Renato Pita
“Quero fazer isto até ao final da minha vida”

Famosos

Renato Pita é o primeiro piloto português
a competir no Campeonato Europeu de Ralis

Qui, 24/10/2013 - 23:00

Numa primeira abordagem, o nome Renato Pita poderá não soar familiar a muitas pessoas. Porém, se o nome for proferido num ambiente dedicado ao desporto automóvel, tudo muda. Aí, todos sabem quem é este piloto, de 38 anos, que já entrou para a história do desporto automóvel ao tornar-se o primeiro português a participar no Campeonato Europeu de Ralis, prova organizada pela Federação Internacional do Automóvel.

A VIP acompanhou Renato Pita no Rali de San Remo, em Itália, e ficou a conhecer melhor o homem apaixonado por automóveis desde pequeno.

“Desde muito novo que tenho uma grande paixão por automóveis. Sempre fui adepto assíduo das provas em Portugal. Quando tirei a carta, percebi que a melhor forma de explorar um carro e aproveitar o seu melhor é em prova. Também gosto de competição. E isso fez-me reunir as condições necessárias para me tornar um piloto de rali”, começa por dizer.

Contudo, foi apenas aos 30 anos que Renato Pita começou a competir seriamente. “Já tinha feito parte de algumas equipas, mas foi nessa altura que comecei a competir. No meu segundo ano percebi que a minha presença apenas nas provas não seria suficiente. Necessitava de uma estrutura e decidi montá-la em vez de recorrer a esses serviços. A isto juntam-se as exigências da BP, o meu principal patrocinador, que, perante os meus resultados, queria igualmente algo ainda melhor. E assim a minha dedicação tornou-se ainda mais séria e criei uma empresa que sustenta toda esta estrutura”, refere. Após uma série de excelente resultados a nível nacional, Renato entendeu que o melhor seria entrar numa competição completamente diferente.

“Passei vários escalões com ótimos resultados. Tinha a hipótese de continuar no nacional, mas a visibilidade não é muita e não gostei da decisão da fusão de todos os escalões. A minha opção foi este campeonato, sabendo que estava perante uma competição muito exigente”, conta. Apesar do esforço financeiro necessário, o piloto entendeu que era a melhor opção. “É um desporto muito caro. E pode ser encarado de duas formas: como uma simples participação que será uma aprendizagem, ou querer lutar para vencer. O que não é fácil, porque é um campeonato muito complicado. As opções vão interferir no custo, mas estou satisfeito com o que tenho feito”, explica. E o que será que sente quando se cruza com a bandeira portuguesa que está hasteada devido à sua participação nas provas?

“Não é fácil descrever aquilo que sinto por ser o primeiro e único português nesta competição. Isso dá-me uma vontade tremenda de fazer o melhor que posso. Quando as forças parecem estar a acabar, é uma motivação que me dá ainda mais força. É o peso de representar a minha equipa e o meu país”, confessa com um brilho especial no olhar. Mais do que um piloto, Renato Pita é um homem envolto em diversas curiosidades. Uma delas é o facto de apostar em provas de asfalto.

“Todas as pessoas que estão ligadas a este projeto dizem que estou destinado aos pisos de terra, onde as minhas performances são melhores. Mas tenho consciência de que os ralis de terra destroem os carros. Como gosto de tudo muito bem arranjadinho, tenho optado pelo asfalto. E é uma forma de ganhar experiência. Para o ano, talvez faça etapas de terra, entre elas a dos Açores”, explica. Além disso, nunca teve um acidente. “Tenho consciência de que um dia irei bater. Andamos muito depressa e passa tudo muito rápido. Ou se bate quando o carro tem uma reação estranha ou quando atrasamos uma travagem. Tenho uma vontade tremenda de chegar ao fim da carreira com o prémio de ter conseguido ganhar prémios sem nunca ter batido. Nunca pensei nos motivos disso mesmo, mas acho que tem a ver com a minha condução”, diz. Além desta, existe ainda a curiosidade de não se deslocar de avião para os países onde vai correr.

“Tenho medo de andar de avião. Chegar de avião é muito menos desgastante, mas o stress de viajar de avião também me desgasta. Como gosto de conduzir, não me incomoda. Sei é que tenho de despender de mais dias, mas faço questão de ter sempre dois dias antes da prova para descansar”, conta entre risos.

Satisfeito com as prestações que tem tido, Renato Pita não se imagina a fazer outra coisa. “Não me imagino longe do desporto automóvel. Quero continuar no europeu. Depois, posso montar um projeto ligado aos clássicos. Ou tentar fazer um ou dois anos de todo-o-terreno e um Dakar, que deve ser uma experiência fantástica. Quero fazer isto até ao final da minha vida”, revela. Durante as provas, o piloto costuma contar com o apoio da mulher, Teresa, com quem está há dez anos.

“É importante. Todos os pilotos têm a frieza como característica. Só isso permite que se faça o que fazemos em estradas ao lado de ravinas. Mas também gostamos de ser mimados. Quando esses mimos vêm de quem amamos, sabem ainda melhor. A Teresa é a peça fundamental deste projeto. Com a companhia dela é tudo diferente”, conta. Apesar do apoio que recebe, o piloto revela que a família preferia que tivesse outra profissão.

“O meu pai faz tudo para que não tenha esta carreira, apesar de gostar do que faço. A minha mãe diz-me para ir devagar, que não importa o lugar em que chego ao fim. Mas também tem orgulho e vibra com tudo isto”, diz. Renato Pita assume ainda que nem sempre é fácil equilibrar o lado pessoal com o profissional. “Tenho a consciência de que não dou em casa aquilo que esperam de mim. Isto pode soar a egoísmo, mas dou-me ao luxo de fazer apenas aquilo que quero. E o que quero são os automóveis e estar com as pessoas de quem gosto. Quando estou com as pessoas de quem gosto, tento dar tudo aquilo que os automóveis me tiraram”, refere.

Apesar de estar habituado a grandes velocidades, o piloto tem uma grande preocupação com a prevenção rodoviária. Como tal, criou um projeto que percorre as escolas do País, que pretende consciencializar os mais novos para os riscos inerentes à condução. “Quero alertar as crianças para os riscos que correm enquanto condutores e também como peões. Assim, ficam preparados para a altura em que tiverem idade para tirar a carta. Além disso, são os melhores para alertar os pais”, explica.

Fica assim provado que o piloto tem dificuldade em desligar-se dos carros, mesmo quando não está a competir. Algo que tenta mudar. “Não me consigo desligar dos carros. Tenho uma empresa em Espanha, ligada ao trabalho temporário, que me ocupa algum tempo. Alguns dias são dedicados a essa atividade. O resto do tempo é para a família. Quero começar a ficar alguns dias nos locais onde faço os ralis para descontrair”, explica.

Tal como a relação que tem com os automóveis, Renato Pita sente pela mulher um amor muito especial, que faz questão de não esconder. “Como disse que me imagino ligado aos automóveis até ao último dia da minha vida, também me imagino com a Teresa até ao último dia da minha vida”, conclui.

Texto: Bruno Seruca; Fotos: Nuno Moreira, enviados a San Remo

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