José Da Câmara
O Natal tradicional do fadista

Famosos

Fadista celebra ao lado da mulher, Joana, e dos três filhos o nascimento de Jesus Cristo nesta quadra

Sex, 30/11/2012 - 0:00

 José da Câmara, de 45 anos, celebra um Natal tradicional com a mulher, Joana, de 42, e os três filhos, Maria Domingas, Vasco e José do Carmo, de dez, 11 e 13 anos respetivamente. Vão sempre à Missa do Galo e fazem a ceia na casa dos pais do fadista, na Graça, em Lisboa. O almoço é na casa dos seus sogros. Este é o segundo Natal que José da Câmara passa sem a sua mãe.

É na quinta da família, em Borba (Alentejo), que vão celebrar o Natal, mantendo a tradição?
José da Câmara – Enquanto a minha mãe estava viva, era em Borba que festejávamos o Natal. Mas desde há dois anos a esta parte tudo se passa em Lisboa. É mais cómodo para o meu pai e mesmo para nós, pois costuma estar muito frio. Para a minha mãe podiam estar 20 graus negativos que nunca se negava a ir para o bosque, era outro sangue. Mas Borba continua a ser o nosso local de eleição.

Como costumam festejar a quadra?
Missa do Galo e almoço de dia 25 com a família da Joana, ou seja, em casa da minha sogra. O jantar de dia 25 é em casa dos meus pais, na Graça, onde o meu pai junta os seis filhos e quase todos os netos, visto alguns estarem fora do País. É bom ver a cara de alegria do meu pai quando vê entrar a família toda e, de repente, tem dois ou três netos ao seu colo, a quem começa logo a contar histórias.

Tendo a família uma grande tradição musical ligada ao fado, também cantam na noite de Natal? Quais são alguns dos temas preferidos da família?
Nessa noite, o fado fica de lado para dar lugar aos bonitos cânticos de Natal que filhos, sobrinhos e as minhas irmãs cantam maravilhosamente. Começa sempre com os netos a entrarem na sala a seguir ao jantar, cantando: “Entrai pastores, entrai”. Aí, cada um canta o que sabe. Depois juntam-se todos e começa o grande espetáculo. Modéstia à parte, são momentos fantásticos. É claro que depois, com a lareira acesa e um tinto na mão, há sempre quem comece a cantar fado.

O seu filho José do Carmo, pelo que sei, estava no conservatório em guitarra portuguesa e também canta fado. Planeiam alguma surpresa juntos para este Natal?
Deixou este ano o conservatório. Quanto a cantar fado, é como os irmãos, só quando lhe apetece. Não faço nada programado com eles, porque senão corre mal, mas quando lhes dá para cantar, não se calam. Claro que cantam fado, mas outras músicas também fazem parte do repertório.

E por falar em música, estreou-se este ano como locutor de rádio. Conduz o programa Casa de Fados, na Rádio Sim. Como surgiu a oportunidade e como está a correr?
Tinha um projeto com o Zé La Féria e a Dina Isabel, e estava tudo muito bem encaminhado, mas o coração do Zé pregou-nos a todos uma partida. Parou! Perdeu-se um grande amigo e profissional. Um mês depois, falei com a Dina, que me confidenciava que estava com muito trabalho, pois iria apresentar o Casa de Fados todos os dias. Propus-lhe que fosse eu a fazer, embora nunca tivesse feito rádio. Disse-lhe que era um sonho de criança, pois o meu avô João da Câmara tinha sido locutor da Emissora Nacional e, portanto, era algo que ambicionava fazer. A Dina Isabel, diretora da Rádio Sim, disse-me para aparecer na semana seguinte para fazer uns testes. Fui recebido pela coordenadora da Rádio Sim, Elisabete Costa, de uma forma simpática, mas li-lhe nos olhos: “Se vem para aqui armado em fadistinha, não tem sorte nenhuma.” Tentei fazer o meu melhor e veio a boa-nova.

O seu pai (Vicente da Câmara) também foi radialista.
O radialista foi o meu avô, embora o meu pai tenha feito uns programas de rádio há muitos anos.

O seu pai é uma inspiração para si?
O meu pai é um grande exemplo de homem, marido, pai e profissional. Com ele tento aprender a melhor maneira de passar pela vida, mas não é fácil, porque sinto que para lhe chegar aos “calcanhares” ainda faltam séculos. Mas tem sido sempre a pessoa que me deu apoio em todos os projetos da minha vida, dando-me coragem para seguir em frente. Tem sempre a palavra certa no momento certo. Quando o meu filho mais velho estava para nascer, confidenciei-lhe que não sabia se tinha condições financeiras. O meu pai disse: “Quando uma criança nasce, traz sempre um pão debaixo do braço.” Vieram logo mais dois filhos.

Este é o segundo Natal que passa sem a sua mãe. A quadra perdeu alegria para a família?
Totalmente! Se o Natal é também família, então a mãe é pedra fundamental. E no caso da minha mãe ainda mais, pois era responsável por ter sempre a casa cheia de gente e alegria. A minha mãe não gostava de ter a casa com pouca gente, fosse em que época fosse. Era sempre ela que organizava tudo. Claro que no Natal era especial e começava a organizar tudo com um mês de antecedência. Ficava tudo perfeito. Mas, curiosamente, todos nós sentimos a minha mãe muito presente, o que traz a alegria de volta.

Saúde, paz e amor: acha que é cada vez menos um cliché e é, de facto, o presente ideal para se ter no sapatinho nos nossos dias?
Nem mais! O Natal sempre foi isso, ou seja, sempre achei que o Natal é, acima de tudo, o festejo do nascimento de Jesus Cristo. Claro que é bom nesta data receber e dar um presente, mas nas últimas décadas foi-se substituindo a essência do Natal por uma autêntica feira de consumismo. Pelo menos, que a crise sirva para se voltar a olhar para o Natal tal como ele é: saúde, paz e amor e o festejo do nascimento de Cristo.

Vivemos atualmente uma grande crise. De que maneira acha que esta conjuntura pode afetar o seu Natal?
A crise é financeira, porque também existe uma grande crise de valores. Esta conjuntura não me vai afetar neste Natal porque, graças a Deus, tenho saúde, família e amigos. Chega e sobra! Só afetará a quem acha que o Natal são presentes, presentes e presentes, o que, como já tive a oportunidade de dizer, não é o caso da minha família.

Os seus filhos estão conscientes desta realidade?
Claro. Há muitos anos que os meus filhos sabem que não podem ter muita coisa, mas também sabem e cada vez dão mais valor à família e aos amigos. Insisto na família, coisa de que alguns dos nossos governantes têm, nos últimos anos, tentado dar cabo. Tudo têm feito para que as famílias sejam cada vez menores, para que o divórcio seja mais simples, para que quem é casado pague por vezes mais impostos do que aqueles que não são. É inevitável que todos os dias as dificuldades batam à porta dos meus filhos. O importante é como eles contornam as dificuldades e isso tem muito a ver com a educação que lhes damos.

Em termos profissionais, já está a preparar um novo disco depois de Emoções – José da Câmara Canta Roberto Carlos?
Já. Estou a preparar um disco só de fados tradicionais com poemas originais. Sairá no princípio do próximo ano.

Texto: Helena Magna Costa; Fotos: Paulo Lopes; Produção: Romão Correia; Cabelo e maquilhagem: Ana Coelho com produtos Maybelline e L’Oréal Professionnel

Siga a Revista VIP no Instagram