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“Não sei o que é ser infeliz no trabalho”

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Por paixão à cozinha, chefe CORDEIRO vive longe da família e faz pratos com os quais sonha à noite
A genuinidade e a adrenalina que usa diariamente na sua cozinha reflectem–se também no modo de vida e na personalidade do chefe Cordeiro. O júri do Masterchef recebeu a VIP na sua “casa”, o restaurante Feitoria, no Altis Belém Hotel & Spa.

Sex, 26/08/2011 - 23:00

A genuinidade e a adrenalina que usa diariamente na sua cozinha reflectem–se também no modo de vida e na personalidade do chefe Cordeiro. O júri do Masterchef recebeu a VIP na sua “casa”, o restaurante Feitoria, no Altis Belém Hotel & Spa. De origem transmontana, o chefe veio para Lisboa há quatro anos e continua a dividir a vida entre a capital e o Porto, onde ainda vivem a mulher e a filha. Apaixonado pela gastronomia tradicional, a estrela Michelin conquistada em 2005 e 2006, na cidade de Amarante, apenas serve para o incentivar a procurar cada vez mais qualidade para fazer o que mais gosta: seduzir quem se senta à sua mesa.
 
Como está a correr a experiência de Masterchef?
Está a correr muito bem, porque gosto de tudo o que é nacional. No concurso, a parte da escolha dos pratos ficou entregue aos três membros do júri e puxámos para que tudo fosse português. Foi muito cansativo, mas acho que está a ser um sucesso. Gostei muito da experiência.
 
Sente-se tão à vontade à frente das câmaras como à frente dos tachos?
Sim, porque quem está ali é o chefe Cordeiro, eu não sou actor. Quando as pessoas dizem que sou muito mau, acho que não é verdade. Eu sou assim, sou exigente. Acho que em todas as profissões temos de ser exigentes connosco e depois com os outros.
 
É assim na vida, também?
Acho que para conseguirmos alguma coisa temos de trabalhar. Estou há 44 anos à espera que me saia o Euromilhões e não sai. Isso é ter sorte. O resto não é sorte, é trabalho. Temos de nos interessar, de nos aplicar, de lutar por aquilo que queremos, de ter um objectivo na vida.
 
Encontrou talento entre os concorrentes?
Temos oito a dez concorrentes entre os quais é muito difícil escolher. Temos de ir ao pormenor da confecção, porque o resultado final é muito bom; fico muito feliz por ver que, entre amadores, é possível ter este nível de qualidade. Isso não significa que possam ser chefes, porque a cozinha que se faz em casa é diferente da pressão que existe num restaurante, mas confeccionam muito bem qualquer tipo de prato. Fiquei estupefacto com o nível dos pratos tradicionais, deixaram-me arrepiado.
 
O que é preciso para ser um bom chefe?
Antes de mais, é preciso ter alguma pancada. Não é qualquer pessoa, no seu perfeito juízo, que vai para cozinheiro, é uma profissão muito pesada. Trabalhamos sábados e domingos e quando as outras pessoas estão a divertir-se, nós estamos a trabalhar para que sejam bem servidas. Não há horários, não podemos usar relógio, e a família acaba por sofrer isso, mas é uma profissão muito bonita. O maior gozo que tenho é ter alguém sentado no meu restaurante, num jantar de comemoração de algo, e sentir no fim que ficaram deliciados. É isso que procuro e por isso estou aqui sempre. Costumo dizer que esta é a minha casa.
 
Disse que a família fica prejudicada, costumam cobrar-lhe isso?
Eu sou casado, tenho uma filha de 14 anos, mas elas vivem no Porto. Só vou lá ao fim-de-semana. Eu podia trazer a minha família para cá, mas a verdade é que ficavam lá os meus pais, portanto teria de ir lá na mesma.
 
Não é difícil gerir um casamento à distância, principalmente com uma filha adolescente?
Mais ou menos. Quando me casei, avisei a minha mulher de que a minha vida seria assim, sempre houve distância. Às vezes reclamam quando estou algum tempo sem ir a casa, duas ou três semanas, mas esta não é a única profissão em que isso acontece, há centenas de pessoas que trabalham em Lisboa e regressam a casa todos os fins-de-semana. Temos de aceitar e viver em função disso.
 
Elas não ponderam a hipótese de vir para Lisboa?
É provável que isso venha a acontecer, considerando que daqui a uns anos a minha filha entra na faculdade. Eu adoro o Norte, o meu pai é de Miranda do Douro, a minha mãe é transmontana, adoro as pessoas do Norte, é a minha gente. Estou em Lisboa há quatro anos e também gosto muito de Lisboa, mas as pessoas são de facto muito diferentes.
 
Quando descobriu que queria ser chefe?
Apesar de ter sofrido muito na altura em que regressámos de Angola, onde nasci, tenho a sorte de ter nascido em berço de ouro, mas a criação que me deram foi sempre no sentido de, se queria alguma coisa, ter de trabalhar para o conseguir. Mas a apetência para a cozinha nasceu em casa. A minha mãe cozinha muito bem e sempre tive uma enorme apetência pela culinária. Um dos nossos fornos antigos tinha um vidro e eu passava horas a olhar para os bolos a crescer. Para mim era magia. A minha mãe explicava-me tudo e comecei a inventar muito cedo. Aos oito anos fazia bolos de bacalhau. Depois usei isso para andar pelo Mundo fora.
 
Que prato prefere confeccionar e que prato prefere degustar?
Tudo. Tudo o que for bem feito e desde que o produto tenha qualidade, gosto de tudo. Acho que para ser um bom chefe temos de gostar de comer e de provar tudo. No meu caso, nota-se! Costumo dizer que o único prato de que não gosto é de porrada. Sento-me, bebo o meu vinho, é a minha maior satisfação, principalmente se for em boa companhia.
 
Quando faz esses jantares de família, ou entre amigos, é você que cozinha?
Em casa, raramente cozinho. Mas às vezes sim. Quando estou na cozinha gosto de estar sozinho, não quero lá ninguém. Abro uma garrafa de vinho, vou bebericando e, quando está pronto, chamo toda a gente para a mesa.
 
O que gosta de fazer nos tempos livres?
Gosto muito de pescar. Tanto na pesca como na cozinha, parece que estou noutro mundo. Também tenho a mania, de manhã, de ir experimentar calmamente um prato com o qual sonhei. Eu sou cozinheiro por paixão, isto é o melhor que podia acontecer-me na vida. Não sei o que é ser infeliz no trabalho ou estar na profissão errada. Quando fazemos o que gostamos, tudo flui positivamente.
 
Texto: Elizabete Agostinho; Fotos: Bruno Peres; Produção: Manuela Costa; Maquilhagem: Ana Coelho com produtos Maybelline e L'Oréal Professionnel

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