Herman José
“Sem inquietação era um reformado”

Famosos

Aos 60 anos, prestes a assumir as tardes da RTP, Herman josé confessa que continua a precisar de surpreender-se consigo próprio

Qua, 02/04/2014 - 23:00

Para assinalar os 60 anos, Herman José abriu as portas da sua casa de Azeitão. Foi lá que recebeu a VIP, percorrendo a sua vida numa conversa “sem papas na língua”, em que não ficou nada por dizer. VIP – Fez 60 anos.

Continua a sentir-se um jovem encarcerado no corpo de um homem mais velho?
Herman José
– Não sinto isso porque tenho características que me afastam do teenager. Existem coisas que nos facilitam a vida. Ganhamos certezas absolutas, uma mais aguda consciência profissional e ficamos mais pontuais e mais fiáveis. Temos muito mais respeito pelo público. Ficamos mais úteis. Gosto desta parte da experiência. Só me chateia a parte da matemática.

Como assim?
Se a nossa vida acabar aos 90 anos e se for em quilómetros, acaba nas Caldas da Rainha. Aos 50 estamos em Torres Vedras. Agora, estou entre Torres Vedras e o Bombarral, onde vou chegar aos 72. Acho que a viagem até lá vai ser gira. Depois, do Bombarral para as Caldas, é que a coisa tem de ser muito bem negociada. Acho que é um jogo de sorte. Temos de ter saúde, lucidez e uma cabeça que se mantenha fresca. É um jogo de sorte e nós dominamos muito pouco. Esta fase ainda é dominável e interessante, mas inquieta-me sentir que já só faltam 30 quilómetros até às Caldas da Rainha.

O espírito jovem faz com que se esqueça que está mais próximo das Caldas?
Sou obcecado pelo presente. Interessa-me tanto que sobra pouco tempo para pensar nas angústias do futuro. Cada dia que acordo com saúde é um dia ganho e não vou martirizar-me com angústias do futuro.

O dia de aniversário foi uma grande festa?
Foi muito bom porque sempre que trabalho não me deprimo. Na véspera fiz um espetáculo no Villaret. A passagem da meia-noite foi lá. No dia seguinte, tinha um compromisso profissional às 11 horas, outro às 17h e, à noite, tinha o meu jantar na Bica do Sapato, como sempre faço, só com pessoas íntimas. A melhor passagem de ano é assim. A partir dos cinquenta e poucos não me apeteceu festejar o aniversário. O que não quer dizer que, quando chegar a uma certa altura em que não me preocupe tanto, não volte a festejar, com uma grande festa, o facto de sobreviver mais um ano.

Que balanço faz destes 60 anos?
Adoro fazer balanços e tenho a minha vida catalogada por décadas. Nos primeiros dez anos aprendi a viver. Aos 20 comecei a minha carreira artística, cheio de sorte, ao lado do Nicolau Breyner. Aos 30 estava consagrado porque já tinha feito O Tal Canal. Aos 40 tornei-me um homem cheio de dinheiro porque Portugal achou que era rico e ganhava-se fortunas. Os 50 fui comemorá-los a Paris, na sequência de um processo de má memória que me deixou zangado com o País. Agora, voltei a ter uma posição de equilíbrio, felicidade e de bem-estar. Todas as carreiras têm, a meio, o seu momento diabólico. É sinal de que se está vivo.

Leia toda a entrevista na sua revista VIP, nº872

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