José Mourinho
O outro lado do “Zé de Setúbal”

Famosos

Treinador regressou à sua cidade para inaugurar uma exposição, que abre as portas da sua intimidade

Qui, 04/04/2013 - 23:00

Polémico. Irreverente. Líder. Sem papas na língua. E para muitos o melhor treinador do mundo. Assim é José Mourinho. Ou dito de outra forma, isto é apenas aquilo que o treinador do Real Madrid dá a conhecer de si enquanto treinador e uma das figuras públicas mais mediáticas do mundo. Mas há muito mais para descobrir em José Mourinho, o mais famoso cidadão setubalense. Num momento de rara exposição pessoal, o “Zé de Setúbal” regressou à cidade que o viu nascer para inaugurar a exposição José Mourinho – 50 Anos que celebra a sua vida pessoal e desportiva.

Sempre com o segurança

Pontual, o treinador chegou ao antigo Quartel do 11, local onde a mostra estará patente até ao dia 26 de maio, na companhia do inseparável segurança que acompanha a família há muitos anos. Apesar de estar na sua cidade de eleição, o técnico não dispensa a companhia do homem que está sempre ao lado dos familiares mais próximos. No local, José Mourinho esqueceu os mind games que o caracterizam e deu a conhecer um pouco mais da sua intimidade. “Não estou no meu habitat natural. Gosto é de treinar e jogar. As homenagens tocam-me fundo e eu não gosto de não controlar as minhas emoções”, começou por dizer minutos depois de ter visto a exposição pela primeira vez. “Está muito gira”, disse assim que concluiu a visita.

O “Zé de Setúbal”

Setubalense com orgulho, o treinador elogiou a sua terra. “Setúbal é especial para mim, porque é o único local onde me tratam como gosto de ser tratado. Gosto que não me chateiem quando vou na rua. Gosto que me chamem Zé. Gosto de fazer aquilo que as outras pessoas fazem. Sou uma pessoa normal cuja vida profissional me levou numa certa direção”, referiu sorridente. Aliás, o principal motivo que levou o Special One a aceitar revelar o lado íntimo da sua vida está relacionado com as pessoas de Setúbal. “Disse que sim à exposição, sobretudo pelos miúdos setubalenses que têm sonhos. O meu era este. Quero que pensem que é possível alcançar os sonhos”, explica.

Porém, não foi fácil para José Mourinho abrir mão de alguns troféus que conquistou ao longo da carreira e, sobretudo, de imagens e diversos objetos pessoais, como é o caso das fotos do seu casamento com Matilde, no dia 25 de março de 1989. “Os meus objetos são dos meus filhos e dos meus netos. E aquilo que é dos meus filhos e dos meus netos não é de mais ninguém”, conta. “Agora, em situações como esta é um orgulho grande para mim, porque sei que Setúbal vibra com aquilo que de bom me acontece e que sentem aquilo que de mau me acontece. Aquilo que tiver que compartir será sempre com Setúbal”, acrescenta, deixando uma palavra de especial apreço à mulher. “Quero agradecer à minha mulher, a guardiã destes objetos”, disse.

A melhor taça de todas e a foto inesperada

Na exposição podem ser vistos troféus conquistados enquanto treinador do Porto, Chelsea, Inter Milão e também Real Madrid, o seu atual clube. Podem ser visto objetos como a primeira braçadeira de treinador principal, que usou quando treinava o Benfica ou ainda o famoso sobretudo que vestiu na noite em que o Porto eliminou o Manchester United, no campo dos ingleses. Porém, não é isto que José Mourinho destaca na exposição. Para si, a taça mais importante é uma muito mais pequena do que as outras, oferecida pelos filhos e onde se pode ler “Pai és um campeão.” “É a melhor de todas”, assume com orgulho e emoção.

A esta junta-se uma fotografia da autoria da filha, Matilde, de 16 anos. “Foi uma surpresa acabar a exposição com uma fotografia da minha filha. É uma fotografia nossa, é diferente, de casa, que não é conhecida”, explica, acrescentando que a filha é uma das fotógrafas oficiais da família. “É a mais habilidosa. Comparte com a mãe essa função eu e o irmão compartimos a paixão pelo futebol. São elas que registam os momentos de casa. É uma fotografia que os entendidos podem avaliar, mas parece-me com talento. Mas, é igual. Com ou sem talento é uma fotografia de que gosto muito”, explicou, aproveitando para falar sobre o porquê de apreciar tanto a privacidade. “Somos uma família fechada. Aprendemos a fechar-nos exatamente para tentar manter essa privacidade que o mundo nos tenta tirar, no bom sentido”, conta José Mourinho, na qualidade de homem de família.

O próximo destino

José Mourinho aproveitou ainda a ocasião para agradecer à mulher, Matilde, e aos filhos, Matilde e José Mário, de 13 anos, o facto de andarem consigo para todo o lado ao longo da carreira. “Tenho um espírito aventureiro, mas não é fácil para a minha família ter sempre de me acompanhar. Para mim é muito mais fácil do que para eles”, diz. É um dado adquirido que no final da época Mourinho deixará de treinar o Real Madrid. O treinador deixou pistas quanto ao seu futuro que deverá passar pelo regresso a um dos campeonatos onde já treinou. “Vamos ver o que vai acontecer. Não é fácil um novo destino. Talvez tenha de ser repetido”, disse entre risos.

Por fim, o treinador assume que ainda há muito para conquistar e deixou um desafio à Câmara Municipal de Setúbal. “Ainda não cheguei a metade. Ainda falta muito e se quiserem podemos repetir daqui a alguns anos”, refere, aproveitando para dedicar algumas palavras a quem o acusa de não ajudar ninguém. “Há uns tempos li uma crítica de um senhor que dizia algo como o Mourinho a Setúbal dá pouco ou o Mourinho ao Vitória de Setúbal não dá nada. A esse senhor só queria dizer que a minha educação católica foi no sentido de que a caridade e o bem que fazemos aos outros deve ser anónima e não publicitada”, esclarece. Quanto aos troféus que deseja acrescentar a uma nova mostra, José Mourinho não tem dúvidas. “Espero um dia poder ganhar alguma coisa com a Seleção Portuguesa”, conclui. É certo que José Mourinho enquanto treinador conquista a simpatia de quem gosta de si à mesma velocidade que ganha algumas inimizades. Porém, é um dado adquirido que é mesmo especial. A prova disso mesmo é que a inauguração da exposição contou com a presença de jornalistas portugueses, espanhóis, ingleses e até orientais.

Texto: Bruno Seruca; Fotos: Filipe Brito

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