Fernanda Serrano
“Passei a acreditar em finais felizes”

Famosos

Atriz escreve livro, onde faz relato emocionado da sua luta contra o cancro da mama

Qui, 18/04/2013 - 23:00

Fernanda Serrano conta na primeira pessoa todos os pormenores da sua luta contra o cancro da mama, que venceu. Na obra, intitulada Também Há Finais Felizes, editado pela Oficina do Livro e que já está nas bancas, a atriz, de 39 anos, revela detalhes de vários momentos difíceis, desde o diagnóstico de cancro, a cirurgia, a quimioterapia, mas também a descoberta de uma gravidez que colocou a sua vida em perigo. No entanto, o livro centra­ se ainda noutro tema: a negligência médica.

A descoberta da doença
Fernanda Serrano tinha 34 anos quando viveu a luta mais dura da sua vida. O primeiro alerta surgiu no dia do nascimento da filha Laura, em dezembro de 2007, quando, “distraidamente”, sentiu um nódulo no peito. Apesar de ter alertado o médico, este não deu importância. E foi assim até à consulta de revisão do parto, onde, depois de muita insistência, acabou por dizer à atriz para fazer uma ecografia. A partir daí, tudo começou. O terrível diagnóstico chegou mais tarde, em fevereiro de 2008, com um telefonema que confirmava as suspeitas: Fernanda Serrano tinha “um tumor maligno muito agressivo”.

“A inadiável constatação do facto foi devastadora. Já não tinha como fugir do medo de morrer – e da operação, dos tratamentos, do sofrimento. Aquilo ia mesmo acontecer. […] Sentia pavor, fúria, descrença, revolta, incompreensão. Tudo ao mesmo tempo. Chorei desalmadamente”, descreve.
Devastada, mas tentando ser forte, a atriz optou por contar a pouca gente que estava doente e tentava não chorar à frente das pessoas. “Durante o dia podia ter de lutar ferozmente, mas conseguia segurar as lágrimas. […] E depois não queria que o meu filho me visse triste […] Então chorava à noite, quando a casa mergulhava em silêncio.”

Os tratamentos de quimioterapia
No livro, Fernanda Serrano também relata os momentos anteriores e posteriores à operação e o processo de tratamento com quimioterapia, descrevendo os seus efeitos, como a queda de cabelo. “O cabelo estar a cair­ me daquela maneira, tentar penteá­ lo mas só conseguir que o amontoado ficasse cada vez maior, era devastador. Descontrolei­ me. Estupidamente, descontrolei­ me por completo. Chorei tanto e tão desalmadamente que, apesar da porta fechada, o Pedro [Miguel Ramos] me ouviu no escritório”, relata.

Depois do difícil momento em que cortou o cabelo, Fernanda Serrano passou a usar peruca e andava sempre maquilhada, para se sentir bonita. “Sentia­ me horrível. Então andava sempre maquilhada, dia e noite – também dormia com maquilhagem. Podia ter apenas três pestanas, mas com rímel!”

Outro dos momentos marcantes para Fernanda Serrano foi aceitar as modificações do seu corpo após a operação. “Todos os dias passava por um momento arrasador: o banho. Aí tinha de me enfrentar, sem disfarces. Sem roupa, sem peruca. Com a mama mutilada, a cabeça rapada, o corpo sem um único pelo. Não bastava ter de o ver, também tinha de o tocar – de me tocar. Todos os dias era obrigada a passar as mãos ensaboadas pelo couro cabeludo despido, pelo peito cortado e cosido. Era horrível”, conta.

A terceira (inesperada) gravidez
Depois de passar por tudo isto, Fernanda Serrano descobriu que estava grávida. Uma gravidez que podia ter-lhe custado a vida, uma vez que tinha sido desaconselhada pelos médicos a engravidar. “Fiquei devastada. […] Comecei a chorar e não conseguia parar. Só me lembrava das palavras do médico que me operara: ­– Pode fazer tudo e levar uma vida normal. A única coisa que não pode é engravidar nos próximos dois anos.”

Esta inesperada gravidez não tinha sido detetada pelo médico que meses antes lhe tinha colocado um DIU. “Aquele bebé estava na minha barriga há quatro meses. Estava lá quando comecei a limitar muitíssimo a minha alimentação, quando fiz exercício intenso e violento, quando submeti o abdómen aos potentes ultrassons do liposhaper, quando bebi álcool sem preocupação na comemoração dos meus 35 anos, nas festas de Natal, no restaurante mexicano onde pedi mescal, quando falhei o degrau e me estatelei no chão. Sobreviveu a tudo. Aquele bebé já estava na minha barriga quando, na segunda metade de outubro, o tão prestigiado ginecologista me implantou o DIU no útero sem reparar que lá havia um óvulo fecundado há um mês (…). Não fez nenhuma ecografia, vaginal ou abdominal, antes ou depois do delicado e doloroso procedimento. Por causa disso, descobria estar grávida para lá do limite legal para a interrupção voluntária da gestação. A vida que se desenvolvia dentro de mim tinha, resistentemente, passado de embrião a feto”, revela, acrescentando: “Foi tudo incrível: a maneira como engravidei, como o médico me pôs um aparelho contracetivo sem perceber que eu já estava grávida e como só o descobri com quase 17 semanas de gravidez, vendo­ me impossibilitada de tomar uma decisão livre e rápida. O sofrimento que tudo isto me causou é indizível. Tinha uma filha na barriga e essa filha podia matar­ me.”

Pensou fazer um aborto
Inicialmente, Fernanda Serrano pensou e foi aconselhada a interromper a gravidez, mas depois mudou de ideias. “Deixei de pensar no que tinha dentro de mim como algo de que devia livrar­ me. Aquela menina que eu carregava na barriga era minha filha”, escreve, dizendo que passou a ver a criança como uma bênção. “A minha bebé Lu foi um presente que recebi. Tenho a certeza. Olho para ela, agora com quase quatro anos, e vejo que é diferente dos outros. É um furacão, a líder da família. Manobra tudo, faz o que quer. Cheia de vida, pes­pineta, desenvencilhada. Não precisa de ajuda para nada, nunca.”

Cinco anos depois
Agora, cinco anos depois desta luta, Fernanda Serrano escreveu um livro onde defende que foi vítima de negligência médica. “Erro, negligência, displicência. Chame­ se o que se quiser. Pode até ter sido um pouco de tudo. Mas aquele médico falhou, não há como o contornar. Alertado para o caroço, várias vezes o apalpou e várias vezes o desvalorizou. Mas mais: sendo ele ginecologista, especialidade de primeira linha no que toca ao rastreio e deteção precoce do cancro da mama, não teria tido a obrigação, ou, pelo menos, não deveria ter tido a capacidade de o descobrir mais cedo do que eu?”, questiona.

A atriz também desvenda que agora se sente uma “privilegiada” por ter superado tudo. “De vez em quando ainda tenho dias cinzentos, negros, em que parece que preciso de reviver tudo. Vou à Internet ver coisas horrorosas, isolo­ me, fico deprimida, choro, convenço­ me de que ainda não me livrei daquilo. Felizmente acontece­ me cada vez menos”, escreve. “Deixei de dar importância a pessoas e a situações que não são relevantes […] O cancro ensinou­ me a não desperdiçar tempo e emoções.” Tal como o título do livro indica, a atriz mudou e confessa: “Passei a acreditar em finais felizes.“  

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