Paulo Azevedo
“Tenho medo que as minhas limitações prejudiquem a vida do meu filho”

Famosos

Ator e vencedor da segunda edição do programa Splash! apresenta a namorada, Sónia Silva, grávida de um menino

Qui, 05/03/2015 - 0:00

Paulo Azevedo provou, uma vez mais, que não há impossíveis, mesmo para quem nasceu sem membros superiores e inferiores. Aos 33 anos, o ator e vencedor da segunda edição de Splash! prepara­-se para ser pai pela primeira vez, fruto do relacionamento com Sónia Silva, de 24 anos, técnica de cuidados veterinários. Em entrevista à VIP, o ator revela como foi receber a notícia de que vai ser pai e quais são os principais receios que enfrenta devido à sua condição física. 
 
VIP – Desde já, parabéns! Já sei que é um Gustavo. Sonhavam com um menino?
Paulo Azevedo – Eu, ao início, queria uma menina. Queríamos. Foi uma surpresa e boa! 
 
Como foi receber a notícia de que vão ser pais?
Sónia Silva – Foi uma surpresa, porque não foi planea­do. Sempre quis muito ser mãe, por isso, por um lado fiquei muito feliz, mas, por outro, foi: “Meu Deus, vou ser mãe.” Foi uma boa surpresa.
PA – Ser pai era um grande sonho de vida e quando soube fiquei extremamente feliz. Tal como a Sónia disse, não foi planeado, ainda estávamos a saborear o namoro, mas vamos ser bons pais.
Como é que a Sónia deu a notícia ao Paulo? Não sei se foi de alguma forma especial…
SS – Era de noite e eu disse-lhe que me apetecia tremoços. Ele, a brincar comigo, disse que não havia, a menos que eu tivesse uma boa desculpa para querer isso às duas da manhã, o que, provavelmente, não tinha. E eu disse: “Por acaso, até tenho” (risos). Sabia há pouco tempo que estava grávida e estava à procura do momento para lhe contar, mas naquela altura ele estava a dizer que eu não tinha nenhuma desculpa e até tinha.
 
Escolher o nome foi uma decisão fácil?
SS – Foi. Nós fizemos uma lista pequena dos nomes de que gostávamos mais e Gustavo estava lá no meio. Concordámos e ficou decidido. 
 
Estão juntos há pouco mais de um ano. Como é que se conheceram? 
PA – Começámos a falar no Facebook e depois conhecemo-nos pessoalmente, em Coimbra. Não começámos a namorar logo, mas as coisas foram-se proporcionando. A Sónia trabalhava no bar de um rapaz que eu conhecia, conhecemo-nos a partir daí e começámos a falar. Depois de ela ter deixado de trabalhar lá, continuámos a ver-nos.
 
O Paulo sempre tentou encarar a vida com humor e numa entrevista relatou uma história em que a sua mãe na ficção – Ângela Pinto – lhe dizia: “Se gostas dela, está nas tuas mãos conquistá-la.” E o Paulo respondia a brincar: “Não, mãe, porque eu não tenho mãos!” Com a Sónia provou que o amor não tem barreiras?
PA – Sim. Houve uma altura na minha vida em que tinha receio de não conseguir ter alguém, mas foi um receio infundado. Estou com a Sónia e estou a constituir família com ela, mas tive outras pessoas e todas as que tive ao longo da minha tinham uma mentalidade aberta. Se calhar, olhavam para além do aspeto exterior, olhavam mais além, e a Sónia não fugiu à regra.
Foi uma surpresa para si, Sónia, ter-se apaixonado pelo Paulo, atendendo à condição física dele?
SS – Nunca vi o Paulo como uma pessoa diferente. Sempre o vi fazer as mesmas coisas que as outras pessoas, à maneira e à velocidade dele, mas sempre fez. Então, para mim, não era, e não é, diferente. E se calhar, às vezes, até me esqueço que ele precisa de alguma ajuda.
Não temeu comentários ou olhares reprovadores? Como é que a sua família reagiu ao vosso namoro?
SS – Não temi. A minha família reagiu bem e todos adoram o Paulo; estão sempre preocupados. 
Não há uma única pessoa na minha família que seja preconceituosa, são todas fantásticas e aceitam superbem o nosso namoro desde o início.
PA – A Imprensa também ajudou. Antes da primeira reportagem que fizeram comigo e que deu o nome ao meu livro [Uma Vida Normal], olhavam para mim com um sentimento de pena. A reportagem foi vista por milhões de pessoas e, de um dia para o outro, a mentalidade das pessoas mudou. A Imprensa mostrou-me como alguém lutador e que consegue fazer tudo. Se calhar, a família da Sónia conhecia-me daí. 
 
