Paula Bobone
“Tento viver a vida como uma obra de arte”

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PAULA BOBONE
Ao longo dos últimos anos Paula Bobone habituou-nos à sua imagem excêntrica, mas fora dos eventos sociais diz-se uma mulher banal que vive para os alunos e para a escrita. Professora de Gestão de Eventos, etiqueta e protocolo e autora de dez livros, Paula Bobone admite que foi o gosto pela transmissão de conhecimento que mudou a sua vida.

Seg, 06/02/2012 - 0:00

 Ao longo dos últimos anos Paula Bobone habituou-nos à sua imagem excêntrica, mas fora dos eventos sociais diz-se uma mulher banal que vive para os alunos e para a escrita. Professora de Gestão de Eventos, etiqueta e protocolo e autora de dez livros, Paula Bobone admite que foi o gosto pela transmissão de conhecimento que mudou a sua vida. “Até aí era uma discreta reformada da função pública que queria arranjar uma atividade“, admite.

VIP – A Paula Bobone é conhecida pela sua irreverência de estilo, mas também como autora de diversos livros de etiqueta e protocolo. Como definiria o seu percurso de vida?
Paula Bobone – A minha vida tem sido uma contínua luta para ganhar mais informação e experiência. Para enriquecer os meus contactos e viver intensamente. A minha filosofia de vida baseia-se no apreço pelo dom de viver. A vida deve ser vivida de forma a dar-nos uma experiência interessante.

Portanto, vive cada dia intensamente?
Sim e vivo também numa perspetiva de tirar partido de tudo e não ser passiva. Ser mais proativa. Embora também tenha a perceção que existe um destino. Considero-me uma pessoa a caminho da felicidade, não uma pessoa feliz. Caminho para um desenlace feliz de todo este romance que tem sido a minha vida. Um autor de ficção poderia escrever a história da minha vida.

Gostaria que isso acontecesse?
Não como decisão minha. Mas se alguém um dia se lembrar, tenho a impressão que será interessante de ler.

Vive para a pedagogia, que considera ser a sua grande bandeira. Como começou a sua aventura literária?
Tirei um curso de Filologia Germânica e esta preparação académica deu-me uma possibilidade de ingressar em funções profissionais muito curiosas. Entrei para o Ministério da Cultura quando foi criado, em 1974/75. Fiz toda uma carreira de mais de 30 anos sempre na função pública ligada à Cultura e também ao Parlamento. O contacto com o meio cultural português permitiu-me manter o gosto pela reflexão, pela dimensão da importância da Cultura para o Homem. Defendo que as pessoas têm de ser cultas. Depois, mais ao menos aos 50 anos, devido a fatores de alteração do meu percurso profissional, porque deixei de ter funções de grande exigência, tive tempo livre e apliquei esse tempo livre à escrita.

E escolheu escrever sobre etiqueta e protocolo?
Sou muito criativa, mas mais na parte visual, não na parte de inventar histórias. Não gosto nada de inventar histórias. Por isso, dediquei-me à escrita com a preocupação de ter uma causa, de ter uma função social, e consegui. Explorei muito os antecedentes culturais. A origem das coisas. Os meus livros não são manuais de regras. Eu não falo só de regras. As regras são uma consequência de processos históricos. Não quero com a leitura dos meus livros que as pessoas se transformem em autómatos.

Também tem uma veia de professora.
Sim. Dou aulas de pós-graduação de Gestão de Eventos e leciono workshops e cursos de etiqueta. Faço efetivamente grandes esforços por transmitir informação. Gosto muito de ensinar, de ser a abelha mestra.

É curiosa?
Sim, mas não é no sentido bisbilhoteira, não me interessam nada as fofocas. Interessa-me saber coisas para perceber melhor o mundo. Viajo imenso, tenho imensos contactos internacionais. Faço muitas perguntas para poder aprender com a experiência dos outros.

Com dez obras publicadas, está a pensar editar mais?
Não vivo sem projetos. Tenho dois livros que ainda gostava de escrever, porque tenho substrato para os poder fazer. Tenho muitas leituras feitas, muita matéria acumulada, muitos papéis já produzidos. Mas hoje em dia o comércio do livro já não é o que era há dez anos. Porque há muita gente a escrever. Estou à espera do momento oportuno para lançar estes livros que serão retumbantes e que são aqueles que concluem todo o meu projeto de vida, que é ser útil à sociedade.

Sente que é uma pessoa que deixa uma herança à sociedade com a sua obra?
O marcante para mim é sentir que estou já numa fase em que posso olhar para trás e dizer que tive uma vida engraçada, divertida, deixei um certo rasto. O que mudou a minha vida foi o começo da escrita. Até aí era uma discreta reformada da função pública que queria arranjar uma atividade. Agora, sei que deixo uma pequena herança, modesta, mas deixo. Mas ainda mais importante para mim é ter tido uma filha que adoro. Ter construído uma família. Porque a família é uma das coisas mais importantes que se pode ter. Depois há também a fantasia.

Aos 66 anos é, portanto, uma mulher realizada?
Não gosto nada dessa pergunta, mas vou responder. A resposta é mesmo essa. Não gosto da pergunta porque a resposta é completamente desconcertante. Não sou uma mulher realizada. Acho que ninguém é realizado. Quero sempre mais. Se descobrir outro caminho que não seja este, segui-lo-ei.

