Carlos Alberto Vidal
“Serei eternamente o Avô Cantigas”

Famosos

Afirma que o personagem a quem dá vida há 33 anos “com orgulho” impediu que lhe surgissem outros projetos profissionais

Qui, 09/04/2015 - 23:00

Nasceu numa mesa de café. Podia ter sido um tio ou mesmo um marinheiro. Mas acabou por se tornar no Avô Cantigas, o avô mais famoso de Portugal. A celebrar o 33º aniversário do personagem, Carlos Alberto Vidal revela como tem sido dar vida e voz a um cantor adorado por pessoas de todas as idades. O artista não nega que a força do Avô Cantigas não deixou que surgissem outras pessoas mas isso é algo que não o incomoda. E quem sabe se não vem aí um trabalho que não será dedicado às crianças.
 
VIP – Quando o abordam na rua, o que lhe chamam? Carlos Alberto Vidal ou Avô Cantigas?
Carlos Alberto Vidal – Regra geral é Avô Cantigas (risos). Aliás, a frase que ouço mais é “olha o Avô Cantigas”. As pessoas reconhecem-me e reagem de forma espontânea. Mesmo quando estou com outras roupas que não as do Avô Cantigas.
 
Será sempre assim…
O projeto marcou tanto a minha vida que quando fiz um projeto sobre segurança rodoviária e me vesti de polícia para cantar esses temas, as pessoas continuavam a chamar-me Avô Cantigas. Serei eternamente o Avô Cantigas.
 
O Avô Cantigas está a festejar o 33º aniversário. Acreditava na longevidade do projeto?
Na altura não imaginava. Ao final dos primeiros dez anos comecei a acreditar nisso porque a figura enraizou-se na memória coletiva das pessoas. Comecei a acreditar que seria a minha vida e a minha carreira. Mas claro que não imaginava isto em 1982. Tenho a mesma atividade profissional que tinha há 33 anos. 
 
Qual a fórmula para este sucesso?
Uma das explicações pode passar pelo surgimento numa época diferente, até porque só existia uma televisão. Era mais fácil construir uma identidade. Hoje existem muitas coisas e muitos formatos, o que faz com que seja mais complicado chegar a todas as pessoas. Naquela altura, estava exposto para todas as pessoas. Foi uma entrada mais forte. Depois, existe o mérito de uma carreira com conteúdo que as pessoas aceitam como válido. Se estou cá há tantos anos é porque entrei para ficar e porque aquilo que fui dando às pessoas foi muito bem aceite. 
 
Como surgiu este avô?
O Avô Cantigas surge depois de ter feito algumas experiências avulso na área infantil. As coisas correram bem a ponto da minha editora, quando surgiu a hipótese de ocupar um espaço no programa O Passeio dos Alegres, pensar que podia ser uma boa aposta. O Avô Cantigas surge à mesa de um café, em conversa com um funcionário da editora. Falou-se de um marinheiro, um tio ou um avozinho e é aí que nasce a ideia. Depois do almoço, já na editora, em conversa com o António Pinho, inventámos o Avô Cantigas. Nasceu na mesa do café e foi concretizada nos escritórios. O nascimento dá-se na RTP a 24 de janeiro de 1982.
 
Existem diferenças entre o avô inicial e o atual…
Sim. Na altura era um jovem de 27 anos. Colocava uma cabeleira, pintava o bigode e as sobrancelhas. Faziam-me rugas e curva-me um pouco. Era um avô patusco. Os anos foram passando e eu fui ficando mais velho. Mas o Avô Cantigas começou a cultivar outros estilos de vida, não fugindo à regra de uma terceira idade cada vez mais jovem. Senti a necessidade de ser um velhote de acordo com os tempos que se vivem e senti a necessidade de ficar mais jovem. Já não preciso de usar cabeleira nem pintar o bigode (risos). Deixei de me curvar e adotei uma postura mais jovem e ligada ao desporto. Algo que é real porque sou mesmo assim. Pratico atletismo e ciclismo. Isto é fundamental para os espetáulos.
 
Consegue escolher um momento alto?
Escolher um é complicado porque se compara com outros. Mas o início é muito importante. O lançamento foi muito poderoso até porque o programa de televisão parava o País. Estava lá sempre e em poucos meses era uma estrela. Tal como aconteceu com o Tony Silva, do Herman José. Que tem a mesma idade do que eu (risos). Depois, existem vários momentos altos ao longo da carreira. Fui cavalgando de sucesso em sucesso com sorte minha.
 
E mérito…
Obrigado! Sim e mérito. Consegui estar sempre na crista da onda. Há cerca de sete anos, quando eventualmente poderia pensar no que isto ia dar, até porque já tinha mais de 50 anos, tenho o grande sucesso Fantasminha Brincalhão. Que me catapulta novamente para uma situação de superfamoso no meio da pequenada portuguesa. E os vários sucessos fazem com que me veja como uma figura transversal. As crianças de hoje conhecem-me, tal como os adolescentes e os pais das crianças que se lembram de mim quando eram mais pequenos. É um tesouro grande que tenho. 
 
Faz sentido dizer que é imortal?
Imortais são o Camões e o Pessoa (risos). Sinto que o Avô Cantigas poderá levar tempo a desaparecer porque já apanhei diversas pessoas ao longo destes anos todos. Acredito que durante os próximos 30 ou 40 anos, as crianças de hoje não me vão esquecer, mesmo que já não esteja cá. 
 
Nunca se cansou deste avô?
Não. Porque ele também foi mudando ao longo dos anos. Fui mudando de aspeto, de postura e também porque musicalmente estive com pessoas que estavam na crista da onda. Ou seja, o Avô Cantigas foi sempre moderno. Isso ajudou a que nunca existisse saturação. 
 
A força deste projeto esmagou ou impediu o surgimento de outros?
Sim. Gravei o meu primeiro disco em 1973, ou seja, cerca de dez anos antes do nascimento do Avô Cantigas. Gravei vários discos pop enquanto Carlos Vidal. Gravei também um álbum rock – Shangri-lá, mas a força do Avô Cantigas fez com que o Carlos Vidal se apagasse um pouco. Ficaram as portas fechadas para outras músicas que pudesse ter feito, e que continuo a fazer, mas para consumo privado. O Avô Cantigas abafou tudo o resto. Estou numa idade em que estou a repescar canções que fiz e que não são para crianças e provavelmente até posso lançar um trabalho assim. 
 
Leia a entrevista completa na edição número 925 da VIP
 
Texto: Bruno Seruca; Fotos: Bruno Peres; Produção: Manuel Medeiro; Maquilhagem: Ana Coelho com produtos Maybelline e L´Oréal Professionnel

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