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“Parece estranho, mas não vejo o surf como a minha profissão”

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FRANCISCA PEREIRA DOS SANTOS é uma das melhores surfista portuguesas, mas gosta de se ver apenas como “uma menina que adora surfar”
Apesar dos tenros 21 anos, Francisca Pereira dos Santos é uma das melhores surfistas portuguesas da actualidade.

Qui, 23/06/2011 - 23:00

 

Apesar dos tenros 21 anos, Francisca Pereira dos Santos é uma das melhores surfistas portuguesas da actualidade. Em conversa com a VIP, Francisca fala das viagens que tem feito, dos perigos da modalidade e ainda do desejo de casar numa festa de três dias e dos quatro ou cinco filhos que quer ter.

 

VIP – De onde vem a sua paixão pelo mar e pelo surf?

Francisca Pereira dos Santos – É algo de que sempre gostei. Fiz vários desportos quando era mais nova e por volta dos 12 anos interessei-me pelo surf através de um concurso numa rádio. Ganhei umas aulas de surf e aventurei-me com as minhas irmãs durante o Verão. Fiquei logo com o "bichinho" do surf desde a primeira aula, era tudo novo para mim, muito diferente de qualquer outro desporto que já tinha praticado. Mas o gosto pela praia já devia estar nos genes, pelo menos a julgar pela atracção que a minha mãe tem pela praia.

 

Quando é que a paixão passou a ser a sua profissão?

Pode parecer estranho, mas não vejo o surf como a minha profissão. É algo que adoro fazer, esforço-me e algo a que dedico grande parte do meu tempo. É verdade que vou a competições, que as quero ganhar e ser a melhor e os meus patrocinadores pagam-me para isso. Mas não digo que sou surfista profissional. Sou apenas uma miúda que adora surfar, que agarra as oportunidades que tem e que tira o maior proveito delas. Pelo tempo e esforço que dedico ao surf, é claro que objectivamente é a minha profissão.

 

Como é que a família lida com esta vida?

A minha família sempre me apoiou bastante. São raros os campeonatos que vão ver por serem muitas vezes longe de casa, mas estão sempre a ligar a perguntar como correu.

 

Nunca lhe pediram para abandonar o surf e optar por outro desporto?

Não. Sempre tive a liberdade de fazer as minhas opções. Claro que às vezes conversam comigo e abrem-me os olhos para outras coisas na vida. Dão-me conselhos, mas nunca me obrigaram a nada. Aliás, sempre me incentivaram bastante a ir em frente com as minhas ideias. Inicialmente, antes de começar a ganhar mais vezes e mostrar que tinha potencial para ser das melhores, ter boas notas era uma condição essencial para poder ir aos campeonatos.

 

Quais são as suas rotinas diárias?

A minha rotina é acordar cedo, ver o mar na Internet e surfar no melhor sítio. Depois vou às aulas na universidade e agora no Verão porque os dias são maiores ainda tenho tempo para surfar ao final da tarde. Caso contrário, vou ao ginásio. Faço uma alimentação adequada ao esforço e à condição física que tenho de manter. Muitas vezes as pessoas não se lembram, mas a maior parte do tempo de surf não é em cima da prancha é a remar, por isso, uma boa resistência física é essencial, sobretudo em condições de mar mais agrestes, em que é preciso estar sempre a remar contra a corrente.

 

Viajar é uma das coisas boas do surf?

Felizmente já tive a oportunidade de conhecer todos os continentes. É realmente uma das mais-valias de competir, pois os campeonatos internacionais são em vários sítios e faz parte da evolução de um surfista viajar muito, para lugares onde as ondas e os surfistas são diferentes. Nem sempre me apetece viajar, fico farta de aviões e aeroportos, sobretudo quando existem muitos campeonatos seguidos em sítios muito afastados, que obrigam a viagens de mais de 24 horas. Mas se fico em Portugal algum tempo volta rapidamente o "bichinho" de ir procurar ou reencontrar novas ondas, sobretudo de água quente em que possa surfar sem precisar de vestir o fato.

 

Do que sente mais saudades quando está fora?

