Francis Obikwelu
“Tenho vontade de adoptar”

Famosos

O novo campeão europeu de atletismo, FRANCIS OBIKWELU, também sonha com as vitórias pessoais e revela que quer dar início à sua própria família
Abandonou a carreira em 2008, mas repensou a decisão e voltou às pistas de atletismo. Em boa hora o fez e, aos 32 anos, Francis Obikwelu elevou novamente o nome de Portugal, ao conquistar, na passada semana, a medalha de ouro nos 60 metros nos Europeus de Atletismo.

Sex, 18/03/2011 - 0:00

 

Abandonou a carreira em 2008, mas repensou a decisão e voltou às pistas de atletismo. Em boa hora o fez e, aos 32 anos, Francis Obikwelu elevou novamente o nome de Portugal, ao conquistar, na passada semana, a medalha de ouro nos 60 metros nos Europeus de Atletismo. Depois de conquistar mais uma medalha, Obikwelu abriu o coração à VIP para recordar os momentos difíceis da vida e falar sobre o seu futuro.

 

VIP – Veio para Portugal com 16 anos. Que memórias guarda da Nigéria?

Francis Obikwelu – Tinha uma vida difícil. A minha família não tinha nada, não havia sequer dinheiro para acabar os estudos. Passava algum tempo na rua a tentar vender qualquer coisa para ajudar a família. Ao mesmo tempo jogava futebol e treinava atletismo. Era uma vida muito complicada para um jovem africano, mas tínhamos a capacidade de aguentar aqueles momentos difíceis.

 

Apesar das dificuldades, na sua família reinava o espírito de que o amanhã seria melhor. Até que ponto essa forma de pensar e agir foi importante para a sua formação enquanto homem?

Foi muito importante e isso é algo que vem de família. Apesar de criança, já pensava como um homem. Se não há nada hoje, amanhã vai haver e vai tudo correr bem.

 

Nos primeiros tempos em Portugal teve de trabalhar na construção civil. Nessa altura acreditava estar destinado a grandes feitos?

Sim. Desde os cinco anos que dizia à minha mãe que ia ser famoso. Os meus pais levavam aquelas palavras como uma brincadeira e diziam que estava doente (risos). Eu chorava porque acreditava no que dizia. Não sabia como, mas sabia que ia ser famoso.

 

E na altura sabia que iria ser no desporto?

Eu sentia-me com capacidade para fazer o que quisesse. Queria ser manequim e queria ser um grande jogador de futebol. Passei para o atletismo e sabia que ia ser um grande atleta.

 

O que sente por ter entrado para a história de uma modalidade desportiva de Portugal?

Significa muito. Fui o primeiro velocista a ganhar uma medalha nos Jogos Olímpicos e isso é muito importante para mim. Mesmo nas alturas em que não ganhava muitas coisas, as crianças metiam-se comigo na rua e diziam que viam em mim um ídolo. Tenho sorte por representar Portugal.

 

Lamenta o facto de não ter conquistado as medalhas pelo seu país de nascimento?

Não, não penso nisso. Portugal é o meu país. Nasci na Nigéria, mas tenho coração de português. Até a minha mãe diz que sou português e não nigeriano (risos). Ela está muito contente por mim, pelo que lutei para ajudar a minha família, apesar de não ter tido possibilidades de estudar como os meus irmãos.

 

É um orgulho ter a capacidade de ajudar a família depois de tudo o que passou?

Graças a Deus construí duas casas para a minha família e vivem todos bem na Nigéria.

 

Vai lá com frequência?

Sim. Costumo passar lá o Natal e as férias.

 

Nunca colocou a possibilidade de trazer a sua família para Portugal?

Eles costumam vir cá, mas a minha mãe não gosta de viver na Europa. Muitas pessoas dizem que é difícil viver em África, mas eles estão bem na Nigéria. Não há frio e podem fazer tudo o que gostam. Eu respeito isso.

 

E como é quando está com eles?