Quais são as qualidades do Paulo?
SS – O Paulo é superpositivo, mostra que consegue tudo aquilo que quer e é divertido. Ele encara as diferenças dele de uma forma tão normal e divertida!
 
O nascimento do bebé está previsto para 20 de março, de parto natural. As ecografias mostram que está tudo bem com o bebé?
PA – Tudo. Eu sabia que nada era hereditário da minha parte. Sempre quis ser pai, fiz testes ao longo da minha vida, informei-me e até a nossa médica perguntava só sobre a família da Sónia, se tinha problemas de saúde. Eu dizia-lhe que tinha relatórios meus, mas ela dizia que não precisava e perguntou-me: “Não sabe por que é que nasceu assim?” Eu tenho um relatório com milhentas páginas e ela resumiu tudo. O líquido amniótico, por vezes, fica laminado, faz barreira e impede a alimentação do feto corretamente. Foi isso que me aconteceu. Pensava-se na Talidomida, que a minha mãe também tomou, mas, na altura, não ficou provado que eu tivesse nascido assim por causa disso. Mas tinha sempre aquela curiosidade de ver que estava tudo bem com o bebé e quando me disseram que estava tudo bem, que tinha os dedinhos todos, tinha tudo e estava grande… 
 
Respirou de alívio?
PA – Sim, claro. Na minha família foram uns heróis, mas as coisas nem sempre foram fáceis. Se eu tivesse um filho com diferenças, claro que não íamos desistir dele, claro que tínhamos de ser o pilar da vida dele até ele poder seguir em frente e as coisas não iam ser fáceis. Uma pessoa diferente tem sempre necessidades especiais, mas o amor que se sente por um filho ou por um pai supera tudo. Conscientemente, eu sabia que a minha deficiência não tinha nada de genético, mas podia haver outras coisas. Quando a Sónia soube que estava grávida, nem sequer pensámos noutra possibilidade que não fosse o nascimento. Por muito diferente ou problemas que possa ter, o coração continua a bater.
 
Pretende assistir ao nascimento?
PA – Sim, claro. Vou estar ali a apoiar a Sónia. Mas não vou cortar o cordão, tenho receio.
Está preparado para este desafio de ser pai?
PA – Acho que nunca podemos dizer que estamos totalmente preparados, porque a paternidade é por fases. Quando nascer, preparamo-nos para as noites sem dormir; depois, para a infância e adolescência… É o maior desafio de todos.
 
Vão ter uma vida dependente de vocês…
PA – Agora, as responsabilidades são muito maiores. Antes, preocupava-me comigo, a Sónia preocupava-se com ela, preocupávamo-nos um com o outro… Agora vêm os medos. 
 
Quais são os seus principais receios?
PA – Eu sou autónomo e independente com as minhas limitações. O meu receio é não conseguir superar as minhas limitações para com o meu filho. Tenho a perfeita noção que não consigo andar com ele na rua ao colo como um pai perfeitamente normal. Há aquelas pequenas coisas, como, por exemplo, quero sair com ele da maternidade no ovo e se calhar não vou conseguir por causa dos braços. São essas coisas, de não corresponder às expectativas, que ele vai ter do próprio pai. Mas é psicológico, o amor entre um e o outro cresce e as coisas superam-se. 
 
Portanto, os principais receios que tem é como é que vai corresponder como pai?
PA – Sim. Nós queremos ser sempre os melhores pais. As minhas limitações não têm limites para mim, sempre olhei para mim como uma pessoa normal. Faço o meu trabalho, bem ou mal, sou diferente… mas tenho medo que as minhas limitações prejudiquem a vida do meu filho. Eu consigo mudar uma fralda e limpá-lo, dar banho a meias com a Sónia, pois já treinámos nas reuniões do parto. Agora, não consigo andar ao colo com ele na rua ou apanhá-lo se ele cair. 
Mas tem a Sónia…
PA – Claro, por isso é que somos um casal e uma família. Como pai, quero ser o Super-Homem dele. Sei que um dia vou ser, quando ele crescer. 
 
Leia a entrevista completa na edição número 920 da VIP. 
 
 
Texto: Helena Magna Costa; Fotos: Bruno Peres; Produção: Romão Correia; Cabelo e maquilhagem: Ana Coelho com produtos Maybelline e L’O'réal Professionnel  

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