José Alberto Carvalho
“Ser jornalista é um compromisso”

Famosos

Eleito o Homem Elegante VIP 2012

Qui, 27/06/2013 - 23:00

Aluno da Escola Superior de Jornalismo do Porto, viu despertar a sua vocação de jornalista nas rádios piratas. Depois, passou pela TSF, pela RTP e pela SIC, mas desde 2011 que aceitou o desafio de ser diretor de Informação da TVI.

É o jornalista mais premiado, enquanto pivot das televisões nacionais, mas diz que a evolução na sua carreira aconteceu de uma forma “natural”. Aos 45 anos, foi eleito o Homem Elegante VIP de 2012, numa cerimónia que decorreu no Palácio da Cruz Vermelha, em Lisboa.

VIP – Acabou de ser eleito o Homem Elegante VIP de 2012. Ficou surpreendido?
José Alberto Carvalho – Não estava nada à espera, porque aquilo que me move, pessoal e profissionalmente, não tem nada a ver com moda. Faço as coisas com elegância. Aprecio a nobreza de carácter das pessoas, a generosidade, e se isso tiver a ver com elegância, como parece que tem no espírito deste prémio, então, muito bem.

Ser jornalista é para si uma paixão?
É um compromisso entre aquilo que devemos dizer, aquilo que sabemos e aquilo que as pessoas merecem e precisam saber. E é um compromisso bonito, apesar das dificuldades de quem nos vê ou nos lê, das dificuldades progressivas do mercado de trabalho em que estamos e da indústria em que nos movemos, que é ameaçadora para o melhor jornalismo. Não há dinheiro e isso pode-se transformar num ambiente depressivo generalizado, numa espécie de baixar os braços, quer individualmente, quer enquanto povo… Tenho-me sentido revoltado em muitos momentos

Revoltado com o quê, com a situação do País?
Sim, com o facto de me sentir enganado e de ter, indireta e inconscientemente, provavelmente, enganado outras pessoas

É que ser jornalista também significa dar notícias negativas, não é?
Significa dar más notícias, sendo que algumas delas só se percebe muito tempo depois o que é que são. Isso tem acontecido com alguma frequência nos últimos tempos.

O José começou a fazer jornalismo nas rádios piratas. Como se deu este passo?
Foi tudo natural. Aconteceu numa altura de crescimento, de ambição, de desenvolvimento do País, de abertura de novos horizontes a todos os níveis. Na altura, a rádio era controlada pela Igreja e pelo Estado. Havia dois canais de televisão. Tive a felicidade de conjugar um determinado momento histórico, com algum trabalho e com algum talento que possa ter. E isso foi identificado por algumas pessoas, que me foram colocando desafios. As coisas foram acontecendo todas de uma forma natural. Durante muito tempo, acreditei, olhando para mim próprio, que havia uma espécie de sonho português. Porque nada – ou quase nada, na minha vida – diria que eu poderia ter a carreira profissional que tenho, tendo em conta o meio, o sítio e a família onde nasci. Isso deu-me esperança. Neste momento, gostava de deixar este testemunho, mas, infelizmente, não sinto confiança para transmitir a ideia de que as coisas acontecem de uma forma natural, a quem merece, como me aconteceu a mim.

Que balanço faz de dois anos como diretor de Informação da TVI?
Só posso fazer um balanço altamente positivo. Cansativo, mas muito positivo, muito recompensador do ponto de vista profissional. Não houve um segundo em que me tivesse arrependido da decisão que tomei, apesar de nem tudo ser fácil. Acho que temos conseguido na direção de Informação, e com a redação da TVI, fazer um grande percurso profissional que enobrece a empresa e os próprios jornalistas e recompensa os espectadores.

Como jornalista, que já passou pelo canal público, como é que vê esta fase de indecisão da RTP?
Vejo com a angústia de quem tem amigos na empresa, de quem sabe que, ao longo de muito tempo, muitas pessoas fizeram todos os esforços para fazer da empresa aquilo que ela deve ser: um espelho exemplar da sociedade. Mas não me quero pronunciar sobre isso. Pessoalmente, tenho um grande orgulho, pessoal e profissional, do trabalho que fiz durante os anos em que lá trabalhei.

O que é que faz nos seus tempos livres?
Os tempos livres são dificilmente programáveis porque a minha vida é muito ao sabor do imprevisível, já que as notícias acontecem quando menos esperamos. Quando tenho algum tempo para mim, dedico-o aos meus filhos; gosto de partilhar o meu tempo com eles e gosto que eles partilhem o tempo deles comigo. Gosto de ouvir música, sou muito eclético. Também sou um aficionado de Legos e, sempre que posso, dedico-me um bocadinho à construção com os meus filhos. Não há muitos pais que tenham o mesmo gosto. Isso é bom. Gosto de fotografia e gosto de conviver com os amigos. Essa parte da amizade tem sido cada vez mais importante para mim e tenho procurado dar-lhe mais tempo. Retribuir mais a amizade dos meus amigos, que são absolutamente extraordinários.

Os seus filhos não querem seguir os seus passos e serem jornalistas?
Não. Não os incentivo e nem desincentivo. Acho que, sobretudo no período em que nós estamos, do ponto de vista de desregulação geral da sociedade e da economia, não há nenhuma receita para nada. Aquilo que vejo é que na vida tudo são aprendizagens. Estamos a viver uma grande revolução. Então, vamos enfrentá-la.

É assim que encara o seu dia-a-dia? Enfrenta- o com confiança?
É. Não faço planos a longo prazo, à exceção de coisas muito pessoais e de realização pessoal que não vou partilhar. Tento empenhar-me no dia-a-dia e usufruir, cada vez mais, daquilo que tenho e daquilo que me é permitido partilhar, testemunhar, absorver, ver, sentir…

Separou-se de Marta Atalaya este ano. Como é que está a viver esta sua nova fase?
Estou numa fase de reencontro. Não há mais nada a dizer.

Texto: Ricardina Batista; Foto: Luís Baltazar; Produção: Romão Correia

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