Isabel Palmela
“A minha vida não é andar nos jantares e nos cocktails”

Famosos

A filha do antigo duque de Palmela abriu o coração à VIP e falou sobre as viagens que fez, a educação que recebeu e os valores que defende.

Sex, 10/02/2012 - 0:00

A filha do antigo duque de Palmela abriu o coração à VIP e falou sobre as viagens que fez, a educação que recebeu e os valores que defende. Mas acima de tudo, a forma como teve de se adaptar a um novo estilo de vida, bem mais simples do que aquele que teve desde o berço. “Era um mundo onde gostei muito de estar, mas via-se que era uma coisa temporária. Sempre achei isso.”

VIP – Viveu no palácio que é hoje a Procuradoria-Geral da República…
Casei lá. O meu pai nasceu lá e também lá vivi. É uma casa linda! Agora vivo num andar pequeno que a minha mãe me deu, onde estou profundamente tranquila, feliz, onde recebo os meus amigos. Sinto-me lá muito bem.

Como foi a sua educação?
Foi a minha bagagem para tudo. E tanto a minha mãe como o meu pai davam-se com todas as pessoas, porque ambos são o oposto das vaidades. Isto sim, é educação. Os meus pais deram-nos sempre uma educação de valores, a mim e aos meus irmãos – porque tive um que morreu –, que nos marcou muitíssimo para o resto da vida. Por isso, lhes estarei sempre agradecida. Ao meu pai, que era um encanto, de uma grande simplicidade, e à minha mãe, que é uma mulher muito inteligente e sempre muito preocupada com o próximo. Juntos deram-nos uma “bagagem” para a vida. Tão depressa estamos bem numa casa de duas divisões, como em casas ótimas como aquelas em que vivemos. Não me fez diferença alguma.

Certamente os valores que lhe foram passados pelos seus pais, foram os que transmitiu à sua filha.
Completamente! E tento dar o exemplo em tudo. Dou-me muito com ela e com os meus netos (três) e transmito-lhes os meus valores, até ao meu genro. Isso é fundamental, senão anda tudo ao contrário. Tudo é admitido, tudo é normal, mas há coisas nas quais eu não cedo. Não sou nada antiquada, sou moderna, mas há valores dos quais não prescindo. Fazem parte da minha maneira de ser, da minha família. Os meus netos ainda são muito pequeninos, mas já percebem isso.

Gosta do papel de avó?
Adoro. Vou com eles para todo o lado. Não troco por nada. É impressionante como 30 anos depois faço com os meus netos exatamente o que fazia com a minha filha. Recebo-os do colégio, dou-lhes o lanche – eles assim que me veem vão logo à minha bolsa à procura do lanche da avó. Não troco por nada. Quando estava a trabalhar a tempo inteiro não acompanhei tanto este crescimento, mas agora com o bebé desfruto ao máximo. Vamos aos parques, almoçamos e não mudo isso por nada. Sempre que posso estou com eles.

Viveu em Luanda, Londres e Madrid… Ainda viaja muito?
E também vivi no Porto. Adorei. Agora já não pode ser… Foram outros tempos. Tenho pena, mas não devo absolutamente nada a ninguém, vivo dentro das minhas possibilidades, financeiramente não posso. Mas tenho a minha consciência tranquila, porque não devo, nem peço nada a ninguém. Desfrutei o que tinha de desfrutar. Vivi no Porto porque casei e fui para lá… Fui conhecendo imensas pessoas fantásticas ao longo da minha vida.

Quando é que a sua vida deu essa volta financeira de que fala?
Foi quando vim para Portugal, há um tempo, mas é um assunto sobre o qual não falo. Tenho a minha vida organizada.

Fale-me do seu trabalho.
Sempre adorei tudo o que fiz. Já em Madrid trabalhava de manhã numa loja de edredões de uns grandes amigos meus. Vendi imensas coisas. Quando vim para cá comecei a trabalhar como relações públicas no restaurante de um grande amigo. Daí para a frente foi sempre a trabalhar, tanto como relações públicas ou a vender em lojas. Adoro o contacto com as pessoas e gosto imenso de vender. Mas como estava muito cansada tive de parar. Como tive um problema de coluna tive de abrandar muitíssimo e, além disso, também comecei a estar com os meus netos. A minha mãe e o meu irmão questionam-se sobre como é possível eu andar sempre a correr de um lado para o outro.

Não consegue estar parada.
Está fora de questão. A minha vida não é passear, andar nos jantares e nos cocktails. Com certeza que vou a alguns de amigos, agora, a minha base não é essa. Tenho outra vida, ainda faço trabalhos quando me pedem, tenho pessoas para ajudar. Até porque agora estou a desfrutar da minha casa, porque até agora não tinha muito tempo para isso.

