José Costa Reis
“Sou muito anatomista e animalista”

Famosos

Apresenta o seu mais recente projeto de decoração e fala do regresso à pintura, a sua paixão maior

Sex, 23/11/2012 - 0:00

 Pierrot, Arlecchino, Colombina, Pasquariello ou Dulcinella são alguns dos personagens que habitam o Teatro Bed & Breakfast Hotel, cujo projeto de decoração ficou a cargo de José Costa Reis. Convidado pelos proprietários, amigos de longa data, para idealizar o espaço, o pintor foi delineando os cenários para o hotel, enquanto partilhava as suas sugestões. “O tema escolhido foi os personagens da commedia dell’arte e a partir daí, com alguns desenhos meus e algumas gravuras antigas, fomos desenvolvendo o projeto. Acho que ficou uma coisa bonita, fiquei muito satisfeito com o resultado, acho que excedeu até as expectativas”, explica, visivelmente orgulhoso pelos últimos meses de trabalho.

A prioridade: ter as melhores camas de Lisboa, segundo anuncia o hotel. “Quando temos em mãos um projeto destes, temos de começar por pensar quanto é que podemos gastar. Depois temos de pensar na funcionalidade. No caso de um hotel, tem sempre de ter uma boa casa de banho e uma excelente cama. A partir daí, as verbas que sobram são para a decoração”, diz, acrescentando: “Acho que depois do conforto, aquilo que de melhor se pode dar ao hóspede é surpreendê-lo quando abre a porta do quarto. E que, de certo modo, se deslumbre.”

O espaço, situado no coração de Lisboa, na rua da Trindade, tem 15 quartos, cada um deles dedicados a um personagem da commedia dell’arte. Na sala para o pequeno-almoço, num ambiente neo-barroco, os efeitos em trompe l’oeil contrastam com a modernidade das cadeiras de acrílico.
Naturalmente, remodelar um prédio em frente ao Teatro da Trindade foi inspirador para o estilista e figurinista português, que gosta particularmente desta zona da capital. “Eu gosto muito da cidade, tenho uma ligação grande ao Chiado, tive lá o atelier durante 20 anos e fiz lá o meu curso de Belas-Artes, mas neste momento estou na Graça, que tem uma vista lindíssima”, salienta.

José Costa Reis tem um longo percurso profissional como cenógrafo e figurinista. Depois de frequentar o Curso de Pintura na Escola Superior de Belas-Artes, em Lisboa, estudou cenografia no Teatro Nacional de S. Carlos e tirou o curso de fotografia e cinema dos Serviços Cartográficos do Exército, durante o serviço militar. Trabalhou para teatro, televisão, cinema e publicidade e abraçou diversos projetos de decoração de restaurantes e hotéis.

Não decorava um hotel há algum tempo, mas coincidência ou não, o destino trouxe-lhe este projeto pouco depois de ter concluído o Lisbon Colours, no Bairro Alto, e o Restaurante Alfaia. Em televisão, trabalhou recentemente o novo cenário para o programa Quem Quer Ser Milionário, o TOP + e o Só Visto e, para teatro, O Libertino de Éric Emmanuel-Schmitt, com encenação de José Fonseca e Costa.

No entanto, admite que se tem dedicado cada vez mais à pintura, a sua arte primeira.

Estranhamente, no seu atelier e casa, na Graça, tem sentido mais procura nos últimos quatro anos. “Nunca me preocupei em pintar, sempre pintei pelo meu próprio prazer, e de repente comecei a vender pintura”, diz. “São pessoas que gostam do meu trabalho, que muitas vezes me conhecem através de amigos meus. Uma das classes que gosta muito da minha pintura são os médicos, talvez porque sou muito anatomista e animalista”, explica.

Assim, aproveita a luminosidade ímpar que lhe entra pela janela dentro para manifestar na tela aquilo que lhe vai na alma. “Eu só pinto em casa. Gosto muito da luz aqui de casa e só gosto de pintar de dia. Adoro a noite para jantar com amigos e para me divertir, mas gosto de trabalhar de dia. Sou capaz de me levantar às cinco da manhã e às cinco e meia estou fresco que nem uma alface e gosto de terminar às seis, até porque pinto essencialmente com tonalidades escuras.” Reflete o seu estado de espírito? “Não é uma escolha consciente, não sei explicar, e não gosto de explicar os meus quadros. Às vezes não resisto em dar um título a um quadro, mas acho que isso é condicionar o espectador, e acho que a arte não se explica. As pessoas ou gostam ou não gostam”,
remata.

Texto: Elizabete Agostinho; Fotos: Paulo Lopes; Produção: Manuel Medeiro, Maquilhagem: Vanda Pimentel com produtos Maybelline e L’Oréal Professionnel

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