Pedro Crispim
Amarrado a árvore pelos colegas em criança: “Não voltava da escola nas melhores condições”

Nacional

Pedro Crispim recorda um dos ataques violentos que sentiu na pele quando era criança, altura em que era vítima de bullying.

Ter, 02/03/2021 - 14:59

Pedro Crispim já revelou, por diversas vezes, que foi vítima de bullying na adolescência. No entanto, desta vez o comentador do “Big Brother – Duplo Impacto” foi mais além e recordou um dos ataques violentos que sentiu na pele. “Havia um bosque perto da escola e nós íamos para lá brincar nos baloiços. Houve uma vez em que os meus colegas me ataram a uma árvore, com umas cordas, e que me bateram… e eu fiquei ali o horário todo da escola, à chuva, até ao final, até os contínuos irem dar por mim ali. E lembro-me de que quando foi para apresentar queixa eu não quis”, começa por contar. 

“Nunca senti raiva, nem de quem me fazia mal. Porque achei sempre, e ainda hoje acho, que sempre que me faziam mal é porque a pessoa não estava bem. Às vezes, quando leio algumas coisas ou quando me tratam de uma certa maneira, acho sempre que essa pessoa está magoada, está ferida, que é infeliz. Aliás, acho sempre que isso mostra mais sobre eles do que sobre mim”, acrescenta.

“Perdoei, mas não esqueci”

O stylist revela que perdoou essas pessoas que lhe faziam mal, uma vez que foram elas que o tornaram “mais forte, mais assertivo e mais focado”. “Nunca me pude encostar à boleia de nada, nem de ninguém, tive que me fazer à vida, portanto, também tenho de estar agradecido a essas pessoas. Perdoei, mas não esqueci. Obviamente, perdoei, acima de tudo, por uma questão egoísta, para tornar o meu caminho um bocadinho mais leve. É engraçado que, hoje em dia, a esta distância, olho para trás e não sinto dor. Acho que esse perdoar tem que ver com esse sentimento de apaziguar, que acho que é essencial para todos nós”, considera, em declarações à rubrica “Selfie Sem Filtros”.

Pedro Crispim: “Eu tinha dois ‘Gs’ na minha vida: era gay e era gordo”

Pedro Crispim diz que, infelizmente, estes ataques eram recorrentes e que passou as “‘passinhas do Algarve’ na altura da escola”. “Eu tinha dois ‘Gs’ na minha vida: era gay e era gordo. Era muito tímido, muito inseguro, e a minha autoestima não era, propriamente, a mais forte”, atira.

“Acho que eu me resumia e reduzia ao facto de ser gordo e de ser gay, porque, acima de tudo, a sociedade era isso que sublinhava em mim. A sociedade não dava, e ainda hoje não dá, grandes hipóteses para que mostres outras camadas do teu ser, da tua essência. E quando te resumem, reduzem e sublinham, uma e outra vez, que tu és gay e és gordo, acabas por acreditar que só és gay e que só és gordo, e, efetivamente, levas algum tempo a perceber que és muito mais do que aquilo que os outros fazem de ti”, admite. 

 

O “rei da bobage“, alcunha que ganhou quando passou a ser comentador do reality show da TVI, recorda que “muitas das vezes não voltava da escola nas melhores condições”. “Emocionalmente, ia muito abaixo com aquilo que ouvia. Enquanto a maior parte dos meus colegas ia para a escola e pensava em ter boas notas, nos estudos, nos exames e no social que acontecia nos intervalos, eu, acima de tudo, tinha que pensar: ‘Como é que vou sobreviver a este dia? Como é que vou chegar inteiro ao final do dia?'”, lamenta, emocionado. 

“Acreditas que estás errado e, quando acreditas, não consegues ver muito além”

O fashion adviser recorda, ainda, que, “a determinado momento”, pensou que “pudesse ficar pelo caminho”. “Acho que, quando recebes tanta coisa negativa e ouves tanta coisa negativa sobre ti, tu acreditas que estás errado e, quando acreditas, não consegues ver muito além. Portanto, eu nunca poderia ambicionar, nem desejar ser a figura de homem que sou hoje, isso era uma coisa que eu nunca conseguiria materializar. Estava demasiado fragilizado para poder visualizar ou materializar o Pedro em adulto”, confessa. 

Durante esse período de tempo, “existiram dias em que” os “pais” de Crispim quiseram entrar na “escola, porque sabiam o que se passava”. “Não deve ser fácil ver o filho chegar a casa magoado, com feridas, emocionalmente instável. Hoje em dia, isso tem um nome, mas, antigamente, não tinha. Hoje em dia, isso não é aceite, mas, antigamente, ‘fazia-nos mais fortes’, não é? Enquanto mãe… tu crias um filho e, depois, tens pessoas a fazerem-lhe mal… Como é que isto é possível? Como é que consegues encaixar isso na tua cabeça? Como é que aceitas isso? Como é que te levantas, de manhã, e te deitas, à noite, tranquila? Não é possível, pelo menos, para alguém que é mãe à séria. Não é fácil para uma mãe estar a trabalhar e estar a pensar: ‘O que estará a acontecer com o meu filho?’ E saber que, garantidamente, vai acontecer alguma coisa. Aliás, quando havia uma manhã ou uma tarde em que não acontecia alguma coisa, eu quase acendia uma vela, porque é quase como andares entre os pingos da chuva. É entrares no intervalo e saberes que, naquele corredor, vai acontecer, no bar, no portão da escola… desde o minuto em que entras, até ao minuto em que sais… e que, no meio daquilo, tens de estudar, porque tens de passar, e tens que sobreviver”, destaca o entrevistado da rubrica. 

“Os meus pais foram sempre o meu farol. Quando me sentia perdido, acabava por me encontrar com a luz deles. Os meus pais, durante toda a vida, fizeram sentir-me especial. Dentro de casa, sabia que tinha o conforto, que tinha o amor”, remata. 

Foi, então, aos 16 anos, altura em que pesava 106 quilos, que Pedro Crispim iniciou o processo de perda de peso. Um ano depois, estava a participar num concurso de moda. 

Texto: Ivan Silva; Fotos: reprodução Instagram 

 

 

 

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