É uma boa dona de casa?
Faço e gosto de fazer tudo. Até para isso fui educada. Tenho a minha casa muito amorosa e onde gosto muito de receber os amigos. Não tanto como antigamente, porque já não tenho a genica que tinha (fisicamente estou muito mais cansada), mas de vez em quando ainda faço os lanches ao domingo, para não se perderem laços. Agora, a minha prioridade máxima são mesmo a minha filha e os meus netos. Mas aos domingos tento estar com pessoas de quem gosto. E estamos à vontade, sem cerimónias. Desfrutamos de coisas simples.

Falou da falta de genica… Lida bem com o passar dos anos?
Sim, porque sou muito positiva e lido bem com isso. Agora, reconheço que há idades para tudo. Tive coisas ótimas, fui a sítios fantásticos, desfrutei imenso, fiz viagens que adorei e tenho amigos por todo o Mundo.

Viveu 20 anos fora do seu País. Quando regressou era um Portugal muito diferente?
Custou-me um bocado, ainda custa. E tenho muitas saudades de viver no estrangeiro, especialmente em Espanha. De vez em quando vou lá… A vida continua.

Quem vê a Isabel Palmela numa revista e não a conhece pode pensar que é uma mulher pouco acessível…
Não, não. Sou completamente o oposto. Detesto a vaidade, o orgulho, o oportunismo. Sou igual com todas as pessoas, sou muito dada ao próximo, mas não admito uma traição. Gosto de pessoas terra a terra, adoro as da praça de Campo de Ourique, as do supermercado… Dependemos todos uns dos outros.

Como foi a sua adolescência?
Não fui nada rebelde. Sossegada. Adoro divertir-me e tiro muito partido das coisas. Desfruto de tudo. Desde um piquenique no campo, até à melhor das festas.

Tem saudades dos tempos em que podia, por exemplo, viajar mais?
Não, já tive o suficiente. E era um mundo, onde gostei muito de estar, mas via-se que era uma coisa temporária. Sempre achei isso. Gostei muito dos sítios onde fui e agradeço tudo o que me proporcionaram.

Continua a andar de transportes públicos?
Sempre. Os condutores são de uma amabilidade extrema comigo. A minha filha vive longe de mim. Só para chegar a casa dela apanho dois e três autocarros para lá e para cá. Só é pena o que se espera ao fim de semana. A minha mãe é igual, com 84 anos, e o meu pai também andava.

A falta de educação aborrece-a?
Imenso. Ainda no outro dia assisti à má criação de uns miúdos de um colégio no elétrico. Fico horrorizada! Tinham entre os dez e os 15 anos e só faltava baterem às pessoas. Isso eu não admito. Não admito aos meus netos, não vou admitir a outras pessoas.

A sua mãe continua a ser um pilar na sua vida…
Ajuda sempre quem precisa. O que ela faz pelo próximo… A minha filha está sempre a dizer que é a pessoa mais generosa que conhece. E ainda me ajuda a mim e a ela. Tem 84 anos e é extraordinária, muito prestável, sempre a pensar nos outros e muito discreta. É toda espanhola.

A sua família está ligada à criação da Sopa dos Pobres…
A minha trisavó foi a fundadora. Já viu? Tantos anos depois ainda é tão usado e cada vez é mais útil.

A crise que o País atravessa assusta-a?
Já previa isto e chamavam-me pessimista e exagerada. As pessoas estavam a viver acima das suas posses.

Ao que sei é uma mulher poupada.
Poupadíssima! Este meu casaco, por exemplo, tem sete anos. É do batizado do meu neto mais velho e é da minha querida Zara, sou grande fã e dos administradores espanhóis, que são muito meus amigos. Sou muito poupada e estimo muito as minhas coisas.

E no supermercado também olha para os preços?
Vou ao Lidl onde o atendimento é excelente, ao Dia em Campo de Ourique, onde já todos me conhecem. Dou-me bem com as caixeiras todas. Vou para as marcas brancas e tenho os preços todos de cor na minha cabeça.

Portanto não comete loucuras… Mas quando podia, cometia-as?
Não. Sempre fiz contas. E é assim que não devo nada a ninguém. Houve um grande industrial que me encontrou na rua e estivemos a falar da crise e eu disse-lhe que não devia nada a ninguém. Ele respondeu-me que essa era a minha maior riqueza, porque toda a gente deve. Nem tenho cartão de crédito e dou-me muito bem com isso.

É feliz?
Eu sou! Desfruto de tudo, especialmente das pequenas coisas e simples. 

Texto: Carla Simone Costa; Fotos: Paulo Lopes; Produção: Marco António

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