma vertente da decoração. É um trabalho muito divertido porque, no fundo, estou ali a tentar dar um ambiente único para um momento especial.

Mais uma vez, é importante perceber o cliente?
A coisa mais importante é tentar perceber quem nos chama. Temos de ver o local ou sugerir algo que tenha a ver com o pretendido. Depois, é preciso pensar na logística de timings, de sugestões de caterings, menus. E para tudo resultar bem só mesmo tentando conhecer o cliente.

Aprendeu esse dom em casa?
Tive a sorte de viver numa família que aprecia a estética e desde sempre, e até porque somos sempre muitos, nos habituámos a fazer ambientes divertidos e com alma cada vez que nos juntávamos. É daqui que vem a melhor aprendizagem nesta matéria! Aprendi em casa a saber dar ambiente, a ter a luz certa, a música de fundo perfeita. Mesmo para sentar à mesa e até o que se come, uma coisa simples, mas que bem feita é uma arte.

Quem quiser procurar o seu trabalho, onde o encontra? Tem um atelier em Lisboa e as suas irmãs também trabalham consigo…
Trabalho com a minha irmã Mico e somos sócios desde há vários anos. Já tivemos uma loja no Príncipe Real e agora temos um atelier de decoração na Avenida 24 de Julho, em Lisboa. A minha outra irmã, Mana, colabora connosco esporadicamente, pois faz trabalhos em patchwork e é também colaboradora nos eventos, principalmente na parte de organização paisagística.

Acha que falta a Portugal sentido estético?
Em Portugal, o sentido estético em geral é bastante elevado. Claro que me identifico mais com uns do que com outros, mas no geral as pessoas preocupam-se e aparentam cuidar não só delas próprias, como também das suas casas e até dos dias de festa. Penso que esse cuidado existe em todas as camadas sociais.

Texto: Alberto Madeira Miranda; Fotos: Bruno Peres; Produção: Romão Correia; Maquilhagem e cabelos: Ana Coelho com produtos Maybelline e L’Oréal Professionnel

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