Como é a relação com os seus alunos?
Tenho muitos alunos que ficaram meus amigos, mas no início vão às minhas aulas apenas com a curiosidade de me conhecerem, como se eu fosse uma ave rara. Não sei o que se passa comigo. Projeto uma imagem de um ser extravagante. Admito que tenho um estilo muito próprio, muito sui generis, muito original e diferente. Gosto de marcar a diferença, mas no fundo sou uma mulher banal e amiga do meu amigo. Quero é dar aulas e depois ver o entusiasmo dos meus alunos. Depois no fim do curso eles vêm dizer-me: “Afinal a professora é uma pessoa tão simples, simpática!” E eu respondo: “Pois sou, mas o que é que estava à espera, que eu fosse uma bruxa má?” (Risos).

Muitas vezes é vista como um personagem. Como é que tudo começou?
Entrei nas listas de convidados das festas não só em Portugal como no estrangeiro, mas não me pergunte porquê. Talvez porque sou simpática, ou engraçada. Gosto de marcar a diferença e isto é uma espécie de círculo vicioso. As pessoas têm expectativas em relação a mim e eu não as quero defraudar. Portanto, vou-me também equipando no sentido de satisfazer as expectativas. Depois, tenho muito gosto e acho muito divertido. Eu transformo-me em personagens. Sou diferente das minhas amigas, mas as pessoas que me conhecem gostam de mim, divertem-se com as minhas pequenas loucuras. Sei que não é do agrado de toda a gente, suscita algumas invejas. Mas não quero destronar ninguém com isto. Quero ser diferente. Dou nas vistas e no fundo tenho a certeza absoluta que estou muito ao corrente das tendências da moda. Embora eu não viva para isso. Vivo mais para cultivar o espírito, para os meus alunos. Isso é que me faz sentir feliz e é o meu dia-a-dia. Em todo o caso ‘‘o que seria eu sem os meus trapos?” Bem… era uma mulher feliz com certeza.

Recentemente, esteve no Baile das Debutantes onde, por exemplo, conviveu de perto com Bruce Willis. Conhece muito bem este mundo das festas internacionais da alta sociedade que parecem ser tão exclusivas?
São de facto exclusivas e eu entrei nelas pela porta da frente, porque uma das riquezas que tenho são os meus amigos. Sou muito internacional. Tão bem estou aqui como em Paris ou em qualquer parte do Mundo. Conforme entrei nas listas de convidados de Portugal, também entrei nas listas de Londres, de França, de Espanha, de Marbella. Sou convidada para sítios em todo o Mundo. E não aceito todos os convites. Não posso andar sempre a viajar. Pareço, mas não sou do jet set.

Falando um pouco mais do seu contexto familiar. Sei que vai ser avó.
É a lei da vida. Vou experimentar como é ser avó e depois dou-lhe outra entrevista. Mas há um entusiasmo enorme na nossa família, estamos todos muito felizes. É uma menina.

Sei também que se define como uma pessoa simpática. É mesmo?
Fui ensinada a ser simpática. Mas isso em Portugal às vezes é muito mal-entendido. Até me lembro de me dizerem no Ministério que não devia rir para os funcionários, porque tinha um lugar de chefia. Gosto de ser simpática. No fundo, faz parte daquilo que ensino, que é etiqueta e protocolo, e não só, a arte de viver. Não domino a arte de viver, mas gosto de fingir que domino para ensinar aos meus alunos. Tento viver a vida como uma obra de arte e tem sido esta a minha postura.

O gosto pelo colorido da vida começou durante a sua infância?
Não tenho grande memória da minha infância. Mas aquilo que me marcou foi um certo espírito de deslumbramento pelo mundo das fantasias, que ainda hoje me caracteriza. Dá-me ideia que mantive essa dimensão de deslumbramento que ainda me faz ser uma pessoa com um enorme sentido de humor.

Com toda a sua extravagância pública, certamente já terá passado por situações engraçadas. Lembra-se de alguma?
Moro em Lisboa, na parte velha da cidade, mais concretamente entre o Bairro Alto e o Cais do Sodré. Muitas vezes, ao atravessar as ruas bem pitorescas do Cais do Sodré, encontro, encostadas às paredes, certas mulheres que até já conheço de vista e calculo que estejam por ali a trabalhar. Quando passo, elas falam alto entre si. Certo dia, ao passar por lá, reconheceram-me. Teriam ouvido dizer ou visto nas revistas que eu era uma socialite e até sabiam o meu nome. Uma delas, depois de eu passar gritou para outra: “Olha, viste ali a Bobone?” “Quem?”, disse a outra. “A Bobone, a socialista!” Parti­ me a rir. De socialite – que elas não sabem bem o que será – virei a socialista. Daí para a frente, quando passo à tarde na rua Nova do Carvalho para fazer o meu jogging na 24 de Julho oiço sempre o comentário: “Olha a socialista.” Tem a maior graça!

Texto: Ricardina Batista; Fotos: Paulo Lopes; Produção: Romão Correia e Marco António

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