Manuel Luís Goucha
“O Estado não pode deixar morrer as pessoas”

Famosos

Revoltado, defende que a vida humana não tem preço

Qui, 12/02/2015 - 0:00

Não é a primeira vez que se manifesta, pública e veementemente, sobre o Sistema Nacional de Saúde (SNS) e as injustiças causadas pelas desigualdades sociais, tanto no programa Você na TV como no seu blogue pessoal. Mas a morte da doen­te de 51 anos que esperava por um tratamento inovador para a hepatite C mexeu de tal forma com Manuel Luís Goucha que o apresentador voltou a escrever um texto intitulado “Um país ou um campo de concentração?”, no seu blogue pessoal, O cabaré do Goucha. 
 
Contactado pela VIP, reagiu de forma efusiva, visivelmente revoltado pelo que considera um atentado à vida humana. “Acho que o Estado e o Ministério da Saúde têm o dever de cuidar da saúde das pessoas, nomeadamente, das pessoas que trabalharam, trabalham, descontam para o SNS. O SNS, tal como está, é capaz de ser inviável. Pois, reformule-se, cumpra-se o défice, mas não pode ser à custa de vidas humanas, a vida humana não tem preço”, diz, realçando que não aceita ser “apenas” um número de contribuinte. “O que pergunto é qual é o preço que a vida humana tem para quem nos governa desde 1974. Nós sabemos que o Estado está nas lonas, devido à má governação de todos durante 40 anos, mas nós pagamos pela nossa saúde, pagamos impostos, portanto, não me passa pela cabeça que haja um país onde as pessoas morrem porque não se compra um medicamento. Com certeza que tem um preço muito elevado, mas corte-se noutras coisas. Não podemos é deixar morrer as pessoas. As pessoas são mais do que um número fiscal.” 
 
Contra as desigualdades sociais 
 
Aliás, exemplifica com o facto de a mãe, Maria de Lourdes, ter passado por um cancro da mama no ano passado e acredita que, se fosse no SNS, a progenitora ainda hoje estaria à espera de tratamento. “A minha mãe teve um cancro da mama e porque tenho acesso a um hospital privado, ela matou o cancro em 15 dias. Ela tinha 91 anos e tinha um cancro de mama que tinha de ser extraído. Ela tinha de fazer uma mastectomia unilateral e eu não acredito que no sistema público fosse operada. Quer que seja sincero? Não acredito que ela, aos 91 anos, não ficasse em lista de espera alguns anos. Alguém se preocupa com os velhos neste País? Preocupo-me eu, porque para lá caminho!” Precisamente por saber que é um privilegiado, este assunto mexe ainda mais com ele. “Eu tenho alternativas, não vou à urgência do hospital público porque vou a um hospital privado, tenho um seguro de saúde, tenho alternativas. Mas a maior parte dos portugueses não tem, paga pelo Serviço Nacional de Saúde. O SNS é uma joia da democracia e tenho muita pena do que está a acontecer, porque gosto de políticos, gosto da política no sentido nobre da palavra, mas entendo que esta política autista não tem em consideração a dignidade humana.”
 
Apesar de tudo, Manuel Luís Goucha não tem medo de envelhecer, até porque ainda se sente muito jovem. “A ideia de envelhecer só me assusta se eu ficar dependente. Nisto saio à minha mãe, sou muito independente e, portanto, percebo perfeitamente que ela queira ficar na casa dela, com as suas regras”, diz, acrescentando: “Assusta-me ficar dependente, mas se continuar a envelhecer com esta qualidade, com a  genica que tenho e com a saúde que tenho, não me assusta. Mas a vida é um equilíbrio instável e tudo pode mudar de um momento para o outro. E se eu precisar, o SNS tem de cuidar de mim porque pago os meus impostos, e pago muito! Mas isso aplica-se a mim, que pago muito, a outros que pagarão mais, e aplica-se à maioria que paga muito menos porque recebe muito menos e, portanto, tem o mesmo direito”, remata. 
 
Texto: Elizabete Agostinho; Foto: Impala 

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