Humberto Bernardo
“Não tenho saudades da televisão”

Famosos

Há 18 anos que a RTP não era líder num domingo à noite. Na altura, era o apresentador. Agora, quebrou um longo silêncio para a VIP

Qui, 05/03/2015 - 0:00

Got Talent Portugal, programa da RTP visto por um milhão e 259 mil espectadores, venceu o Desafio Final da Casa dos Segredos, da TVI, há duas semanas. A última vez que isso tinha acontecido foi a 23 de março… de 1997. O grande vencedor foi o programa Os Principais, conduzido por Humberto Bernardo, visto por um milhão e 456 mil pessoas. “Passados 18 anos, ainda estamos a ganhar. Mas nessas duas horas em direto, absolutamente extraordinárias, aconteceu de tudo: o piano furou o palco, a câmara do meu teleponto caiu e tive de pedir ao operador de câmara à mão para fazer o pivô”, reagiu o ex-apresentador, de 42 anos. Quando foi ao casting para Os Principais, Nuno Artur Silva, adjunto de Joaquim Furtado, insistiu muito para que fosse Humberto Bernardo o escolhido, mas o produtor, José Nuno Martins, não estava muito convencido. “Não conhecia nenhum. Entrei ali de paraquedas. Era um miúdo com 26 anos mas, como já tinha feito um programa muito popular – Não Se Esqueça da Escova de Dentes –, já tinha noção daquele impacto.” E continuou: “Ainda hoje, e apesar de não fazer televisão há dez anos, as pessoas reconhecem-me no táxi ou no supermercado. Quando comecei em televisão, ficava um pouco envergonhado quando as pessoas me abordavam e não tinha a melhor reação. Até que aprendi com amigos ‘reconhecidos publicamente’ que o melhor era ter fair-play e encarar isso com naturalidade. Por exemplo, não gostava de estar num restaurante e as pessoas abordarem-me. Não gostava. Mas aprendi a lidar com isso. Ainda há pouco tempo, na discoteca LUX, veio um miúdo ter comigo e disse que eu era o ídolo de infância. É surpreendente.”
 
Humberto Bernardo deu-se a conhecer como ator em 1992, no Jornalouco, e em 1994 surgiu como apresentador do Tudo ou Nada. Tal como em Os Principais, foi fazer um casting e houve uma divergência curiosa. “Cheguei, o António Reis é que estava a monitorizar e eu decidi não lhe dar a mais pequena atenção. Arrisquei tudo para ver se eles me dariam o direito à diferença. Mas foi tudo de forma inconsciente. Tinham de aceitar que fosse um pouco diferente. Contaram-me depois que o António Reis e o Carlos Coelho da Silva, o realizador, é que decidiram que ficasse. A Teresa Guilherme é que não estava muito convencida, mas aceitou. E acabou por vender a ideia ao Emídio Rangel, que também não estava muito convencido”, relata. Curiosamente, o Tudo ou Nada também liderou o segmento infantil. “Foi uma grande vitória para a SIC, que não liderava em nenhum segmento”, diz. 
 
O ex-apresentador foi ainda fundador da companhia amadora Teatro Aprendizagem e cantava na banda Badamecos. Teve depois um boom mediático com o programa Não Se Esqueça da Escova de Dentes, mas o maior impacto aconteceu com Os Principais. “Isso não há dúvida. No outro, eu era assistente. Preparava o público, tínhamos de combinar todas aquelas frases e foi por isso que a Teresa Guilherme me convidou. O Emídio Rangel não queria, mas a Teresa fez força. Já eu disse-lhe que o melhor era o João Ricardo, um grande ator e que foi meu professor”, acrescenta. 
Não fala com Teresa Guilherme há alguns anos, mas se a encontrasse, iria ter uma conversa agradável. Aliás, se se cruzassem agora, perguntar-lhe-ia porque é que não está a produzir. “É uma produtora absolutamente fantástica. As pessoas não têm noção. Faz falta e é importante ter competência no sítio certo”, acrescenta Humberto Bernardo.
 
Será que o ex-apresentador não tem saudades da televisão? “Nenhumas. Nem saudades, nem rancor, nem ternura. A vida é assim. Nunca digo que é impossível, mas olhando para o panorama e para as minhas características pessoais, era uma grande improbabilidade surgir algo em que me sentisse bem e realizado”, explica. Por agora, vai fazendo consultoria em comunicação empresarial e institucional. E colabora com uma empresa de música erudita, a MusiCâmara, que também agencia alguns agrupamentos. “Sinto-me realizado profissionalmente. E o bom na realização profissional é isto: quando se começa uma etapa – como aquela em que estou agora – temos de pensar que o céu é o limite. Tive a sorte de, profissionalmente, chegar sempre ao topo e, como sou um pouco irreverente, quando chego ao topo, parto para uma nova aventura. Aos 25 anos, cheguei ao prime time. Só tive pena que o entretenimento me tirasse a parte da representação.” Recentemente, Humberto Bernardo voltou a estudar e matriculou-se em Estudos Artísticos, na Faculdade de Letras. “Tirei agora o primeiro ano. Gosto muito de escrever e tenho de ter alguns instrumentos académicos para o fazer. Não quero nada mais do que isso. Aprendo muito e a vantagem é que os meus colegas não eram nascidos quando eu comecei a trabalhar em televisão. Deviam ter uns dois ou três anos quando apresentava Os Principais”, termina, bem-disposto.  
 
 
Texto: Humberto Simões; Fotos: Paula Alveno

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