Marco Almeida
“Queremos ser donos do nosso destino”

Famosos

Candidato independente à Câmara de Sintra quer mais autonomia para o concelho e defende que a política deve ser feita também por cidadãos

Sex, 01/02/2013 - 0:00

 Marco Almeida nasceu em Angola, mas veio com cinco anos para Portugal, quase diretamente para a freguesia de MiraSintra. Aos 43 anos, o professor do ensino secundário e número dois do presidente da câmara, Fernando Seara, decidiu avançar sozinho com uma candidatura independente, depois de receber o incentivo do PSD local ao ver-lhe negado o do nacional. A morar em Mafra, onde a mulher é também professora do ensino secundário, mantém-se eleitor em Mira-Sintra e conta com orgulho que os dois filhos, Inês de 14 anos e Martim de 11, frequentam as escolas públicas.

VIP – Porque é que decidiu candidatar-se como independente a Sintra?
Marco Almeida – Para responder a isso tenho que relembrar o meu percurso autárquico ao longo de 19 anos. Comecei a exercer funções na junta de Freguesia da Agualva Cacém e em 2001 integrei a lista de Fernando Seara como número dois e desde essa altura exerço funções de vice-­-presidente da Câmara Municipal de Sintra. A minha candidatura corresponde a uma convicção e à resposta ao reconhecimento que sinto por parte das associações e das escolas ao meu trabalho e aos conhecimentos que acumulei ao longo destes 11 anos. A concelhia de Sintra do PSD aprovou o meu nome, mas a estrutura distrital de Lisboa apoiou à última hora outro candidato. São as contradições internas dos partidos… Mas eu sinto-me confortável com o apoio que tenho localmente, acho que isso é que é importante. Vou avançar até ao fim.

Na grande Lisboa não há nenhum caso de um autarca que se tenha lançado sem apoio partidário. Acha que tem alguma hipótese?
MA – Acho que tenho todas as hipóteses, porque a relação de confiança e proximidade que eu construí ao longo deste anos de trabalho autárquico ligado à área social da câmara e da educação criaram uma ligação forte com a população. Estou convencido de que reúno as condições para ganhar. No lançamento da candidatura tive apoios de presidentes das juntas de freguesia do PS, do CDS, do PSD e de independentes. É o reconhecimento por quase 20 anos de trabalho. As pessoas acabam por encontrar na minha candidatura a esperança de que possa trazer algo de novo à política e o concelho de Sintra tem a vantagem da visibilidade. Assim, é um sinal de esperança para que, mais tarde, grupos de cidadãos independentes possam ter expressão e representação na Assembleia da República.

Tem ambições fora da política local?
Não. Já tive várias oportunidades de o fazer e nunca quis sair de Sintra.

Quais são os objetivos para Sintra?
Temos de manter o apoio às famílias e à ação social escolar, áreas em que o concelho tem sido pioneiro. Temos as refeições gratuitas e a entrega dos manuais escolares para o primeiro ciclo para cerca de 16 mil alunos, o que nos custa 300 mil euros por ano. Somos o único município grande que faz isto. Na área do turismo, temos de passar de um turismo de passagem para um turismo de residência, através da agilização da aprovação de licenciamentos na construção de várias unidades hoteleiras. O objetivo é evitar que os turistas que nos visitam vão dormir a Lisboa ou a Cascais. Por fim, considero essencial a revisão do ordenamento do território, a fim de libertar o concelho para novos investimentos empresariais. Temos uma faixa do litoral, a norte do concelho delimitado pelas freguesias mais rurais – Almargem do Bispo, Terrugem, S. Martinho –, onde é preciso apostar em parques industriais e parques empresariais de qualidade. Do ponto de vista das infraestruturas rodoviárias estamos bem servidos, mas a limitação da classificação do território e do solo tem de ser libertado. Este concelho tem hipótese de associar o seu emblema de património da humanidade à possibilidade de fixar empresas. Na zona urbana temos vários parques industriais de grande expressão. Acredito também que a câmara tem de assumir novas responsabilidades em diferentes áreas. A câmara de Sintra é pioneira na municipalização da gestão escolar. Esta opção deve passar para outras áreas como a saúde, a segurança social, a gestão do território.

Fala de responsabilidades do poder central. Como é que podem passar para o poder local sem alterações legislativas?
Através de contratos de execução, como fizemos para a educação. Acho que quem está mais próximo dos problemas os pode resolver com maior eficácia. Na área da educação, por exemplo, somos nós que fazemos a gestão de todo o pessoal não-docente. Acho que na área da saúde e da segurança social também podemos vir a assumir novas responsabilidades. Ao fim ao cabo, só queremos ser donos do nosso destino.

Apesar de ser de Sintra optou por morar em Mafra…
Sim, por contingência da primeira gravidez da minha mulher, que está colocada numa escola de Mafra. Mas só vou a Mafra dormir, muitas vezes chego às duas da manhã e saio logo cedo. A minha vida é em Sintra e com a família vimos muitas vezes aos fins de semana. Toda a minha família mora em Mira-Sintra e a família da minha mulher mora em Massamá. Quem tem os pelouros sociais tem pouco tempo com a família porque é aos fins de semana que é preciso estar presente nas festas das associações de reformados, das associações juvenis, das associações culturais. Nesse aspecto, sinto-me muito feliz por ter uma família que sempre me acompanhou e, sobretudo, que sempre compreendeu as minhas ausências.

Texto: Cristina Ferreira de Almeida; Fotos: Luís Baltazar; Produção: Manuel Medeiro

Siga a Revista VIP no Instagram