Pedro Carvalhas
“Senti a necessidade de escrever duas mensagens de despedida”

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Após ter corrido risco de vida devido a um aneurisma cerebral, o jornalista fala sobre a dura experiência por que passou
Aos 43 anos, Pedro Carvalhas passou por uma das fases mais complicadas da sua vida. O jornalista foi operado a um aneurisma cerebral há cerca de mês e meio e ficou internado durante duas semanas.

Qui, 22/09/2011 - 23:00

 

Aos 43 anos, Pedro Carvalhas passou por uma das fases mais complicadas da sua vida. O jornalista foi operado a um aneurisma cerebral há cerca de mês e meio e ficou internado durante duas semanas. Nesse crítico período, chegou mesmo a correr risco de vida. Pai de Bernardo, de dois anos, e de Maria, de apenas cinco meses, a seu lado esteve sempre a mulher, Ana Mexia, que, segundo o pivô, foi a “grande heroína” desta “história que está a ter um final feliz”.

 

VIP – O que mudou na sua vida?

Pedro Carvalhas – Uma coisa mudou: o estilo de vida. Estou a fazer uma recuperação de paciência, calma e sem pressas. Estou obrigado a muito descanso. Ainda não posso ter qualquer stress. Por estes dias sou um profissional do descanso. Também tenho acesso limitado ao telemóvel e ainda fico facilmente cansado quando vejo televisão ou tento uma leitura que exija um pouco mais de concentração. O que mais me custa é não poder pegar o meu filho Bernardo ao colo, muito menos as brincadeiras que sempre fizemos.

 

Há um novo Pedro Carvalhas em si?

Não. Também não me lembro de ter estado em risco de vida. De qualquer forma esta experiência difícil, este relembrar que de repente não somos nada, só veio reforçar aquilo que já tinha posto em prática. Há dois anos que passo o máximo de tempo que consigo em casa. Tento estar próximo, ser um marido e um pai presente.

 

Que sentimentos recorda dos momentos que antecederam à operação?

Sempre que vinha à cabeça uma ideia mais pessimista, rapidamente tentava desviar a ideia, dizendo para mim mesmo que “isto vai correr bem”. Mesmo assim, em dois momentos em que estive sozinho no quarto dos HUC (hospitais da Universidade de Coimbra), senti a necessidade de escrever à Ana e aos meus filhos duas mensagens de despedida.

 

Foi-lhe induzido coma. O que sentiu quando acordou?

Acordei com muita sede, ainda entubado e a fazer algumas confusões, mas fui colocando as ideias no sítio com a ajuda da Ana, dos médicos e dos enfermeiros. Foram todos, notáveis! Na pessoa do Dr. Jorge Gonçalves, o neurocirurgião que me operou, queria agradecer a todos os excelentes profissionais que me assistiram nos HUC. Não tinha a mínima ideia de ter estado em coma. A Ana disse-me só uma semana mais tarde que as coisas ficaram complicadas por causa de uma hemorragia no cerebelo.

 

O seu estado de saúde chegou a ser grave. Pensou que poderia não resistir?

Quando acordei já tinha passado o pior. Alguns amigos e familiares não têm dúvidas que a minha recuperação foi um milagre. Como homem de fé, digo apenas que Deus achou que não era a minha hora… mas agradeço a todos e foram mesmo muitas pessoas, que rezaram por mim.

 

Acha que a Ana foi o grande pilar?

A Ana foi a grande heroína, ainda por cima este momento aconteceu aos três meses de vida da nossa filha e numa altura em que estava e está ainda a dar de mamar à Maria. Só Deus sabe onde foi buscar forças! Teve uma grande ajuda da família e dos amigos de ambos. A Ana acabou por sofrer e por se desgastar bem mais do que eu! Foi inexcedível no apoio que me deu. A Ana viveu exclusivamente para mim, um apoio que nunca irei esquecer. É uma mulher extraordinária, o pilar principal desta história que, graças a Deus, está a ter um final feliz.

 

Dizia à VIP, em tempos, que “a família é tudo”. Acredito que essa frase tivesse feito todo o sentido.

A família foi e tem sido um verdadeiro porto de abrigo! Reuniu-se, rezou, lutou comigo, esteve sempre presente e deu-nos uma força incrível.

 

Como foi reencontrar os filhos?

Foi delicioso! Primeiro foi a Maria. Fiquei admiradíssimo quando a vi. Continuava linda! Derreteu-me quando me deu um sorriso. Deixou-me K.O. outra vez ( risos) e foi colocada ao meu colo. Como não podia fazer qualquer esforço, limitei-me a sentir aquele cheiro delicioso de bebé e dei-lhe um pequeno abraço. O reencontro com o Bernardo aconteceu depois. Notei-lhe uma grande diferença. Estava muito mais falador. Não lhe pude pegar, mas ele deu-me um beijinho e uns abraços maravilhosos.

 

Passou a valorizar mais a vida?

Nunca vivi a pensar que o mundo acaba amanhã, mas sei que a vida é algo de efémero. Deve ser valorizada, vivida com equilíbrio e sobretudo com uma intensidade moderada.

 

Tem medo do dia de amanhã?

Não, não sou homem de medos. Tenho muita fé no dia de amanhã.

 

Tem vontade de regressar ao trabalho?

Não posso e também não quero pôr em risco todos os obstáculos que já ultrapassei até agora. Sinto-me muito melhor, mas sei que ainda tenho um caminho a fazer para chegar à recuperação total.

 

Sente saudades do jornalismo?

Claro que sim. Faz parte da minha vida desde os meus 17 anos.

 

Desejos e ambições para o futuro?

O futuro?!? Há uma frase que gosto muito de um filósofo francês do século passado, Paul Valéry, e que faz ainda mais sentido nos dias de hoje: ”O problema dos nossos tempos é que o futuro já não é o que era.”

 

Texto: Cátia Matos; Fotos: Rui Costa; Produção: Marco António

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