Quando chego a casa da minha mãe vou logo para a cozinha e ajudo no que for preciso. A minha mãe diz-me que isso não é normal, pois quem tem dinheiro não faz nada. Gosto de continuar a ser como sempre fui.

 

Perdeu amigos ou foi maltratado por ter optado por Portugal?

Não, nunca. Nem com o povo nigeriano. A minha mãe contou-me que no dia que ganhei a medalha de prata nos Jogos Olímpicos o povo saiu para a rua a buzinar e a festejar.

 

O momento mais alto e bonito da sua carreira foi a medalha de prata nos Jogos Olímpicos?

Sim. Foi um sonho para mim.

 

Que memórias guarda dessa corrida?

Aprendi a fazer a minha prova sem me preocupar com os outros e foi o que fiz naquele dia. Na partida senti que estava em boa posição para ficar no pódio. Quando estava em terceiro decidi lutar pela vitória, mas já não havia tempo (risos). Bati o recorde da Europa e não dá para explicar o que se sente naquele momento. Foi um sonho.

 

Além dessa já ganhou muitas medalhas. Ainda agora ganhou mais uma de prata nos Europeus de Atletismo. Onde é que vai buscar motivação?

Vem de família. Desde criança que tenho motivação, mesmo quando as coisas correm mal. Neste momento estou contente com os meus treinos, pois não os faço a pensar em bater o recorde do Mundo ou algo parecido.

 

Quer correr até que idade?

Posso correr até aos 40, 42 anos sem qualquer problema. Tenho talento e trabalho para isso. Não bebo, não fumo e raramente saio à noite. Alimento-me bem e por isso é que estou sempre bem.

 

E já pensa como será a sua vida depois de terminar a carreira?

Felizmente tenho-a organizada. Tenho a minha empresa na Nigéria e também posso vir a ser treinador.

 

Qual é a sua área de negócios na Nigéria?

É na área dos vinhos. Em África o vinho está na moda e criei uma empresa com o meu irmão e os negócios estão a correr bem.

 

Esteve perto da morte várias vezes…

Numa, foi depois de uma operação de risco ao coração. Quando estava a recuperar em casa, não conseguia dormir com as dores. Chamei uma ambulância e quando cheguei ao hospital estava no limite e acabei por ficar mais um mês internado. A outra vez foi numa piscina no Canadá. Na água sou um peso morto e vou sempre ao fundo. Foi outra atleta que me puxou para fora da piscina (risos).

 

Herdou da sua mãe a paixão por crianças. Foi isso que o levou a criar a sua fundação?

Sim, mas neste momento infelizmente a fundação está parada. Não estava a funcionar bem, não havia patrocínios. Mas é um projecto que quero continuar.

 

Para quando os seus próprios filhos?

Não sei (risos). Neste momento tenho uma vontade muito grande de adoptar crianças. Tenho uma grande paixão por isso.

 

Mas só quer adoptar ou também deseja ter filhos?

Também, quero juntá-los todos (risos).

 

O que falta para realizar esses desejos?

Preciso de uma mulher (risos). Sozinho não consigo devido à minha vida. Talvez aconteça tudo quando acabar a carreira.

 

E casar?

Gostava de casar brevemente (risos).

 

Estando solteiro, o que procura numa mulher?

Sou uma pessoa sensível e não me preocupo só com a beleza. Se uma mulher é bonita, mas não tem coração… Gosto de pessoas que têm paciência e que estão ao nosso lado nos bons e maus momentos. O matrimónio não é fácil. Aprendi muito com os meus pais. Por exemplo, nunca discutiram à frente dos filhos nem nunca estiveram zangados perto de nós. Quero alguém que goste de mim pelo que sou e não pela fama ou pelo dinheiro.

 

É um homem vaidoso?

Algumas pessoas dizem que sim, mas acho que não (risos). Acho que sou fotogénico e fico bem nas fotos (risos).

 

Texto: Bruno Seruca; Fotos: Paulo Lopes; Produção: Romão Correira; Maquilhagem: Ana Coelho, com produtos Maybelline e L'Oréal Professionnel

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