Da comida portuguesa, sem dúvida. Se os meus pais viajassem comigo não tinha esse problema. Não tenho muita paciência para cozinhar, sou muito preguiçosa nesse aspecto. Tenho saudades também de estar em família e com alguns amigos. E estar num sítio que não se conhece, sempre numa situação transitória, onde falta este ou aquele pormenor a que se está habituada também cansa.

 

Já apanhou algum susto enquanto estava no mar?

Poucos. Nada de especial. Às vezes achamos que ficámos muito tempo debaixo de água, mas afinal só passaram cinco segundos. E, claro, os alertas de tubarão. Uma vez, na Austrália uma senhora começou a gritar ao meu lado "shark, shark" e eu assustei-me tanto que nem olhei e saí logo da água. Mas, afinal era um tubarão muito pequeno, daqueles que não fazem mal e voltei outra vez para dentro de água. De vez em quando lá raspo num fundo de coral. Uma vez mergulhei de cabeça num sítio que não conhecia, quebrei uma regra de segurança básica, e fiquei com a cara feita num bolo porque o fundo, felizmente de areia, afinal estava mesmo ali.

 

O mundo ficou em choque com a morte de Andy Irons e especulou-se muito sobre os abusos (álcool e drogas) que existem nos bastidores do surf…

Sou muito distraída e ingénua. Não estou nada dentro dessa realidade. Há pessoas que são menos discretas e percebe-se logo, não têm cuidado nenhum e esquecem-se que são exemplo para muita gente. A morte de Andy Irons trouxe um lado negativo ao surf, aquela ideia de que o surf é só festas e boa vida. Isto é completamente errado, mas é o que muita gente pensa.

 

Qual foi, até agora, o ponto alto da sua carreira?

Aos 17 anos fui campeã nacional Open e 4.ª classificada do Circuito Europeu Júnior. Tive uma boa época e acho que foi quando esse ano acabou que comecei a impor a mim própria objectivos mais altos e fazer a minha vida em função disso. Desde então o que tenho procurado é que esse ponto alto se reflicta mais na minha carreira internacional, mas não é fácil a passagem do circuito nacional para o mundial.

 

Quais os principais objectivos para os próximos tempos?

Estar em forma e fazer boas prestações em cada campeonato. O ano passado correu-me muito mal a nível internacional, simplesmente não conseguia fazer surf e acho que se deveu ao facto de me pressionar a mim própria e querer fazer tudo bem em vez de pensar campeonato a campeonato.

 

Tem sido fácil conjugar a vida de surfista com a vida académica?

Mais ou menos. Já devia ter acabado a licenciatura no ano passado, mas não aconteceu. Vou fazendo as coisas devagar, ao meu ritmo. Mas tenho procurado manter a vida académica porque me ajuda a ter mais disciplina e porque é bom manter oportunidades em aberto.

 

Porquê Gestão?

Boa pergunta, também não sei. É mais fácil de conciliar com a vida que levo em comparação com Fisioterapia, por exemplo, que talvez venha a fazer um dia. De qualquer maneira a formação que se tem é sempre útil, qualquer que seja a minha opção mais tarde.

 

É fácil conciliar o surf com a sua vida pessoal?

Sim. Como tudo na vida, tem as suas dificuldades, mas até hoje não fui obrigada a prescindir de nada.

 

Actualmente tem namorado. É fácil encontrar alguém que compreenda a sua vida e as ausências que a carreira obriga?

Fácil não é, mas felizmente estou rodeada de pessoas que me apoiam e percebem as minhas opções de vida.

 

É daquelas mulheres que sonha com o casamento e com o vestido de noiva?

Sim. Quero um casamento de três dias num sítio onde os meus amigos e família se divirtam ao máximo. E já agora um anel com um diamante se não nem vale a pena (risos).

 

Quer ter filhos?

Sim, quatro ou cinco.

 

Como imagina a sua vida daqui a 20 anos?

Imagino-me a ir para a praia com os meus filhos de prancha na mão. Quero ser uma daquelas mães fixes que apoiam os filhos em tudo mesmo que decidam jogar ténis em vez de praticarem surf.

 

Texto: Bruno Seruca; Fotos: Luís Baltazar; Produção: Romão Correia; Maquilhagem e cabelos: Ana Coelho com produtos Maybelline e L´Oréal Professionnel 

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